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O adeus ao jornalista Britto Cunha deixa de luto a imprensa baiana

Faleceu na noite deste domingo, 11, o jornalista Antônio Maria de Britto Cunha, aos 79 anos, vítima de uma infecção respiratória que teve início há cerca de dez dias, causada pela doença renal crônica contra a qual lutava. A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) lamenta esta grande perda para o jornalismo, a ética e a cidadania. O corpo de Britto Cunha será cremado em cerimônia marcada para as 10h30 desta segunda-feira, 12, no cemitério Jardim da Saudade.

Ex-jornalista do jornal A Tarde, ele era um profissional respeitado e admirado pelos colegas. “Elegância é mesmo a palavra perfeita para definir Antônio Maria de Brito Cunha. Profissional e pessoalmente. Era figura singular de notável aplicação e competência técnica e honestidade intelectual em seu oficio. Extrema simplicidade e afabilidade eram suas marcas inerentes de personalidade. Trabalhei ao lado de Brito Cunha alguns anos, quando ele era secretário de redação de A Tarde. (…) Jamais vi ou ouvi Brito Cunha dar um grito descontrolado (tão comum nas redações), agir com descortesia ou deslealdade, mesmo nas horas mais tensas da vida do jornal”, lembra o jornalista Victor Hugo Soares, no blog Bahia Em Pauta.

*Informações do Jornal A Tarde e do site Bahia Em Pauta.

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ABI publica livro sobre bicentenário da imprensa na Bahia

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) acaba de publicar o livro 200 anos de imprensa na Bahia, no qual reúne artigos, pronunciamentos e documentos referentes às comemorações do bicentenário da instalação do primeiro prelo em território baiano. O livro recorda o feito do português Manoel Antônio da Silva Serva, sobretudo a publicação do jornal Idade d’Ouro do Brazil, que estreou em 14 de maio de 1811, e da revista As Variedades ou Ensaios de Literatura, que circulou entre janeiro e março de 1812.

O prefácio (abaixo) é do jornalista, publicitário e pesquisador colombo-brasileiro Nelson Varón Cadena e traduz a um só tempo o que é o livro e o que foram as comemorações do bicentenário.

Prefácio

A Bahia mal comemorou os seus 200 anos de imprensa transcorridos oficialmente em 14 maio de 2011, data de referência da primeira edição do jornal Idade d’Ouro do Brazil, iniciativa do comerciante Manoel Antônio da Silva Serva, proprietário do primeiro estabelecimento tipográfico instalado e operado no estado. Festejou também a Bahia, sem o devido entusiasmo, num círculo restrito de estudiosos e simpatizantes da história da imprensa baiana, os 200 anos das revistas no Brasil, evento alusivo a outra iniciativa do Serva aqui referido: o lançamento em janeiro/fevereiro de 1812 da primeira revista editada em nosso país com o nome de As Variedades ou Ensaios de Literatura.

Comemoramos timidamente esses eventos de grande importância para os baianos e não poderia ter sido diferente. Somos os únicos culpados por isso. A começar pelo fato, eu diria registro, de que abrimos mão do dever de casa e não entramos no mérito de pesquisas e a interpretação dos fatos em torno de nossa imprensa por alguns pesquisadores, ora comprometidos com uma visão politizada da mídia como instrumento de poder, ora desinformados quanto ao real conteúdo das publicações que referenciaram as efemérides aqui mencionadas. O resultado dessa omissão histórica, agravada pela inexistência de coleções do primeiro jornal baiano em nossas bibliotecas e arquivos públicos, é que prevaleceu uma visão tacanha e comedida, clichês que nos foram impostos e que nunca conseguimos superar e reverter.

Nesse contexto, o jornal Idade d’Ouro do Brazil foi desprovido de seus valores, descaracterizado no texto, apequenado na sua linha editorial, reduzido a um momento específico de sua história; avaliado o seu conteúdo, não dos 12 anos em que circulou, mas pelo filtro dos dois últimos anos de sua existência quando se opôs à causa da Independência e, embora com objetivos diferentes, alinhou-se com o Semanário Cívico e Minerva Baiense na defesa dos interesses defendidos a ferro e fogo pelo comandante das Armas da Província da Bahia, general Madeira.

Decisão lamentável

Esse olhar afunilado reduziu os valores do Idade d’Ouro do Brazil a um preconceituoso clichê de áulico, dentre outros rótulos-chavões que lhe foram imputados e se multiplicaram como únicas e verdadeiras referências do primeiro jornal baiano, no contexto da história da mídia brasileira. Uma verdade tão definitiva que nem o resgate textual, esse sim mais voltado para o conteúdo do que para a interpretação de um momento político, de Maria Beatriz Nizza da Silva, em seu livro A primeira gazeta da Bahia, conseguiu reverter. Prevaleceram e prevalecem as letras consolidadas de uma leitura vaga e segmentada, sobre uma leitura de fato ampla e descompromissada.

Esta questão pode parecer irrelevante, mas, não é. Se as duas datas de maior importância para a imprensa baiana passaram quase despercebidas, inclusive na própria mídia, é porque as publicações de referência das efemérides aqui mencionadas não foram introduzidas e muito menos priorizadas como assunto relevante na matéria História da Bahia nos estabelecimentos de ensino do estado ou nas universidades, nas matérias afins. Abrimos mão disso. Não criamos uma cultura de valor para as duas publicações e não se culpe apenas o poder público. Que interesse teria para essa geração, que não se motivou e não se deu conta das modestas comemorações dos 200 anos de imprensa na Bahia, lembrar a existência de um periódico cuja único préstimo é ter sido um áulico?

Reflexões à parte, este livro de Luis Guilherme Pontes Tavares resgata todas as iniciativas que visavam abrilhantar as comemorações dos 200 anos da imprensa da Bahia e 200 anos das revistas no Brasil. Iniciativas das quais Luis Guilherme foi protagonista, quando não incentivador, articulador; um sentimento que o leitor poderá aferir com maior precisão quando se debruçar sobre a leitura dos artigos publicados pelo jornalista, como também da transcrição de conferências de sua autoria em centros de pesquisa e de ensino, aqui reproduzidas.

O empenho de Luis Guilherme pelo resgate da história da imprensa baiana e em particular pelas primeiras publicações é uma obviedade. Como idealizador e diretor do Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia (Nehib), acompanhou de perto e contribuiu com sugestões, colaborações, editoração, com praticamente todas as publicações sobre a memória da imprensa baiana editadas nos últimos quinze anos, assim como na gestão e divulgação de eventos correlatos. Manteve acesa uma chama que não se apaga, mas também não se expande, pela pouca relevância da cultura baiana, nestes tempos de crise de identidade e de valores.

Esta publicação é dedicada a Renato Berbert de Castro, notável e devotado pesquisador que aprofundou os estudos em torno da tipografia de Manoel Antonio da Silva Serva e seus descendentes e legou-nos uma obra inédita, além das já publicadas de sua autoria: um catálogo contendo as publicações da Tipografia Serva, que o autor deste livro chama de servinas, em todo o período de sua existência: 1811-1846. Berbert de Castro deixou os originais para serem entregues a Luis Guilherme após sua morte e assim foi feito. Mas a sua intenção implícita, que era ver editada a publicação, não foi cumprida, segundo nos relata o autor: a família do bibliófilo não autorizou o prosseguimento do projeto. Uma lamentável e incompreensível decisão que nos priva de enriquecer a já limitada bibliografia sobre o assunto.

Luis Guilherme Pontes Tavares é jornalista e Diretor de Cultura da ABI.

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