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Jornalista brasileiro lança livro sobre mulheres estupradas por soldados no Haiti

“Se você gritar, eu te mato aqui mesmo”. Essa foi uma das frases ouvidas pela haitiana Martine Gestimé de um militar brasileiro, enquanto era estuprada dentro da base militar, em Porto Príncipe, capital do Haiti. A história de Martine está descrita no livro reportagem “Aquilo que resta de nós” (Páginas Editora), do jornalista  Igor Patrick. Escrita em 10 dias, a publicação de 146 páginas é o resultado de uma investigação que durou sete meses. Igor viajou ao país como correspondente da agência de notícias russa Sputnik, para cobrir o final da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do país, a Minustah. Além do drama de Martine, a obra traz os relatos de outras haitianas vítimas da violência: Jacquendia, Régine e Fabiana. Com vidas marcadas pela miséria, em um país destroçado, física e simbolicamente como nação, elas têm em comum a luta pela sobrevivência.

O estupro ocorrido em 2007 deixou grávida a haitiana Martine Gestimê – Foto: Igor Patrick

A  violência sofrida por elas é mais um capítulo de um cenário trágico, onde militares foram convocados para promover a paz, mas distribuíam o horror. “Uma delas foi estuprada por um soldado brasileiro; outra, por um jordaniano; a terceira, por um nigeriano; e a última, por um africano, que ela nem sabe o país”, conta o autor. Cada página apresenta ao leitor, com riqueza de detalhes, o antes dessas mulheres, repleto de sonhos e desejos de uma vida mais justa. Mas, após os abusos, elas conheceram a crueza do pós-violência sexual, que trouxe o trauma, a culpa, a hostilidade dos familiares e o abandono das vítimas grávidas por seus algozes.

As quatro sobreviventes foram obrigadas a criar os filhos resultantes de seus estupros. No Haiti, o aborto é uma prática proibida pelo código penal. As mulheres podem ser presas e o profissional de saúde que realiza o procedimento pode ser obrigado a trabalhos forçados, situação que acaba obrigando muitas a levar a gravidez até o fim, mesmo quando em consequência de atos criminosos. Além disso, até 2008, a lei haitiana não permitia que crianças sem pais declarados fossem registradas. Com isso, aquelas que nasceram até então – como a filha de 9 anos de uma das personagens, estuprada pelo jordaniano – estão num limbo jurídico, sem documentos e sem existir oficialmente. “O que vemos no livro é a história de mulheres que, fragilizadas pela pobreza, foram alvo de soldados que deveriam promover a paz e a segurança. No lugar da ajuda, veio o estupro”, diz Igor Patrick.

O jornalista entrou em contato com o Ministério da Defesa sobre a denúncia feita pela sobrevivente Martine Gestimê contra o soldado brasileiro no livro. Dez dias depois, recebeu uma nota oficial sobre o orgulho do Exército nacional em não ter nenhum soldado na lista dos investigados da ONU. “Entrevistei o embaixador, e ele não quis entrar no mérito do caso contra o soldado brasileiro, porque a vítima diz ter sido atraída para a base militar nacional com a promessa de um pacote de biscoitos e estuprada ali dentro. Segundo ele, se isso fosse investigado e comprovado, ele precisaria de orientações do Itamaraty porque não tinha precedentes sobre o que fazer a respeito”, revela Patrick.

Ele  entrevistou várias mulheres haitianas que afirmam ter sido violentadas por brasileiros e, chegou, inclusive, a tentar ajudar uma delas – uma menina de 16 anos que foi violentada e já tem uma filha de 3 anos – mas descobriu por que quase nenhuma sobrevivente denuncia o crime. “O embaixador não aceita recebê-la porque estaria corroborando a denúncia. O advogado mais barato cobra US$ 200 só para ouvir o caso – de uma mulher que não tem dinheiro para comer”.

Os direitos autorais do livro foram integralmente revertidos para a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que atua no Haiti prestando trabalhos de emergência pediátrica, obstetrícia, prevenção e tratamento da cólera e acompanhamento emergencial para vítimas de abuso sexual no país.

Legado de violência

Soldados brasileiros desembarcaram no Haiti, em 2004, para liderar tropas de diversas nações da Minustah. Após 13 anos, eles retornam ao Brasil como corresponsáveis por uma ação que deixou para o Haiti um legado de mais de 30 mil mortos, em decorrência da cólera, e mais de duas mil vítimas de abusos sexuais, entre outras violências. A missão de paz, encerrada pela ONU no último domingo (15), chegou a reunir em território haitiano 20 mil militares de várias nacionalidades, como Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Filipinas, Guatemala, Indonésia, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Sri Lanka e Uruguai.

“A Minustah também fez muita violência contra os estudantes, contra os pobres que moram nas favelas. Estupraram as mulheres, os homens. Cometeram muita violência contra as pessoas no país e também trouxeram a epidemia de cólera. Foi um desastre muito grave feito pela ONU”, afirmou em entrevista ao Brasil de Fato o membro do partido Encontro dos Socialistas, Guerchang Bastia.

Em uma ação muito criticada, soldados brasileiros entraram na favela de Cité Soleil, habitada por 200 mil pessoas, e cometeram o que os haitianos consideram ser um massacre. Pelo menos 27 civis morreram durante a ação, sendo que 20 eram mulheres com menos de 18 anos. Bastia conta que o episódio é considerado um ensaio para as ações comandadas pelo Exército brasileiro nas favelas do Rio de Janeiro: “Os soldados brasileiros mataram muitas pessoas nas favelas do Haiti. Entendemos, porque o Brasil tem favelas, então, eles se preparam para lutar contra os pobres e, para isso, experimentaram essas novas estratégias nas favelas no Haiti”.

O cenário de violações será denunciado no Tribunal Popular que está organizando ações em todo o país para denunciar a ocupação. O Tribunal Popular, iniciado em julho, vai realizar atividades em todo o Haiti até 2018. As denúncias serão importantes para mensurar quantas pessoas morreram pelas mãos da Minustah, já que não há nenhum balanço efetivo das Nações Unidas com esses dados.

*Com informações de Jeff Lorentz para o portal Bhaz, jornal O Tempo e site Brasil de Fato.

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Sinjorba pede apoio à SSP depois de jornalista ser agredida

O Sinjorba (Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia) divulgou nota em que repudia as agressões que vitimaram uma equipe de reportagem da TV Aratu, na Cidade Baixa de Salvador, e pede apoio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) para que haja punição conforme a lei. A jornalista Ticiane Bicelli produzia uma matéria sobre a cobrança para uso de sanitários na feira de São Joaquim, na manhã de sexta-feira (16), quando foi agredida por duas mulheres. “Essa agressão a integrantes da imprensa é um grave sintoma da violência que permeia a sociedade por atingir pessoas que são responsáveis por dar voz aos problemas desta mesma sociedade”, diz a nota.

A repórter teve o cabelo puxado, foi vítima de socos, pontapés e mordida, além de ter sido ameaçada de morte. O cinegrafista Liberato Santana também foi agredido. O microfone e uma parte da câmera foram danificados. “Ela saiu e disse que ia buscar uma faca para me esfaquear, foi quando uma vendedora que trabalha na Feira me acolheu dentro de sua tenda”, explicou Ticiane ao jornal A Tarde.

A confusão teria sido iniciada na última terça-feira (13), quando a repórter estava produzindo outra matéria. “Precisei utilizar o banheiro, quando percebi que para o ‘número 1’ era cobrado R$ 0,50. Já para o ‘número 2’ o valor subia para R$ 1. Quis filmar, ela disse que não podia, mas afirmei que voltaria depois. Hoje, quando fomos gravar, a mulher veio reclamar que não queria que a filmássemos. Disse que queria registrar apenas a placa, ela então me empurrou, empurrei de volta e entramos em luta corporal”. A mãe da suposta agressora também teria batido na jornalista. As três foram levadas para a Central de Flagrantes, onde a repórter prestou queixa. Ela também realizou o exame de corpo de delito, no Insituto Médico Legal (IML).

  • Nota do Sinjorba:

“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia protesta e repudia agressão sofrida por equipe da TV Aratu, formada pela jornalista Ticiane Bicelli e pelo cinegrafista Liberato Santana, quando produziam matéria jornalística sobre cobrança do uso de banheiros no Mercado do Peixe, na Cidade Baixa.
Os profissionais foram agredidos física e verbalmente por uma mulher de identidade não informada e que, supostamente, é responsável pela cobrança.
O equipamento utilizado pelo cinegrafista foi quebrado e os profissionais registraram queixa em delegacia. Essa agressão a integrantes da imprensa é um grave sintoma da violência que permeia a sociedade por atingir pessoas que são responsáveis por dar voz aos problemas desta mesma sociedade.
O Sinjorba solicita o imprescindível apoio da Secretaria de Segurança Pública da Bahia para que a acusada seja identificada e julgada na forma da Lei.

Salvador, 16/06/2017 | Marjorie da Silva Moura – Presidente do Sinjorba”

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No Dia dos Namorados, SPM divulga alerta sobre relacionamento abusivo

A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) resolveu aproveitar as celebrações do Dia dos Namorados para lançar um importante alerta sobre relacionamentos abusivos. A campanha #NãoéAmorQuando aposta em peças coloridas, vídeos e infográficos para conscientizar sobre violência contra a mulher.

Pela Lei Maria da Penha, é considerado crime contra a mulher a violência psicológica, moral, sexual, patrimonial ou física. De acordo com a SPM, há uma vasta literatura que aponta sinais clássicos de comportamentos abusivos e violência psicológica. As mulheres podem se identificar com algum ou alguns deles.

Foi o caso da educadora Tulipa*, 42 anos, cuja história foi contada através de uma matéria do jornal Correio*. A professora chegou a dar aula em três universidades ao mesmo tempo, é mãe de três filhos e estava casada havia 15 anos. Mas percebeu que estava em uma relação tóxica quando começou a adoecer. Gastrite, esofagite, pedras na vesícula e hemorroidas se juntaram ao diagnóstico de uma depressão profunda e de uma ansiedade generalizada. “Minha vontade, na época, era de ter um câncer maligno e morrer”, contou em depoimento ao veículo.

Embora não houvesse agressão física, ela era vítima de chantagens, perseguições, espionagem. Para romper o ciclo violento, ela levou o caso à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) e procurou a instituição Loreta Valadares, centro de referência municipal que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica. Chegou lá, apavorada. O caso está nas mãos da Justiça agora.

A Secretária Especial de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, afirma que muitas mulheres sofrem violência e não se dão conta. Quando são xingadas, são expostas em grupos, têm sua autoestima ferida ou até mesmo perdem a autonomia sobre seu patrimônio”, explica.
“É importante deixar claro que as mulheres têm ajuda. Hoje, em todo o Brasil, atendemos milhares de mulheres pelo Ligue 180 tirando dúvidas e informando sobre as leis e a Rede de Atendimento à Mulher”, explica a secretária Fátima Pelaes.

Qualquer pessoa que precisar de informações ou queira fazer denuncia de um relacionamento abusivo, pode ligar de forma gratuita e anônima para o Ligue 180. Em 2016, o Ligue 180 realizou mais de um milhão de atendimentos (1.133.345), 51% a mais do que os registros de 2015. Do total, 12,3% relatam violência, sendo a física em primeiro lugar (50,70%), seguida da violência psicológica (31,80%).

Saiba onde se pode buscar ajuda

  • Centro de Referência Loreta Valadares (CRLV) Praça Almirante Coelho Neto, nº 1, em frente à Delegacia do Idoso – Barris. Telefone: (71) 3235-4268
  • Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Atende famílias em situação de vulnerabilidade social. Telefones: (71) 3115-9917 (Coordenação estadual) e (71) 3202-2300 (Coordenação municipal)
  • Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social) Atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefones: 3115-1568 (Coordenação Estadual) e 3176-4754 (Coordenação Municipal)
  • Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) Ambas ligadas à Polícia Civil da Bahia – Em Brotas, na Rua Padre José Filgueiras, s/n – Telefone: (71) 3103-7000; e em Periperi, na Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol – Telefone: (71) 3117-8217.
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Repórter é morto a tiros em plena luz do dia no México

O jornalista Javier Valdez, conhecido como o maior cronista do tráfico de drogas no México, foi morto a tiros em plena luz do dia, na manhã de ontem (15), em Culiacán, capital do estado de Sinaloa. Segundo informações do jornal El país, Valdez é o sexto jornalista assassinado somente este ano no país, mais que a metade do ano passado, com 11 execuções. Desde 2000, mais de 100 profissionais de imprensa foram mortos.

O El País classifica as mortes de repórteres como “golpe para o jornalismo”, ainda mais pela escandalosa impunidade instalada e o silêncio das instituições. Pelos seis assassinatos registrados este ano, ainda não houve nenhuma prisão.

Javier Valdez era um dos jornalistas especializado em crime organizado mais respeitados do México. Fundou o semanário Ríodoce e foi correspondente do jornal La Jornada. Valdez também foi autor de vários livros sobre o tráfico de drogas, como “Miss Narco”, “Huérfanos del narco” e “Malayerba”, nome também de sua coluna no semanário. Em 2011, o Comitê para a Proteção de Jornalistas concedeu o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa pelo seu trabalho.

Fonte: El País

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