A cobertura intensa do jornal Estado de Minas sobre a maior tragédia socioambiental do país, provocada pelo rompimento de barragem da empresa Samarco, em Mariana (MG), venceu a quarta edição do prêmio de Jornalismo Promotor de Justiça Chico Lins. O trabalho mobilizou mais de 100 profissionais da empresa – entre repórteres, repórteres fotográficos, editores, ilustradores, diagramadores e motoristas. O objetivo do prêmio, segundo a Associação Mineira do Ministério Público, é estimular a publicação de matérias relacionadas com a atuação do Ministério Público brasileiro e reconhecer e premiar trabalhos jornalísticos que se destaquem por tornarem acessíveis ao público informações sobre o MP.
O promotor que dá nome ao prêmio, Francisco José Lins do Rêgo Santos, era secretário da Promotoria de Defesa do Consumidor, o Procon Estadual, quando foi assassinado, em 25 de janeiro de 2002. Chico Lins, como era conhecido pelos colegas, foi morto com sete tiros durante investigação da máfia dos combustíveis em Minas Gerais. A premiação será no dia 25, quando se completa mais um ano da morte do promotor.
O jornalista André Luiz de Sá, de 39 anos, que trabalhava como assessor de imprensa da Prefeitura de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, foi encontrado morto nesta segunda-feira (3). De acordo com informações da Polícia Militar, o corpo apresentava escoriações na cabeça, levantando a suspeita de que ele teria sido assassinado a pauladas, por volta de 1h da madrugada. A casa, que pertencia a André, não estava revirada e, a princípio, nenhum item foi levado. Próximo ao corpo, foram encontrados pedaços de madeira.
O crime está sendo investigado pelo delegado de Araçuaí, Cristiano Castelucci Arantes. Por enquanto não há pistas sobre a autoria do homicídio. O Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais está acompanhando o caso e diz que só vai se pronunciar oficialmente após a divulgação da causa da morte.
Esse é o segundo caso de jornalista assassinado no Vale do Jequitinhonha neste ano. Evany José Metzker, conhecido como Coruja, desapareceu em 13 de maio e seu corpo foiencontrado decapitadoe com as mãos atadas cinco dias depois na zona rural de Padre Paraíso. O crânio foi encontrado a 100 metros do corpo. O jornalista, de 67 anos, mantinha um blog, “Coruja do Vale”, em que publicava suas investigações sobre corrupção, narcotráfico e prostituição infantil, e outros assuntos relacionados a acontecimentos na região rural Vale do Jequitinhonha, em Minas. Ele investigava irregularidades da administração pública local.O caso ainda permanece sem esclarecimentos, mas a Polícia Civil segue na investigação.
Em menos de uma semana, dois crimes brutais ocorridos no Brasil – mas com ampla repercussão internacional -, chocaram o país. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) expressou nesta quarta-feira (27) sua profunda consternação pelo assassinato do jornalista investigativo da emissora comunitária RCA, Djalma “Batata” Santos da Conceição, que dirigia o programa “Acorda, Cidade!”. O presidente da SIP, Gustavo Mohme, pediu que as autoridades “atuem com urgência para identificar e punir os responsáveis materiais e intelectuais” tanto deste assassinato como do blogueiro Evany José Metzker, que foi decapitado em 18 de maio em Minas Gerais. Entidades ligadas ao segmento de mídia condenaram a sucessão de homicídios e outras violências contra profissionais de imprensa e alertaram para o clima de impunidade que contribui para a repetição de violações à liberdade de expressão e ao direito da sociedade de ser devidamente informada.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) informou que o radialista Djalma Santos da Conceição, 54 anos, que apresentava um programa na cidade de Conceição da Feira, foi assassinado com pelo menos 15 tiros e seu corpo foi achado com sinais de tortura no sábado, um dia após ter sido sequestrado em um bar de sua propriedade por três homens encapuzados. Ele havia recebido ameaças por causa dos crimes que denunciava e pelas opiniões políticas que emitia em seu programa, o de maior audiência em Conceição da Feira. Sua última investigação foi sobre o assassinato de uma adolescente em uma favela, supostamente cometido por traficantes. O próprio radialista foi à favela ajudar a resgatar o corpo da jovem depois que a polícia se recusou a fazê-lo para supostamente evitar um confronto com os criminosos. O corpo do jornalista foi achado em uma valeta de uma estrada com a língua cortada e o olho direito arrancado.
“Essa é a segunda morte registrada de profissionais de jornalismo em uma semana, uma vez que o corpo do jornalista Evany José Metzker foi encontrado decapitado e com sinais de tortura em Padre Paraíso (MG), no dia 18 de maio”, afirma um comunicado postado no site da ANJ. “Em face de mais este caso, a ANJ insiste junto às autoridades quanto à necessidade de imediato e cabal esclarecimento dos crimes mencionados, a fim de que os responsáveis sejam devidamente julgados”, conclui o comunicado.
O assassinato de Conceição também foi condenado em comunicado divulgado em Nova York pela organização não-governamental internacional Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). “Os assassinatos brutais de dois jornalistas brasileiros em menos de uma semana representam uma escalada preocupante de violência contra a imprensa no Brasil, que já é um dos países mais perigosos no mundo para ser jornalista”, afirmou Sara Rafsky, pesquisadora associada à divisão da CPJ para a América, citada no comunicado.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) ressalta que a morte violenta de comunicadores fora dos grandes centros não é novidade. “Conforme esses cidadãos tomam para si a atividade de informar – e, muitas vezes, de revelar problemas e corrupção em suas regiões -, tendem a ser a maioria das vítimas de violência em um país que ainda guarda traços de coronelismo. Crimes como o de Conceição e de Metzker devem ser investigados com rapidez e punidos com rigor”, informa a nota divulgada pela entidade. Já o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, Claudio Paolillo, lamentou que na mesma semana em que ocorreram os assassinatos uma comissão da Câmara dos Deputados descartasse um projeto de lei que “prevê a participação da Polícia Federal nas investigações de crimes contra jornalistas”.
A morte de Djalma ocorreu na mesma semana que a do blogueiro Evany José Metzker em Padre Paraíso, município no estado de Minas Gerais. Metzker, responsável pelo blog investigativo Coruja do Vale, foi achado morto na segunda-feira da semana passada, decapitado e com várias marcas de violência. O sindicato regional de jornalistas considera que seu assassinato está vinculado com seu trabalho de denúncia, que se centrava em crimes como narcotráfico, roubo de cargas e exploração sexual de menores e adolescentes. O jornalista estava desaparecido desde o último dia 13 e foi achado morto em uma área rural, em avançado estado de decomposição, decapitado, com as mãos amarradas e outras marcas de violência.
Atendendo ao pedido do delegado que acompanha o caso, a Justiça decretou sigilo sobre as investigações do assassinato do jornalista Evany José Metzker (67), torturado e decapitado na cidade de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, região mais pobre do estado de Minas Gerais. A decisão foi tomada pelo juiz Ricky Bert Biglione Guimarães, da comarca de Araçuaí, município da região. Metzker desapareceu no último dia 13 e seu corpo foi encontrado em estado de decomposição na segunda-feira (18). Ele mantinha um blog chamado “Coruja do Vale”, em que publicava suas investigações sobre corrupção, narcotráfico e prostituição infantil, além de críticas à administração pública. O assassinato, que repercutiu na imprensa internacional e mobilizou diversas entidades de defesa da liberdade de imprensa e dos direitos humanos, é acompanhado com atenção porque há indícios de crime político motivado por questões profissionais.
De acordo com o Estado de Minas, a Superintendência de Imprensa do Governo informou que o segredo de justiça foi solicitado pelo delegado Emerson Morais, do Departamento de Investigações de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de Minas Gerais, chefe da equipe que investiga o crime na cidade. Por meio de nota, o delegado justifica que o pedido de sigilo é importante em função da complexidade do caso, da dificuldade de se apurar evidências e da multiplicidade de motivações para o crime. “O segredo de justiça é fundamental para assegurar o bom andamento das investigações, com preservação dos depoimentos, das diligências realizadas e pendentes de realização, além da restrição dos indícios já apurados”, explicou.
Nesta semana, os investigadores visitaram o local do crime, ouviram pessoas que conviviam com o jornalista e tentaram reproduzir os últimos passos da vítima. Morais diz que não há registro formal de ameaças contra Metzker, e que trabalha com “todas as possibilidades”. A avaliação é diferente da informada pela delegada Fabricia Nunes, que iniciou a apuração. Ela descartou a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte) – já que nada foi levado da vítima – e trabalhava com a possibilidade de crime político ou passional. Procurados, os delegados não concederam entrevistas.
O Sindicato dos Jornalistas de Minas divulgou nota em que manifesta “repulsa” e pede “apuração rigorosa” do caso. “O sindicato não aceita que a hipótese de o assassinato estar relacionado ao exercício da profissão de jornalista seja descartada antes de uma rigorosa e isenta investigação”, diz o comunicado. Foi depois do pedido do sindicato que o governo de Minas Gerais enviou uma força-tarefa à cidade para ajudar e intensificar as investigações. Após articulação com a Secretaria de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania e a Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ficou definida a realização de audiência pública nesta segunda-feira (25/05) em Medina, cidade onde José Metzker residia.
Em nota oficial, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) deplorou o assassinato do jornalista e exigiu punição aos responsáveis. A entidade afirmou que o crime afronta a liberdade de imprensa e conspurca a imagem do país, pelas características com que foi cometido. “A morte de Evany José não pode se transformar em mais um número na triste estatística que colocou o Brasil entre os países onde ocorrem mais execuções de profissionais de imprensa das Américas, no ranking do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ)”.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também condenou o crime através de um comunicado. A organização que atua na defesa e promoção da liberdade de imprensa e de expressão nas Américas lamentou a morte do jornalista e reforçou sua preocupação com a grande quantidade de crimes sem punição no país. Segundo a AFP, o presidente da SIP, Gustavo Mohme, pediu às autoridades que investiguem com urgência os motivos da morte do jornalista, assassinado enquanto apurava informações a respeito do tráfico de drogas e da prostituição infantil na região.
Escalada de violência
O assassinato do jornalista expõe o avanço de crimes violentos nos vales do Jequitinhonha e Mucuri. Conhecida por belezas naturais de encher os olhos, a região – castigada no passado pela prática de mineração e extração de diamante – sofre com o crescimento do número de homicídios, assaltos à mão armada, roubos, explosão de caixas eletrônicos e tráfico de drogas. Dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) indicam que, nos primeiros quatro meses deste ano, a 15ª Regional Integrada de Segurança Pública (Risp), de Teófilo Otoni, que abrange Padre Paraíso, registrou 677 crimes violentos (homicídios e estupros tentados e consumados, assaltos, roubos, sequestros e cárcere privado), um média mensal de 169. Em 2014 inteiro, a média mensal foi de 141 crimes.
Em Padre Paraíso, foram 35 crimes violentos de janeiro a abril, média de 8,7 por mês, excluindo o assassinato de Metzker, e outras ocorrências já registradas neste mês. Em todo o ano passado, foram 49 crimes dessa natureza no município, média de quatro por mês. O número de assassinatos deste ano, incluindo a morte do jornalista, já bateu o do ano passado, quando ocorreram três. Este ano, já são quatro assassinatos.
*Informações da Folha de S.Paulo, Associação Brasileira de Imprensa e Estado de Minas.