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“Não acredito em sociedade sem jornalismo”, diz Mauri König

A importância da reportagem na sobrevivência do jornalismo foi o tema do debate da segunda edição do “Em Pauta ZH”, uma série de eventos que o Grupo RBS promove para discutir temas relacionados à profissão. Convidado para a exposição jornalística desta edição, Mauri König, repórter investigativo e um dos mais premiados do Brasil, relembrou suas grandes reportagens, abordou momentos perigosos de sua carreira e comentou sobre a crise no mercado. Para ele, não há sociedade sem jornalismo. “Não preciso nem dizer o quanto a imprensa foi importante para o Brasil nas últimas décadas. O jornalismo tem de ser aquilo que importa para as pessoas. Quero que aquilo que escrevo provoque uma mudança”, explicou.

O repórter paraense reiterou a importância do processo de apuração. “Prefiro ter o trabalho dobrado para checar tudo. Não faço ideia de quantas vezes leio minhas reportagens. Muitas vezes deixei de publicar para evitar erros. Prefiro ser ameaçado do que ser acionado judicialmente pelo erro”, completou. Entre as reportagens que marcaram sua carreira, König relembrou a denúncia de adolescentes para o serviço militar no Paraguai. Após a revelação disso, ele e sua família sofreram ameaças. Em outra ocasião, König foi espancado.

Mauri König, que trabalhou por quase 13 anos no jornal Gazeta do Povo, foi demitido junto com dez jornalistas no início deste mês. O jornal justifica as demissões em razão da crise que afeta Brasil e o mercado de comunicação. Houve readequação de operações, equipes e projetos. Há algumas semanas, a empresa havia demitido três jornalistas e fechado postos de trabalho. “Apesar da crise, o impresso ainda está vivo. Nunca se leu tanto jornal. Por mais crise que se tenha, não vejo um jornal recusando uma boa pauta”, defende o jornalista, que recebeu o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do Comitê de Proteção aos Jornalistas, de Nova York, e o Cabot Prize da Columbia University, além de dois Essos.

 *Informações do Zero Hora 

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Décima edição do Congresso da Abraji segue com inscrições abertas

De 2 a 4 de julho, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) vai realizar a décima edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo, no campus da Vila Olímpia da Universidade Anhembi Morumbi. O prazo para as inscrições com preço promocional vai até o dia 1º de junho (segunda-feira). Depois da data, os valores serão maiores. Na programação, o evento traz mais de 70 painéis, abordando assuntos como corrupção, crime organizado, meio ambiente, esportes, técnicas de reportagem e regulação da mídia. Além disso, o Congresso também vai oferecer cursos de investigação de gastos públicos, técnicas de redação e jornalismo de dados.

Entre os nomes nacionais já confirmados, estão o juiz Sérgio Moro, que está à frente da Operação Lava Jato, a premiada jornalista Eliane Brum, Fernando Rodrigues, um dos repórteres responsáveis pelas investigações do caso Swissleaks, Miriam Leitão, colunista de O Globo e comentarista da TV Globo e da CBN, William Waack, da TV Globo e Juca Kfouri, apresentador do programa CBN EC, repórter da ESPN, colunista da Folha de S.Paulo e titular do Blog do Juca, no UOL.

Convidados internacionais também compõem o time de palestrantes confirmados: Dana Priest (Washington Post) é a estrela do painel de encerramento do 10º Cogresso. Vencedora do Pulitzer, ela contará como o jornal referência em jornalismo investigativo funciona após a compra por Jeff Bezos. Em outro painel, o argentino Jorge Lanata falará sobre o caso da morte do promotor Alberto Nisman e a prática do jornalismo investigativo no país vizinho. Haverá ainda a presença de Julio Villanueva Chang, que ensinará técnicas de construção de perfis a partir de sua produção na revista peruana Etiqueta Negra; e Gustavo Gómez, consultor do governo Mujica para a elaboração da Lei de Meios do Uruguai, que debaterá o tema com Tom Kent, da Associated Press e mediação de Eugenio Bucci (ECA-USP).

Serviço

 O que: 10ºCongresso Internacional de Jornalismo Investigativo

Quando: 2 a 4 de julho de 2015

Onde: Universidade Anhembi Morumbi | Rua Casa do Ator, 275 | Vila Olímpia | São Paulo – SP – Brasil

Inscrições: congresso.abraji.org.br

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Polícia do Paraná constrange jornalistas a revelarem suas fontes

Embora o sigilo da fonte seja uma garantia fundamental da Constituição no Brasil, não são raros os episódios que o colocam em xeque. Após publicarem diversas reportagens expondo irregularidades da polícia local, jornalistas que cobrem segurança pública no Estado do Paraná começaram a sofrer constrangimentos da corporação para revelar suas fontes. Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), pelo menos cinco profissionais já foram intimados a falar sobre a origem das denúncias, tanto pela Polícia Militar quanto pela Polícia Civil. Os repórteres Felippe Aníbal, Diego Ribeiro, Albari Rosa e Mauri König, todos do jornal Gazeta do Povo, já foram chamados mais de 20 vezes, desde 2013, a depor como testemunhas em inquéritos e procedimentos. Os quatro jornalistas convocados sistematicamente são responsáveis pela série de reportagens “Polícia fora da lei”, que denunciou, em 2012, o uso de carros oficiais para fins particulares por policiais.

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Matéria da Gazeta do Povo denuncia uso indevido de veículos oficiais por policiais civis do Paraná – Foto: Reprodução/Jornal Nacional

O inquérito para o qual são convocados normalmente apura a irregularidade denunciada. Contudo, os repórteres afirmam que o foco do interrogatório é descobrir os informantes. Em alguns casos, policiais denunciados ou suspeitos de serem os informantes acompanharam o depoimento. “Fica muito claro que a intenção deles é forçar, de uma forma até intimidadora, que todos nós aqui revelemos as nossas fontes de informação, que nem são informações privilegiadas, são informações de interesse público”, contou o jornalista Mauri König, que coordenou a série, ao Jornal Nacional. Pelas mesmas reportagens, Konig recebeu ameaças de morte e, no final de 2012, precisou deixar o país com sua família por questões de segurança.

A notícia sobre ações inconstitucionais das autoridades junto aos repórteres do Paraná ganhou repercussão nacional e gerou o repúdio de associações e sindicatos da categoria. O SindijorPR, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj),a Federación de Periodistas de América Latina y el Caribe (FEPALC) e a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) iniciaram uma campanha para exigir providências. As entidades protocolaram e enviaram um ofício ao Ministério Público e para a Secretaria de Segurança Pública do Estado, com o objetivo de impedir a tentativa de policiais civis e militares de quebrar o sigilo de fonte dos jornalistas do impresso paranaense.

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De acordo com a reportagem, cúpula da PM também usava viaturas para fins particulares – Foto: Reprodução/Jornal Nacional

“Quando um jornalista sofre algum tipo de censura ou coação para ferir princípios éticos, a maior prejudicada é a democracia. Porque o que está em jogo é a garantia de que o jornalismo possa estar a serviço da sociedade, cumprindo o direito fundamental do cidadão de acesso à informação. Sem informação livre não é possível construir uma sociedade consciente, capaz de interpretar corretamente a realidade e agir para o bem comum. É inaceitável, para uma sociedade que busca fortalecer sua democracia, que jornalistas sejam sujeitados a este tipo de situação. É inaceitável que jornalistas sejam coagidos para revelar suas fontes”, afirma o SindijorPR.

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) declarou em nota que a ação atenta diretamente contra a imprensa brasileira. “A Abraji repudia a tentativa das polícias Civil e Militar de romper um dos pilares da liberdade de imprensa e da própria democracia: o sigilo da fonte. Constranger jornalistas da maneira como as corporações têm feito é atentar diretamente contra a imprensa brasileira e contra o direito de saber de toda a sociedade. A Abraji acredita que as polícias devem dedicar seu tempo e efetivos a identificar e punir os agentes cujas contravenções foram alvo de reportagens – e não os informantes que permitiram aos repórteres executar suas pautas”.

Sigilo de fonte – Outras reportagens que envolvem forças policiais, políticos e empresários também têm motivado intimações a jornalistas de todo o país. Em dezembro do ano passado, um juiz federal de São José do Rio Preto, no estado de São Paulo, decretou a quebra de sigilo telefônico do jornal Diário da Região e do repórter da publicação Allan de Abreu. A medida buscava determinar a identidade de uma fonte do jornalista, que estaria na origem do vazamento de informações confidenciais sobre um esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal. A quebra do sigilo foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal no dia 9 de janeiro, depois de um recurso proposto pela Associação Nacional de Jornais (ANJ). Na decisão, o ministro Ricardo Lewandowski escreveu que “se está resguardando uma das mais importantes garantias constitucionais, a liberdade de imprensa e a própria democracia”.

Em 2011, o canal TV Tem também divulgou as mesmas informações publicadas pelo jornal Diário da Região e foi alvo de um inquérito aberto pelo Ministério Público Federal. A ação foi arquivada por um juiz, que alegou que ela violava uma norma constitucional e colocava “em risco a liberdade de informação, enquanto pilar do regime democrático”, de acordo com a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF). O Brasil ocupa a 111ª posição (em 180 países) na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2014, estabelecida pela RSF.

*Informações do Blog Jornalismo nas Américas, Sindijor-PR, Jornal Nacional e Abraji.

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