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Comissão da Verdade em Feira de Santana ouvirá vítimas da Ditadura


A Comissão da Verdade  de Feira de Santana nesta quinta feira dia 31/10  ouvirá em audiência pública pessoas que teriam sido vítimas  da repressão do regime militar instaurado no Brasil.  A cidade de  Feira de Santana, município de situado a 100 km de Salvador, será palco da primeira audiência pública da Comissão da Verdade (CEV), no auditório do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, das 9h às 18h.

O trabalho da comissão iniciará com o depoimento de oito pessoas que, à época do golpe de 1964, foram vítimas da repressão. Serão ouvidos: o atual vice-prefeito de Feira, Luciano Ribeiro, o economista Sinval Galeão, o professor Hosanah Leite, o contador Estevão Moreira, o ex-deputado federal Beraldo Boaventura, o juiz aposentado Antônio Pinto, o advogado Celso Pereira e Maria Ferreira de Santa Bárbara.

Integram a CV representantes da Arquidiocese, OAB, Uefs, Sinjorba, ABI, Conselho de Igrejas Evangélicas e MOC (Movimento de Organização Comunitária). A Comissão   levantou no município de Feira de Santana e em outros vizinhos fatos que se constituíram em violência aos direitos humanos ocorridos  nos anos que se seguiram ao golpe militar, segundo Amabília Almeida, integrante da Comissão da Verdade no estado da Bahia, “As perseguições não ocorreram apenas em Feira, onde o então prefeito Chico Pinto resistiu, foi deposto do cargo e preso. Elas também ocorreram em municípios vizinhos”, diz ela.

 Um dos políticos que mais sofreu com a ditadura porque integrante da ala autêntica do MDB e referência das esquerdas foi Chico Pinto cassado duas vezes: quando prefeito de Feira de Santana (1964) e como deputado federal (1974), por ter discursado no plenário da Câmara contra visita do ditador Augusto Pinochet ao Brasil, a convite do general-presidente Ernesto Geisel, lembra Amabília.

  Ainda segundo ela, as perseguições foram intensas em toda a região vizinha de Feira e outras mais distantes, todas na Bahia. Em Brotas de Macaúba, na Chapada Diamantina, diz ela, o ex-capitão Carlos Lamarca, que deserdou do Exército para aderir ao movimento revolucionário, foi assassinado, em 1971, numa grande operação militar na fazenda Buriti Cristalino.

   Na ocasião foi morto o estudante Luiz Antônio Santa Bárbara, integrante do MR-8, que, como Lamarca, fazia resistência ao regime militar.

                Na lista dos depoentes à Comissão da Verdade consta o economista Sinval Galeão, ele próprio coordenador da Comissão da Verdade de Feira de Santana. Quando ainda estudante Galeão criou a Frente de Mobilização Social de Reformas de Base – a grande bandeira de João Goulart que provocou resistências nas classes dominantes.

“Veio o golpe, fui preso e torturado por militares de uma tropa do Exército de Alagoas, que se deslocou para a cidade por pedido do general Juracy Magalhães”, lembra ele. “Mas não estamos buscando a revanche nem cobrando punição a ninguém. Queremos reconstituir os fatos históricos ocorridos entre 1964 e 1985, que têm poucos registros, sobretudo em Feira de Santana”.

O professor universitário Hossanah Leite, que era dirigente do Comitê do Partido Comunista (PCB) em Feira, lembra que foi detido com dez companheiros, 1972, por agentes do DOI-CODI, órgão subordinado ao Exército, e da Polícia Federal.

“Fomos presos, recambiados para Salvador, alguns de nós, inclusive eu, torturados”, recorda Hossanah, depois anistiado. “Mais do que a dor da tortura física, compara ele, a tortura psicológica perdura por toda a nossa vida”.

Feirenses perseguidos:

Luciano Ribeiro – Vice-prefeito de Feira pelo PMDB, militou ao lado do ex-prefeito de Feira, Chico Pinto, que era do velho MDB. Foi vereador e deputado estadual preso pelo regime militar.

Sinval Galeão – Formado em Economia, era estudante à época do golpe e presidiu a Frente de Mobilização Popular Pelas Reformas de Base.

Hosanah Leite – Ex-bancário é economista e professor universitário. Foi dirigente do PCB, o Partidão, em Feira de Santana.

Estevão Moreira – É contador. À época dos governos autoritários militava politicamente junto a sindicatos e entidades de classe.

Beraldo Boaventura – Estudante no período da repressão, foi deputado federal e hoje atua na área de meio ambiente.

Antonio Pinto – Irmão do ex-prefeito Chico Pinto, foi secretário municipal na sua administração. Atualmente é juiz aposentado.

Celso Pereira – Assessor do governo de Chico Pinto, é advogado e presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB de Feira de Santana.

Maria Ferreira de Santa Bárbara – Mãe do estudante Luiz Antonio Santa Bárbara, integrante do MR-8, que foi morto em Brotas de Macaúbas junto com o capitão Carlos Lamarca.

Fonte: Patricia França, jornal A Tarde

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Bahia instala Comissão da Verdade

A Bahia instala nesta terça feira 20/08 a Comissão Estadual da Verdade. É uma importante decisão para desvendar, em especial, parte decisiva da história encoberta da repressão da ditadura no estado da Bahia. A Comissão fará convênio com a Comissão Nacional da Verdade com o objetivo de trazer informações sobre baianos vitimados em outros estados. Vai convocar pessoas para depor, trocar informações com o Comitê Baiano pela Verdade e as comissões nacionais da Anistia e de Mortos e Desaparecidos uma vez que o seu objetivo principal é o levantamento das informações relacionadas às mortes e desaparecimentos ocorridos durante o período de 1946 a 1988. Há informações de que existem pelo menos 32 baianos desaparecidos no período da ditadura, parte deles integrantes da guerrilha do Araguaia.

A Comissão Estadual da Verdade da Bahia é integrada pelos  professores da UFBA. Joviano Neto (coordenador) e Dulce Tamara  Aquino, a educadora Amabilia Almeida, os jornalistas Antônio Walter Pinheiro e Carlos Navarro Filho e os advogados Jackson Chaves de Azevedo e Vera Christina Leonelli, A Bahia é a 18ª Comissão a ser instalada entre os 27 estados. O grupo desenvolverá  o seu trabalho de apuração da verdade para os seguintes  problemas: Ditadura e estrutura de repressão na Bahia e no Sistema Judiciário;   O Papel da Igreja durante a Ditadura; Torturados, Mortos e Desaparecidos durante a Ditadura; Os atingidos, Presos e Cassados e a Repressão na Área Cultural, Movimento Estudantil e Imprensa.

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