Entidades representativas da área jornalística repudiaram a ação da Polícia Civil de Minas Gerais, que intimou as repórteres Angélica Diniz e Ludmila Pizarro, do jornal O Tempo, a revelarem a identidade de suas fontes. Desde fevereiro, as jornalistas estão noticiando uma série de matérias falando sobre a estratégia do governo mineiro para pagar as dívidas do Estado, utilizando a venda de ações do nióbio e a contratação de empréstimo a juros altos por meio da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig). As informações foram publicadas na versão on-line do jornal O Tempo.
A intimação, assinada pelo delegado Daniel Buchmuller de Oliveira, chegou à redação do jornal na última quarta-feira (13) e pedia o comparecimento das repórteres ao departamento de investigações de crimes contra o patrimônio no dia seguinte para prestarem depoimento.
“Elas foram intimadas para fornecer os nomes das fontes ou dizer se conheciam o nome de um servidor que teria sido demitido da empresa após ser acusado pela própria Codemig de ter sido o responsável pelo vazamento das informações”, contou Fábio Antônio Tavares, advogado do jornal. As jornalistas prestaram depoimento e, resguardadas pela Constituição Federal, se recusaram a revelar as fontes, ato compreendido pela própria escrivã da corporação que atendeu as repórteres.
“É uma coisa absurda, intimar repórter é coisa que acontecia só na ditadura. É lamentável ver isso acontecendo de novo. O sindicato se solidariza com as jornalistas e está sempre comprometido em defender os nossos direitos”, disse Alessandra Mello, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais.
Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), considerou a ação como uma ameaça à liberdade de imprensa. “O sigilo da fonte é um direito dos jornalistas previsto na Constituição. É inadmissível que se busque afrontar esse direito. Trata-se de uma ameaça à liberdade de imprensa e, por consequência, ao direito da sociedade de ser livremente informada”.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também criticou a postura da polícia civil. “A Abraji considera a intimação das jornalistas como testemunhas no caso um risco ao sigilo da fonte, ao pretender confirmar as acusações da Codemig de que o ex-servidor teria repassado as informações à imprensa. Colocar em risco este instrumento fundamental para o ofício, garantido pela Constituição Federal, é uma ameaça à liberdade de expressão e, como tal, é digna de repúdio”.
*Informações do Portal IMPRENSA