ABI BAHIANA

Em parceria com ABI e MPBA, OAB-BA lança campanha em defesa da saúde e da ciência

Nesta quarta-feira (3), às 9h, a Comissão Especial de Direito Médico e da Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Bahia, em parceria com a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e o Ministério Público da Bahia (MPBA), lançará a campanha “Conscientização da População”, com um ato em defesa da saúde e da ciência. O objetivo das entidades é orientar as pessoas sobre a importância da vacinação como mecanismo de proteção da saúde pessoal e coletiva. O evento virtual será realizado através do Zoom e transmitido ao vivo pelo YouTube da OAB-BA.

“Desde março do ano passado, vivemos um dos maiores desafios de ordem sanitária do último século, provocado pelo novo coronavírus. Felizmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o uso emergencial das vacinas. Mas para que alcancemos os níveis de imunização da população que permitam a erradicação da doença ou, no mínimo, seu controle, será indispensável a disponibilização dos agentes imunizantes em quantitativo suficiente, bem como massiva adesão da população”, defende René Viana, presidente da Comissão Especial de Direito Médico e da Saúde.

Movimento antivacina e desinformação

Do medo de se tornar um jacaré até o de ter um chip 5G implantado no corpo, está crescendo no Brasil um perigoso movimento de pessoas que ficaram contra a vacina por causa de correntes do WhatsApp, carregadas de fake news.

O presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI, o jornalista Ernesto Marques, alerta para o perigo da desinformação, uma vez que a disseminação de notícias falsificadas tende a afastar a população das campanhas de vacinação. “A pandemia nos impõe uma reflexão profunda sobre a nossa responsabilidade com a oferta de informação qualificada de interesse público e alta relevância para a vida das pessoas e o complexo processo de descrédito da imprensa enquanto instituição”, destacou o dirigente.

Crédito: Comissão Especial de Direito Médico e da Saúde (OAB-BA)

De acordo com Marques, a ação deliberada de quem hostiliza profissionais da comunicação social e atua para desqualificar os veículos de imprensa coincide com a distribuição massiva de desinformação sobre as formas de prevenção e proteção contra a covid-19. “Não há como discutir a causa sem considerar seus efeitos. Não se trata de um problema da nossa corporação, mas um exemplo eloquente de que toda ameaça direta à democracia é, em última análise, uma ameaça à vida e aos direitos fundamentais, aí incluído o direito à informação”, salienta.

A Comissão Especial de Direito Médico e da Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil tem como objetivo desenvolver estudos sobre questões relacionadas ao Direito à Saúde e à fenomenologia que o envolve, assim como promover constantes discussões coletivas sobre essa temática, sobretudo com a finalidade de esclarecimento da sociedade baiana.

Serviço

Lançamento da campanha “Conscientização da População”, em defesa da saúde e da ciência
Dia 3 de fevereiro (quarta-feira), às 9h
Ato virtual via Zoom, com transmissão ao vivo pelo Youtube da OAB-BA  
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Notícias

Covid-19 acende alerta para a saúde mental de jornalistas

O jornalismo, assim como em outras áreas, sofreu e vem sofrendo com a perda de profissionais da imprensa, vítimas da Covid-19. Além dos desafios impostos pela própria doença, jornalistas enfrentam redução salarial, demissões em massa, além das pressões com os frequentes ataques realizados pelo próprio presidente da república. Quando somatizadas as questões de gênero, a situação pode ser ainda mais delicada e complexa.

No início do mês de junho, a jornalista Camila Marinho, repórter da Rede Bahia, testou positivo para o novo coronavírus de forma assintomática e precisou se afastar da televisão pelo período de 14 dias, recomendado pelas organizações de saúde. Em “Um sopro de esperança”, reportagem publicada pela Associação Bahiana de Imprensa contando histórias de recuperação de jornalistas que tiveram o novo coronavírus, ela relatou os impactos da notícia na época para a sua família e como isso afetou a relação com seus dois filhos. Laísa Gabriela, assessora de imprensa autônoma, não se infectou com a doença, mas o home office trouxe impactos profundos em sua atuação. De acordo com a jornalista, alinhar a rotina da filha com a do trabalho, tem sido muito difícil.

Até mesmo as mulheres mais jovens têm sentido como a pandemia alterou a dinâmica de suas vidas. Esse é o caso de Thais Borges, 27 anos, jornalista do Correio*, “quarentenada” desde março quando o jornal decidiu dividir sua equipe em alguns setores, um dele, o setor de cobertura das notícias de final de semana. Com isso, Thais passou a trabalhar majoritariamente em casa, mas confessa que não estava preparada para a situação. “Não me preparei para o home office. Trabalho na mesa de jantar da sala e moro atrás de um supermercado. Moro aqui há 6 anos e não tinha idéia de que fazia tanto barulho porque eu passava o dia todo fora de casa trabalhando”, explica. 

Em março de 2020, no ínicio das contaminações ocorridas no Brasil, o governo federal definiu como essenciais as atividades e serviços da imprensa como medida de enfrentamento à pandemia. O decreto foi publicado no dia 22 daquele mês em edição extra do Diário Oficial da União. Em maio, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) pedia através de nota, medidas para prevenir e combater o coronavírus nas redações do estado. (Veja aqui). De lá para cá, as empresas se viram obrigadas a adotar diferentes estratégias para continuidade dos trabalhos, entre rodízio de jornalistas e trabalho home office. Os repórteres televisivos, que antes não apareciam em frente às câmeras de máscara adotaram essa além de outras medidas de distanciamento social para evitar o contágio e não levar riscos para os colegas de trabalho e familiares. No entanto, os repórteres televisivos não são os únicos profissionais da imprensa em atuação e todos, de alguma forma, sofreram com as mudanças impostas pela nova doença.

Entre o trabalho e a maternidade 

Milhares de profissionais continuam a trabalhar, nas rádios, assessorias e até mesmo em esquema home office, como é o caso de freelancers. Laísa Gabriela, é assessora de imprensa autônoma. Ela relata que o isolamento social tudo mudou tudo. “Na pandemia tudo ficou mais caótico e parece que intensificou. Você precisa cumprir as demandas, as pessoas cobram bastante e, às vezes, não têm tanta compreensão do cenário que estamos vivendo, desabafa.  

Em agosto, uma pesquisa coordenada pela Comissão Nacional de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) divulgou dados com diagnóstico das condições de trabalho em home office das jornalistas que são mães no contexto da pandemia. A Comissão identificou que as jornalistas mães têm sobrecarga de trabalho na pandemia. 629 profissionais jornalistas de todos os estados do Brasil responderam o questionário da entidade. (Acesse o relatório completo da Fenja aqui).

Os resultados apontam que a principal função exercida dentro do jornalismo pelas mulheres que são mães é de Assessora de Imprensa (40,06%), seguida da atuação como repórter (15,9%). O regime de trabalho da maioria está sendo realizado em home office (59,78%), seguido pelas profissionais que estão em regime misto, hora com trabalho remoto e hora em atividades presenciais. 

Laísa, que é jornalista há mais de 10 anos e assessora artistas do rap, conhece bem essa realidade. Para lidar com o excesso de demandas e com o trabalho exclusivamente em casa, a jornalista recorre a terapia e a ajuda da mãe na criação da filha. “O dia a dia está sendo bem puxado. O principal problema é conseguir me adequar à rotina de Ayana”, conta. 

Home office também precisa de rotina

Tatiana Mendes, clínica, especialista em terapia cognitivo comportamental, diz que o home office tem afetado bastante a saúde mental dos profissionais da imprensa. “Por estar em casa, muitos não estabelecem horário de trabalho, não tem lazer e não priorizam o horário de descanso. Isso pode gerar uma cobrança pessoal além do necessário, fazendo com que ela trabalhe por mais horas”, alerta Tatiana. “É necessário criar uma rotina saudável. Para ela, Estar em home office não significa trabalhar mais, tudo deve ser dosado. “Nada em excesso funciona ou tem bom resultado”, diz a psicóloga. 

Home office sim, rua também

O regime misto de trabalho também marcou 2020. Muitas empresas adotaram esquema de rodízio de jornalistas para conseguir evitar as contaminações nos veículos noticiosos. A jornalista Thais Borges atua no jornal Correio* há oito anos. Antes mesmo de entrar em esquema home office, ela precisou se distanciar do trabalho na redação. Em março, a irmã que morava em Portugal, antes mesmo de tomar conhecimento sobre o primeiro contágio no Brasil, resolveu sair do país europa e voltar ao Brasil.

“Não me preparei para a pandemia. Na semana seguinte após buscar minha irmã, no aeroporto não voltei mais para a sede. Estou trabalhando de casa desde março e fico sozinha na maior parte do tempo, mas não é legal porque nãoh é meu ambiente de trabalho”, conta a jornalista. Escalada para as edições de final de semana, a jornalista vez ou outra precisa estar na rua quando a produção de suas matérias demandam personagens específicos. “Às vezes a gente está procurando um personagem que você sabe que você vai encontrar em determinado lugar. Se você não está conseguindo falar com ninguém no telefone, temos essa opção. De casa acaba ocorrendo essa limitação”, explica Thais. 

Além de jornalista, Thais é graduanda em Letras e faz mestrado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela conta que uma dos principais desafios da profissão neste momento é conseguir se desconectar. “WhatsApp virou trabalho. No meu tempo livre, fico o mínimo possível nele. As demandas não necessariamente chegam no seu horário de trabalho porque [cada um tem o seu]. Eu vou mandar uma mensagem para uma fonte no meu horário de trabalho e não necessariamente a fonte vai responder no meu expediente”, relata a jornalista. 

Para Thais, uma das coisas que a ajudou a desestressar  na pandemia foi ter “pets” em casa. “Tenho um cachorro e uma coelha que são minhas alegrias. São seres que precisam de você que tão alí e vão te dar carinho incondicional. Claro que você não tem que usar pet como muleta, mas são bichinhos que vão ajudam muito na saúde mental”.

A iniciativa das empresas é fundamental

De acordo com Livia Castelo Branco, psiquiatra e médica assistente da clínica Holiste, os jornalistas são profissionais considerados da “zona de risco” para problemas de saúde mental, pois têm horários irregulares, pressão por horários e pautas, risco de violência com as fontes (o que pode gerar ansiedade) e desvalorização do trabalho. Para a especialista, estar atento às demandas individuais dos profissionais é uma das atitudes positivas para o desenvolvimento do bem-estar emocional dos colaboradores no ambiente de trabalho, no caso da imprensa. 

Flexibilização de horário, tipo ou carga de trabalho; promoção; grupos de discussão sobre as demandas atuais; incentivo a adoção de hábitos saudáveis de vida, tais como atividade física, alimentação adequada e horários regulares de sono. Essas  são algumas das possibilidades de estimular a qualidade de vida no trabalho. Livia considera ainda que incentivar o acompanhamento psicológico, independente de demandas específicas no trabalho, simplesmente para manutenção da saúde mental, é interessante. 

A psicóloga Tatiana Mendes concorda. “O jornalismo é uma profissão que exige um esforço e uma demanda diferenciados São profissionais que lidam com o dia a dia de notícias, sejam elas consideradas boas ou ruins, o que pode afetar seu estado de humor”, afirma.

A qualidade de vida no trabalho é essencial para proporcionar ao trabalhador uma atenção maior a sua saúde mental. “Se o trabalhador está em um ambiente que lhe possibilita estar atento a essa demanda, é perfeito, porém, sabemos que a maioria dos ambientes de trabalho reforça a prática exploradora de tarefas diárias sem respeitar ou dar atenção à saúde mental de seus funcionários”, pondera Mendes. 

Dicas para o autocuidado

Para Livia Castelo Branco, dedicar-se a atividades de lazer, engajar-se na socialização, atividade física, dieta rica em fibras, higiene do sono e acompanhamento psicológico, são possibilidades para que os trabalhadores tenham maiores possibilidades de estímulo ao bem-estar. No caso de insatisfação intensa e crônica com o trabalho, ela considera que a mudança de emprego seja a melhor solução.

Tatiana traz dicas semelhantes. “Cuidar do corpo e da mente tem que ser um autocuidado frequente e não apenas quando aparece um sintoma ou estresse exacerbado”, diz Mendes.

*Graduanda de Jornalismo, estagiária da ABI.

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Notícias

Um sopro de esperança

I’sis Almeida e Joseanne Guedes

De olhos fechados, enquanto atravessava os corredores do hospital, Fernanda Aragão repetia para si mesma que ia dar tudo certo. “Botei na cabeça que estávamos saudáveis e não importava se iria parir na ala reservada, com todo mundo vestido de astronauta”. Depois de uma gestação tranquila, ela se preparava para vivenciar o momento mais importante de sua vida, mas o resultado positivo para o coronavírus (Sars-CoV-2) dias antes do parto havia instalado um clima de medo e incertezas. A jornalista estava trabalhando em home office desde o início da pandemia, atenta a todas as medidas de prevenção – principalmente por saber que gestantes e puérperas são mais vulneráveis a infecções – e só fez o teste para cumprir o protocolo da unidade hospitalar.

O avanço do novo coronavírus sobre os jornalistas e demais profissionais da comunicação na Bahia tem causado preocupação e cobrança de medidas para garantir a segurança da categoria, cuja atuação é essencial contra a disseminação do vírus, através do combate a boatos e desinformação. Ao menos 210 jornalistas em atividade morreram nos últimos três meses para a Covid-19 em 38 países, muitos depois de cobrir a pandemia, informa a Emblem Press Campaign (PEC).

No Brasil, o balanço diário do Ministério da Saúde divulgado na noite desta quarta (5) registra 97.256 mortes por Covid-19 (3.736 na Bahia). São 2.859.073 casos acumulados. 741.180 pacientes seguem em tratamento. 2.020.637 pessoas que conseguiram vencer a doença. E uma delas é Fernanda Aragão.

Completamente assintomática, ela chorou, angustiada, com a possibilidade de não poder cuidar de sua filha. Às 3h34 do dia 28 de junho tudo passou. Manuela chegou, trazendo alívio e esperança. “Ela toda cinza, comprida, durinha e com os olhos tão espertos e penetrantes que nunca vou esquecer”, se derrete. O cheirinho da pequena Manu ela só pode sentir dois dias depois, quando finalmente saiu o teste negativo para a Covid-19. “Mas o amor já começou a crescer ali, naquele momento. Renasci e reconheci a força que tenho”, celebra a jornalista.Outra mamãe que passou um período difícil de isolamento foi a jornalista Camila Marinho, da TV Bahia. Através de um vídeo publicado no Instagram, no início de junho, ela revelou que estava com Covid-19 e, assim como Fernanda, totalmente assintomática. “Eu jamais imaginava que estivesse com a doença, porque eu não apresentei qualquer sintoma e só fiz o teste porque uma pessoa próxima a mim testou positivo”, contou. Camila foi submetida ao exame RT-PCR (sigla em inglês para transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase). O famoso “teste do cotonete” consegue identificar a presença do vírus no organismo do paciente, por meio da análise do material coletado do nariz e da garganta. “Quantas outras pessoas podem estar na mesma situação? Assintomáticas e transmitindo o vírus. É um alerta para todos nós, sobre o quanto é preciso redobrar os cuidados”, destacou.Segundo ela, a TV Bahia foi cuidadosa, colocando a equipe em esquema de revezamento, para diminuir a exposição. “Dentro da emissora, fomos separados, para evitar aglomeração. Mas, a verdade é que estamos todos sujeitos a isso. Alguns vão desenvolver a doença sem saber, outros com sintomas leves, e outros tantos, infelizmente vão precisar de um leito e podem perder suas vidas”, refletiu. Trancada em seu quarto, a mãe de Samuel e Antônio ficou na companhia dos livros, do sol que chegava pela janela, se curando. “De vez em quando, Antônio batia na porta, para perguntar se eu estava bem, olhando pela fechadura”. No período do isolamento, ela fez lives, recebeu muitas mensagens e agradeceu o carinho do público, até voltar às atividades em meados de junho, quando retornou ao Jornal da Manhã.

Medo do desconhecido

O radialista Zé Eduardo chegou a ficar vinte dias fora da Record TV Itapoan, da Rádio Metrópole e do site BNews, para se recuperar da Covid-19. O apresentador do Balanço Geral foi diagnosticado após um final de semana com dor de cabeça e indisposição. Segundo ele, a recuperação foi “um misto de tranquilidade, ansiedade e medo”. Uma tomografia constatou que ele teve 15% do pulmão comprometido. “A gente não sabe que bicho é esse que está dentro da gente”, exclama o jornalista. “Durante os dias de incerteza, o principal desafio foi equilibrar a calma e a serenidade para esperar a cura. Ao mesmo tempo, vinha a incerteza do que poderia estar se mexendo lá dentro”, diz.Mesmo doente e sem ir ao estúdio, ele continuou trabalhando na rádio. Para Zé Eduardo, continuar ocupado foi fundamental em sua recuperação. “Era preciso pautar, marcar, estudar o entrevistado. Era meu passatempo dentro de casa”, observa. “Bebi muita água e tomei os remédios necessários. Recebi o apoio das empresas que trabalho. Só que essa é uma doença que você tem que se curar só”, afirma. “A principal mudança é que você começa dar um valor maior a sua vida e, ao mesmo tempo, fica o desejo de que isso tem que passar o mais rápido possível. Continuo tomando todos os cuidados, com máscara, usando álcool gel. Estou praticando atividade física, correndo diariamente, estou muito bem. Fiz exame e meu pulmão hoje está limpo”, comemora.

Dores nas costas, febre e muita moleza no corpo. Embora sejam sintomas considerados leves – e comuns a uma virose qualquer, Heliana Frazão afirma que não teve dúvidas de que estava com o coronavírus. “A gente vê o noticiário o tempo todo, as pessoas morrendo, UTIs lotadas, o mundo todo com medo, você fica apavorado também”, opina. “Rezava muito, pedia a Deus que não permitisse as complicações no meu caso. Tive também dor de garganta, diarreia, dor no estômago, perda do olfato”, lembra a jornalista. Morando sozinha, temeu uma piora no quadro. “Eu dormia com muito medo de acordar de madrugada sem respirar. Medo de morrer sozinha aqui em casa, de uma complicação”, contou.

Para Frazão, o mais complicado foi ter que enfrentar a doença sozinha. Durante o isolamento, ela se valeu de aplicativos de mensagens para estabelecer contato com o médico e amigos mais próximos. A jornalista, que atualmente é freelancer do Estado de S. Paulo, confessa ter feito uma “dieta de notícias” durante a recuperação. “Para tratar a doença, procurava me alimentar bem, evitei o noticiário, não li sobre as mortes, foquei na minha cura. Assistia séries e filmes. O pior é a solidão que essa doença te impõe”, disse. Ela também destaca o caráter imprevisível da Covid-19. “Em cada pessoa, ela se manifesta de uma forma. Com cinco dias eu já estava sem sintomas praticamente, só moleza e os problemas psicológicos. Mas tinha medo de ter uma recaída. Colocava o termômetro, com 35°C achava que estava com febre. A gente fica com traumas”, relata.

A recomendação do Ministério da Saúde para quem tem sintomas leves é que procure os postos de saúde apenas se sentir necessidade de atendimento médico. Caso contrário, é para se tratar em casa, com repouso, alimentação adequada e hidratação. Evitar que a imunidade baixe é essencial. O fato é que nem todos manifestam a forma mais leve do vírus.

A evolução dos sintomas respiratórios levaram o jornalista e professor Nilson Lage a passar alguns dias na UTI, logo no início de março. Em um relato publicado em sua rede social, no dia 21 de julho, ele contou sua experiência. “Descobri agora que não só contraí a infecção por Covid-19 como devo ter sido dos primeiros a adoecer desse mal em Florianópolis, ainda no final de fevereiro, quando aqui falava-se nisso como possibilidade distante”, afirmou. Lage se submeteu ao exame sorológico que constatou seu contato com o vírus ativo (IGM) e também o desenvolvimento de anticorpos (IGG). Ele é do chamado grupo de risco para a Covid-19, no qual estão incluídos idosos e pacientes com doenças crônicas (diabetes, hipertensão, asma etc). Há cerca de duas décadas, o professor convive com uma doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) que facilita a ocorrência periódica de pneumonias bacterianas resistentes à vacinação.

Em outubro passado, uma tomografia revelou algo mais – o tumor canceroso no pulmão esquerdo. “Sou um quebra-cabeças pulmonar”, afirmou, bem humorado. Ligado a aparelhos que registravam seus sinais vitais, passou quatro ou cinco dias ali, recebendo medicamentos que o mantiveram vivo. “Estava para ser entubado, mas a jovem médica tentou, antes, colocar-me em uma cápsula hiperbárica, e deu certo”. De acordo com ele, a tosse desapareceu na segunda semana de julho, após meses. “O fôlego ainda é curto, mas a memória permanece atenta. Completei o ciclo da quimioterapia e retorno ao tratamento oncológico. Provavelmente, estarei por aqui por mais algum tempo”, brincou.

Aumento da ansiedade

Uma das consequências da pandemia do novo coronavírus é o isolamento social e a sensação de solidão. Depois de mais de cem dias em casa, algumas pessoas passaram a ter doenças psicológicas, neurológicas e cardíacas. Elas têm procurado hospitais achando que estão com o vírus. O estresse e o transtorno de ansiedade também são presença marcante na maioria dos relatos de pacientes já diagnosticados com Covid-19. “Temi tanto que isso ocorresse, devido ao meu estado pessoal, que inclui hipertensão controlada por remédios e obesidade, mas o temor não foi suficiente para me blindar. Mesmo tomando todos os cuidados necessários, me contaminei”, relatou o jornalista Yuri Silva, em um texto para o site Mídia 4P

O editor do veículo está desde o início da pandemia atuando na assistência direta a comunidades em situação de vulnerabilidade social. Foi depois de uma manhã intensa de trabalho que ele sentiu forte dor de cabeça e achou que era estresse. Yuri se automedicou e apresentou melhora, mas, dias depois a dor veio acompanhada por calafrios e desconforto respiratório. “Nem foi tão grave do ponto de vista clínico, embora tenha me marcado de forma intensa, eterna, cortante, para sempre”, afirma.Diante do bom estado físico, Yuri chegou a duvidar se estava realmente contaminado. Então, o resultado do teste SWAB RT-PCR veio para confirmar. “Positivo’ apenas o exame, porque a partir dali comecei a entrar em um poço de ansiedade. A sensação do resultado fez minhas pernas tremerem. A sensação provocada pela doença também era estranha. Logo no dia seguinte, 15 de julho, senti um grande peso e fraqueza nos membros inferiores. Profundamente preocupado, angustiado. Sem reação outra a não ser a do choro, do medo, a da inércia e tantas outras. Simultâneas”, relatou. “Ainda tenho tosse, cansaço pelo mero trabalho de digitar sentado no computador, e o corpo age com moleza, como se não quisesse fazer nada que eu mando. Ainda penso lentamente e mantenho as vitaminas C no cardápio matinal e noturno, para fortalecer a imunidade e garantir minha travessia rumo à recuperação total. O medo mais duro que me abateu era o da não-despedida”, confessou o jornalista.

Um pesquisa feita pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), para monitorar as condições de trabalho dos jornalistas durante a pandemia, revelou que 177 profissionais de imprensa, o equivalente a 61,25% dos entrevistados, relataram aumento da ansiedade e do estresse, uma verdadeira epidemia oculta com potenciais efeitos na saúde mental. A entidade também realiza um levantamento sobre jornalistas infectados pela Covid-19 (acesse o formulário aqui). A Fenaj ressalta a necessidade de ações das empresas de comunicação para proteger seus trabalhadores/as, já inevitavelmente alcançados pelas interferências da pandemia nas relações de trabalho, com redução de jornada e salário, atuação em regime domiciliar sem a estrutura necessária, entre outros aspectos.

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Crescimento de casos de Covid-19 nos veículos de comunicação preocupa Sinjorba

Oito profissionais testaram positivo na Rede Bahia, entre as equipes da TV Bahia e TV Santa Cruz, sendo um jornalista. Um motorista do jornal A Tarde apresentou a doença, um jornalista da Record TV Itapoan testou positivo, enquanto outro está sob suspeita. Os casos foram divulgados pelo Sinjorba – Sindicato dos Jornalistas do Estado da Bahia. O avanço do novo coronavírus sobre os jornalistas e demais profissionais da comunicação na Bahia tem preocupado a entidade, que desde o início da pandemia cobra medidas para garantir a segurança da categoria.

Em matéria divulgada neste domingo (24), o Sinjorba lembra que, antes mesmo da confirmação desses casos, já havia solicitado à Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) a inclusão dos jornalistas e demais profissionais de imprensa nos grupos de testagem para Covid-19 (aqui). Em 16 de março, início da quarentena, a entidade enviou documentos a todos os veículos de comunicação, com procedimentos e orientações que poderiam ser adotadas pelos profissionais e pelas empresas para evitar a exposição à doença (aqui). No dia 25 de março, a entidade endereçou ao secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas Boas, ofício solicitando vacinação de jornalistas contra o vírus Influenza.

O Sindicato também chegou a enviar, no dia 2 de abril, ofício ao governador Rui Costa, em que ressalta a gravidade da crise de saúde pública e pede para que “os profissionais de imprensa sejam incluídos entre os grupos que receberão as vacinas contra influenza, em campanha já iniciada pelas prefeituras baianas”. A comunicação destacou o decreto federal 10.288, de 22 de março de 2020, define os serviços relacionados à imprensa como essenciais e que os profissionais devem receber medidas para evitar adoecimento. Em novo ofício enviado à Sesab no último dia 13, o Sinjorba insistiu na inclusão de jornalistas e radialistas no grupo para teste da covid-19.

“Como as autoridades nem sequer respondem, vamos ao Ministério Público. Pedi ao advogado hoje para providenciar isso”, revelou Moacy Neves, presidente do Sinjorba. O dirigente considera a vacinação e a testagem ações essenciais para o cumprimento do inciso 3º, artigo 4º do decreto 10.288. Para ele, é necessário que as empresas ajam com transparência ao tratar dos cuidados preventivos que estão tomando, já que diz respeito à saúde dos trabalhadores. “Queremos que os veículos se responsabilizem pela testagem dos jornalistas. Além disso, é necessário mais cuidados com os profissionais que precisam ir às ruas, não enviando o trabalhador para uma pauta em transporte comunitário, por exemplo, bem como somente em situações extremas, evitando coberturas desnecessárias, além de fornecer EPIs regularmente”, reivindica.

“O jornalismo foi considerado serviço essencial, mas não foi incluído nas medidas para evitar o contágio da covid-19 e nem nas campanhas de vacinação contra a gripe”, reclama Fernanda Gama, vice-presidente da entidade. Ela destaca que poucas prefeituras atenderam ao pedido do Sindicado pela inclusão dos profissionais de imprensa na campanha de vacinação contra o H1N1. “Diante da falta de coerência das autoridades, que decretam a essencialidade do serviço mas não criam condições para isso, cabe às empresas tomar providências e cuidados para preservar a saúde dos profissionais”, completa Fernanda.

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) enviou em março ofício ao Ministério da Saúde, solicitando a inclusão dos jornalistas no grupo prioritário de vacinação da gripe (Influenza A (H1N1), Influenza B e Influenza A (H3N2). Isso para garantir que os municípios recebam mais doses da vacina. No entanto, de acordo com calendário divulgado pelo MS, a Campanha Nacional de Vacinação entrou na terceira e última fase (será encerrada no dia 5 de junho), sendo que até agora as entidades não obtiveram resposta positiva sobre a imunização da categoria.

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