Os parlamentares brasileiros que viajaram a Caracas não conseguiram cumprir a agenda planejada para esta quinta-feira (18), que incluía visitar presos políticos na Venezuela. Eles tinham a intenção de ir do aeroporto até o presídio de Ramo Verde, onde permanece preso o oposicionista Leopoldo López. Ao chegar, os brasileiros ficaram retidos no avião por 20 minutos. Os seguranças pediram para que todos entrassem nos carros e seguissem diretamente ao presídio. Os parlamentares tiveram que abortar duas vezes a missão, porque se depararam com uma estrada bloqueada e durante o caminho sofreram o assédio de manifestantes chavistas que se opunham à expedição. O episódio motivou forte repúdio e fez o Itamaraty reconhecer que o bloqueio constituiu “hostilidades” contra os senadores. O grupo voltou ao Brasil no início da madrugada desta sexta-feira (19). A comitiva desembarcou na Base Aérea de Brasília pouco depois de meia-noite.
O grupo de senadores foi à Venezuela para pressionar o governo do presidente Nicolás Maduro a libertar presos políticos e marcar eleições parlamentares, pretendiam também além de visitar Leopoldo López, se reunir com outros políticos da Mesa da Unidade Nacional, em Caracas, e visitar o prefeito Antonio Ledezma, que cumpre prisão domiciliar. A delegação viajou em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Ao chegar ao aeroporto os senadores foram recebidos pelas esposas dos presos políticos venezuelanos: Lilian Tintori, mulher de Leopoldo López; Mitzy Capriles, casada com Antonio Ledezma; Patricia de Ceballos, esposa de Daniel Ceballos; e por María Corina. A caminho do centro de Caracas, o veículo que levava os senadores Aloysio Nunes, Aécio Neves, Cássio Cunha Lima, Ronaldo Caiado, José Agripino, José Medeiros, Sérgio Petecão e Ricardo Ferraço, ficou parado no trânsito e um grupo de cerca de 50 manifestantes começou a bater na lataria e gritar slogans em homenagem ao falecido presidente Hugo Chávez. Diante da hostilidade, o ônibus retornou ao aeroporto e encontrou o terminal fechado.
“O que aconteceu aqui hoje ficou acima das piores expectativas. Uma missão oficial do Senado foi duramente agredida e o governo brasileiro nada fez para nos defender. Do ponto de vista político cumprimos nossa missão. Aos olhos do mundo, ficou clara a escalada autoritária e antidemocrática do governo venezuelano”, protestou o senador Aécio Neves, já de volta ao Brasil. Os problemas enfrentados na Venezuela por senadores foram repudiados pelos deputados. Na Câmara, a sessão que votaria o projeto do aumento de impostos de empresas acabou suspensa pelas manifestações dos parlamentares e uma moção de repúdio foi aprovada contra o governo da Venezuela. Também foi aprovada no plenário do Senado uma moção de repúdio ao tratamento que hostil e violento recebido no país vizinho.
Parte da comitiva acusou a representação brasileira em Caracas de não ter prestado a devida assistência ao grupo. O Ministério de Relações Exteriores do Brasil negou a acusação, garantindo que foi a própria Embaixada em Caracas que proporcionou o transporte para a delegação, que contou com a escolta de batedores venezuelanos. A pasta lembrou ainda que o embaixador Ruy Pereira foi receber o grupo no aeroporto, ainda que tenha seguido em veículo separado. O Itamaraty divulgou nota na noite desta quinta-feira (18) em que critica os “inaceitáveis atos hostis” de manifestantes contrários à comitiva de senadores brasileiros em Caracas e afirma que pedirá ao governo venezuelano “os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido”.
Leia abaixo a íntegra da nota
“O Governo brasileiro lamenta os incidentes que afetaram a visita à Venezuela da Comissão Externa do Senado e prejudicaram o cumprimento da programação prevista naquele país. São inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros.
O Governo brasileiro cedeu aeronave da FAB para o transporte dos Senadores e prestou apoio à missão precursora do Senado enviada na véspera a Caracas.
Por intermédio da Embaixada do Brasil, o Governo brasileiro solicitou e recebeu do Governo venezuelano a garantia de custódia policial para a delegação durante sua estada no país, o que foi feito.
O Embaixador do Brasil na Venezuela recebeu a Comissão na sua chegada ao aeroporto de Maiquetía, onde os Senadores e demais integrantes da delegação embarcaram em veículo proporcionado pela Embaixada, enquanto o Embaixador seguiu em seu próprio automóvel de retorno à Embaixada.
Ambos os veículos ficaram retidos no caminho devido a um grande congestionamento, segundo informações, ocasionado pela transferência a Caracas, no mesmo momento, de cidadão venezuelano extraditado pelo Governo colombiano.
O incidente foi seguido pelo Itamaraty por intermédio do Embaixador do Brasil, que todo o tempo se manteve em contato telefônico com os Senadores, retornou ao aeroporto e os despediu na partida de Caracas.
À luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países, o Governo brasileiro solicitará ao Governo venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o ocorrido.”
*Luana Velloso/ABI com informações do Jornal O Globo, El País, O Estado de S. Paulo e G1.