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Site revela como dados pessoais são utilizados em ações ilegais

Fazer compras em uma loja que requer cadastro com nome, email, CPF, endereço e telefones de contato. Registrar informações sobre fluxo menstrual, sintomas físicos e frequência das relações sexuais em um aplicativo de saúde. Utilizar um Bilhete Único para se locomover de transporte público por sua cidade. Tudo isso gera uma quantidade imensa de dados sobre seus hábitos e de registros sobre suas informações pessoais que, tecnicamente, são mantidos sob sigilo. Mas já parou para pensar que esses dados podem ser utilizados para gerar lucro para terceiros?

Iniciativa do Think-and-Do Tank Coding Rights, o Projeto Chupadados busca revelar, por meio de reportagens e infográficos, como as tecnologias que cidadãos e governos utilizam invadem a privacidade e afetam diversas liberdades.

Em uma brincadeira com a lenda do Chupa-cabra, o Chupadados se descreve como uma inteligência que descobriu que “cada busca, click, curtida, compartilhamento que damos, ou mesmo a informação de quanto tempo o cursor do mouse passa sobre alguma imagem, poderia ser monetizada”.

O Chupadados foi criado e é coordenado pelas jornalistas Joana Varon e Natasha Felizi. Segundo Leandro Demori, diretor da Abraji e participante do projeto, “a ideia foi transformar uma pesquisa acadêmica em uma coisa mais palpável, saindo da Academia e facilitando o entendimento do assunto e da importância dele pela população geral,” diz.

Leandro Demori produziu uma reportagem para o projeto sobre balões equipados com câmeras comprados pelo governo do Rio de Janeiro para vigiar a cidade durante os Jogos Olímpicos e em outras ocasiões. O equipamento militar tem capacidade de realizar um mapeamento aéreo em tempo real da cidade e tem diversas saídas de vídeos, que podem ser utilizadas pela polícia ou por outras organizações.

A grande questão, segundo a reportagem de Demori, é saber quem, exatamente, tem acesso às imagens geradas pelos balões e se há mecanismos que previnem que os vídeos sejam “vazados” e utilizados para fins menos nobres do que a segurança da população.

Outro ponto é que o uso de balões fere gravemente o direito à privacidade e a liberdade da população devido a qualidade das imagens e da facilidade em identificar as pessoas retratadas nelas. No Chile, quando um mecanismo similar foi instalado na cidade de Santiago, ONGs e parte da população entraram com processos contra a prefeitura para regulamentar a presença dos balões, que seriam equipamentos militares sobrevoando zona urbana.

“No Brasil não há leis protocolos ou regulamentos que definam o uso dos balões. No Chile, depois dos processos judiciais, há indicativos técnicos de como os balões devem ser operados. Além disso, os dados são disponibilizados via Lei de Acesso,” conta Demori.

Ainda segundo Demori, se o uso dos balões não for regulamentado, é possível que alguém os utilize para práticas ilegais. “Não há garantias de que um homem, enquadrado na Lei Maria da Penha, não consiga as imagens da casa ou do local de trabalho da mulher que o acusou e as utilize para fazer algo ruim,” comenta.

O Chupadados tem matérias sobre Brasil, Chile e Argentina e, em breve, irá publicar material da Colômbia e do México.

Outras reportagens do projeto contam como aplicativos utilizados para o monitoramento do ciclo menstrual ganham dinheiro vendendo os dados inseridos. Há também um texto abordando a circulação de dados coletados através do uso do Bilhete Único no Rio de Janeiro, que podem ser usados para definir a rotina das pessoas que usam a rede de transportes urbanos.

O mal em si, segundo Demori, não está em fornecer os dados, mas “em não saber que isso está acontecendo”. Além disso, no Brasil não há leis para a proteção de dados na internet, o que traz uma maior vulnerabilidade.

“Essas práticas de coleta de dados interferem nos valores da Liberdade. Inclusive da liberdade constitucional de fazer coisas pessoais sem que os outros saibam onde estamos indo, onde compramos, com quem nos encontramos e qual é nossa rotina e é por isso que conscientizar a população é importante,” conclui Demori. (Informações da Abraji)

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Projeto traça panorama para jornalismo brasileiro em 2017

Baseados na iniciativa Predictions for Journalism, do site “Nieman Lab”, o Farol Jornalismo e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) lançaram o projeto O Jornalismo no Brasil em 2017, com o objetivo de refletir sobre o momento atual do jornalismo e traçar possibilidades para a profissão neste ano. Os organizadores convidaram 13 jornalistas e profissionais de outras áreas para escrever sobre temas como ética, checagem de fatos, jornalismo de dados e diversidade.

Segundo os articulistas, em 2017 os jornais devem investir em conteúdo de maior qualidade e enfrentar a disseminação de notícias falsas que circulam em redes sociais. Entre as apostas se destacam um jornalismo mais local, que se aproveite das brechas deixadas pelo grandes veículos; matérias que ouçam vozes mais múltiplas; e pautas que procurem se aprofundar em temas de transformação social.

No campo da ética, o professor de jornalismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Rogério Christofoletti afirma que uma imprensa mais transparente e aberta ao público poderá alavancar o nível de confiança de leitores. Ele defende um esforço para que os veículos se diferenciem das redes sociais, em busca de maior credibilidade.

Segundo o repórter da Folha, Rubens Valente, que participa do projeto, fica claro que, com a Lava Jato, os jornais continuarão investindo no noticiário quente em 2017 e darão pouca atenção à investigação jornalística. “A prioridade das redações à cobertura diária coincide com um período severo da bem conhecida crise financeira dos principais jornais, com muitas demissões e queda brutal de receita”, diz.

Os articulistas apostam ainda na consolidação do uso de outros formatos no meio jornalístico, como o vídeo digital, que deverá passar a ter uma linguagem mais sofisticada, o podcast, com grandes possibilidades ainda a serem exploradas, o jornalismo de dados, área que deverá ter maior capacitação no futuro, e novos recursos que interajam com a percepção e a sensibilidade do público. (Novo em Folha, da Editoria de Treinamento da Folha de S.Paulo).

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FIJ relata 93 profissionais de imprensa mortos em 2016

O relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) revelou que 93 jornalistas e profissionais de mídia foram mortos em 2016, em incidentes relacionados ao trabalho. Os assassinatos abrangem 23 países da África, Ásia, Américas, Europa e do Oriente Médio. Segundo os dados da FIJ, morreram jornalistas em resultado de atentados e tiroteios. O maior número de profissionais na imprensa morreu no Iraque (15 pessoas), no Afeganistão (13 pessoas) e no México (11 pessoas).

A organização ainda relembrou outros 29 jornalistas vítimas de dois acidentes aéreos: 20 brasileiros – que morreram na queda do avião da Chapecoense em Medellín, Colômbia – e 9 russos, que estavam a bordo do avião militar que caiu no Mar Negro, em dezembro.

Além disso, a entidade mostrou série de profissionais que estão desaparecidos e, provavelmente, terão sido mortos. A Federação declarou que não possui informações suficientes que possam confirmar as mortes destas pessoas.

Outros números – Os números do relatório da Federação Internacional de Jornalistas são bem diferentes dos publicados pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em 19 de dezembro, que afirmou que 57 jornalistas morreram no mundo em 2016 no exercício da profissão.

De acordo com a organização, somente na Síria, 19 profissionais da imprensa foram assassinados, seguido pelo Afeganistão (10), o México (9), o Iraque (7) e o Iêmen (5). Além das 57 vítimas fatais, o relatório da RSF considerou nove “jornalistas-cidadãos” (blogueiros) e oito “colaboradores” de meios de comunicação.

*Informações do Portal Comunique-se

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Professores avaliam impactos da crise do jornalismo no ensino de Comunicação

Demissões em massa nos jornais, redações cada vez mais enxugadas, redução de gastos, freelas escassos. O cenário do mercado de trabalho para os jornalistas passa por transformações que afetam a carreira dos profissionais. Mas como essa crise afeta o ensino de Comunicação? IMPRENSA perguntou aos apoiadores e vencedores da 2ª edição do Projeto Professor IMPRENSA, que reconhece os professores mais inspiradores do Brasil. Confira:

Professores: 

Vencedor da região Centro-oeste  – Rafiza Varão – UCB (DF): Afeta de várias formas: há desde a diminuição da procura pelo curso até a queda na qualidade do próprio jornalista a ser formado. Como se acredita que não é necessária mais uma formação para se atuar nos meios de comunicação, o curso universitário se torna desnecessário. Em contrapartida, quem está dentro da universidade trabalha de outra forma com esse cenário, sem se aprofundar demais na formação, pois não chega até o curso mais portando uma bagagem intelectual bem estabelecida, mas já construída a partir da perspectiva de um uso superficial das potencialidades jornalísticas.

Vencedor da região Nordeste – Marcelo da Silva – UFMA (MA):  A crise jornalística não é, a meu ver, a crise da atividade, mas a da sociedade de consumo que se corporifica em imperativos que produzem uma cultura ‘fast news’ que dá espaço à superficialidade e à politização/partidária da leitura de mundo e dos acontecimentos que o povoam; O ensino de jornalismo se prejudica em virtude da falsa ideia de que qualquer pessoa pode (re) produzir os fatos da realidade por possuir as tecnologias que estão disponíveis nos aparelhos celulares, fazer gravações e compartilhar em diferentes aplicativos e redes digitais. O cidadão comum é um elemento crucial na apuração, no registro de provas, mas ele nunca será jornalista, dadas as questões deontológicas que permeiam a profissão. Há um modo de ver que caracteriza uma idiossincrasia que é própria do ser/jornalista e de nenhum outro sujeito.

Vencedora da região Norte – Rita Soares – Estácio FAP (PA): Acho que não é possível falar em uma crise do jornalismo, mas em crises. A primeira delas é causada pelas transformações da sociedade neste início de século, onde se destacam o uso de novas ferramentas de comunicação. O jornalismo sempre será importante, ainda mais neste momento em que todos produzem conteúdo e postam nas redes. É preciso reforçar nosso papel, sendo éticos, cuidadosos e mantendo alguns cânones da apuração como o de sempre ouvir  os dois lados.  Há uma diferença grande entre uma matéria jornalística bem apurada e uma história contada por um personagem no Facebook. A outra crise é a de credibilidade da mídia e essa é mais grave  porque vai exigir uma reinvenção total da nossa profissão, assim como terá que ocorrer com o sistema político que também passa por uma crise de  credibilidade fortíssima.

Vencedor da região Sudeste – Guilherme Fernandes – UFJF (MG): O jornalismo já passou por diversas crises. Na década de 1980, por exemplo, onde tivemos um boom de faculdades de jornalismo, já se falava em crise. Sem dúvidas vivemos uma crise muito séria, com diversas redações, especialmente de impresso, sendo minguadas ou fechados. O cenário é desestimulante. Porém, em sala de aula, essa não parece ser uma problema para os alunos. Com a crise e as constante mudanças tecnológicos, percebe que é necessário uma formação mais generalista. Se antes a especialização em editorias ou determinado meio era um importante diferencial, hoje o profissional precisa necessariamente ser multiplataforma. Cada vez mais vemos profissionais fazendo um pouco de tudo. Não digo que isso é necessariamente ruim, mas existe essa mudança no perfil do profissional e temos que acompanhá-las. Aliado a isso não podemos esquecer de uma formação humanística e crítica.

Patrocinadores:

Fernando Almeida, diretor financeiro da Intercom e coordenador dos cursos de Publicidade e Propaganda e Comunicação Mercadológica na Universidade Metodista de São Paulo: Os alunos estão desinteressados. A partir do momento em que o diploma deixou de ser exigido, temos uma grande evasão nas universidades públicas e particulares, e cursos no interior de São Paulo, por exemplo, estão sendo fechados. O perfil do profissional da área é de uma pessoa que conheça todo o segmento da Comunicação, e se especialize em alguma coisa. O desafio para as instituições, professores e gestores é trabalhar o futuro. A Educomunicação é outra tendência. Prepara o professor para fazer uma leitura crítica da mídia. Fazer da mídia um instrumento para ensinar e incentivar a produção colaborativa de conteúdos pelos alunos, utilizando a mídia como referência. A pedagogia sempre foi resistente a questões de Comunicação, então a prática da Educomunicação é um avanço.

Nilson Vargas, editor-chefe de Zero Hora (RBS): Uma parte do ensino e do debate em sala de aula sobre jornalismo me parece imutável, e trata das premissas perenes ligadas ao rigor da apuração, ao compromisso com a precisão, com a pluralidade, com a ética, com a busca da verdade e a oferta de conteúdos que contribuam para o senso crítico e o nível de informação do leitor e da sociedade. Mas a revolução na distribuição, nas plataformas, na interação instantânea com os públicos e outras tantas novidades e desafios precisam se refletir nas discussões, no aprendizado, na oferta de ferramentas e tecnologias pelas instituições, no tipo de aula que se ministra, no desafio de uma formação mais eclética e sintonizada com os novos ambientes de redação, e com ramos igualmente novos da atividade, como a geração de conteúdo para as redes sociais.

Sergio Pompeu, editor do site da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação): A crise global do jornalismo afeta (ou deveria afetar) significativamente o ensino de  comunicação nas universidades brasileiras. Não é de hoje que a antiga aspiração da maioria dos estudantes, trabalhar nas redações de grandes veículos, literalmente evaporou. Feita a ressalva de que acompanho a questão a distância, não me parece que os cursos fizeram os necessários ajustes a essa nova situação. Quando falo de ajustes, porém, me refiro à necessidade de formar pessoas capazes de transitar por uma carreira muito mais diversificada do que há cinco, dez anos. Estamos preparando profissionais para trabalhar de forma autônoma, que produzam e editem registros em texto, fotos e vídeo, funcionando praticamente como uma unidade de produção multimídia? Porque é disso que precisamos: preparar jornalistas com competência técnica e teórica e a capacidade de se adaptarem rapidamente a diferentes cenários de mercado.

*Alana Rodrigues e Gabriela Ferigato para o Portal IMPRENSA

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