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ABI exibe documentário e debate racismo no Carnaval de Salvador

“Negro é a raiz da liberdade”. Os versos da canção “Sorriso Negro”, interpretada pela primeira-dama do samba, Dona Ivone Lara, ecoaram na sala de exibição cinematográfica da Associação de Imprensa (ABI), na manhã desta quinta-feira (26). A entidade recebeu jornalistas, pesquisadores, historiadores e artistas, para a apresentação do documentário “Racismo no Carnaval de Salvador”, dirigido pelo professor Nelson da Mata, com o apoio do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio Americanos (CEPAIA) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Depois da projeção, os convidados debateram o tema, trazendo à mesa antigas críticas ao sistema de organização dos festejos momescos da capital baiana, em busca de novos caminhos que garantam a dignidade e os direitos do povo negro, responsável pela maioria dos espetáculos do Carnaval.

O filme traz depoimentos de acadêmicos, pesquisadores, além de personagens importantes para o cenário cultural e político da Bahia, dentre os quais estão o cantor e compositor Walter Queiroz; o cantor Raimundo Nonato da Cruz, mais conhecido como Chocolate da Bahia; o fundador do bloco afro mais antigo do Brasil, Vovô do Ilê Aiyê; o ex-secretário municipal de Reparação, Ailton Ferreira; e o cantor Márcio Victor, vítima do episódio de racismo que inspirou a pesquisa do professor Nelson da Mata, em 2011.

Segundo o professor Nelson Costa da Mata, o projeto sobre racismo no Carnaval foi iniciado no final daquele ano, no Centro de Estudos dos Povos Afro-índio Americanos (CEPAIA), unidade da UNEB. Já o documentário apresentado na ABI foi concluído em 2014, como um dos produtos da pesquisa que o professor desenvolve há mais de três anos. Ele adiantou que será produzido um segundo documentário, dessa vez com depoimentos de foliões. Na obra, o carnaval é abordado como mais uma expressão da hierarquia de classes pela antropóloga Goli Guerreiro. Já o ex-secretário Ailton Ferreira afirma que “o racismo está presente no Carnaval porque o racismo está presente na sociedade baiana”.

Os debatedores abordaram as diferenças entre os circuitos, os horários disponibilizados aos blocos afros, a distribuição do espaço, a violência policial, entre outros problemas. Em todas as falas, denúncias de que aqueles que desfilam esquecidos no circuito Batatinha, no centro histórico, aguardam há anos oportunidades de atravessar a passarela em horário nobre no Campo Grande – que, junto com a Barra, forma os dois grandes circuitos da festa, com farta cobertura da mídia e camarotes. Ao contrário dos trios e camarotes milionários, que atraem robustas verbas da iniciativa privada, os blocos afros vivem com verba mínima e orçamentos apertados. “Estou envolvido com esse assunto há pelo menos 30 anos porque acredito ser possível termos um Carnaval fraterno e democrático. Com que direito o espaço público é reservado a uma parcela privilegiada da população? Proponho que baixemos as cordas judicialmente e quero contar com o apoio da ABI”, conclamou o Walter Queiroz.

O vice-presidente da ABI, Ernesto Marques, esteve acompanhado dos diretores da entidade, Valter Lessa, Agostinho Muniz e Luís Guilherme Pontes Tavares. “Eu acho um absurdo que os camarotes ainda sejam montados na área pública e ninguém tome providências. Precisamos dialogar com as autoridades competentes e pensar novos formatos para o Carnaval”, afirma Marques, que, em atenção à proposta do cantor Walter Queiroz, vai incluir o assunto na pauta da reunião mensal da entidade.

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Jornalistas são impedidos de assistir filme sobre corrupção da PM do Rio

DEU NA ABI (Associação Brasileira de Imprensa) – Com o objetivo de apresentar a cadetes da Polícia Militar do Rio de Janeiro  episódios marcantes para a corporação, e propor uma reflexão sobre o comportamento dos agentes envolvidos, cerca de 400 militares foram convidados a assistir ao documentário “ À queima roupa “, que será lançado em circuito no próximo dia 16. Também foram convidados acadêmicos, pelo menos um advogado e jornalistas, estes chamados pela diretora do filme e pela Diretoria Geral de Ensino e Instrução da Polícia Militar. Tudo teria transcorrido com tranquilidade se o comandante da Academia da Polícia Militar (Acadepol), coronel Luiz Claudio dos Santos Silva, e o subcomandante, tenente-coronel Louzada, não se opusessem à presença dos jornalistas. Todos foram convidados a se retirar do local.

O filme com direção de Theresa Jessouroun, que faz uma reflexão sobre crimes praticados por PMs nos últimos 20 anos, entre eles as chacinas de Vigário Geral, em 1993 — quando 21 pessoas foram assassinadas —, e da Baixada, em 2005 — com a morte de 30 civis,  foi apresentado na última sexta feira no Rio.

Durante a sessão, um fotógrafo chegou a ser hostilizado por cadetes sentados nos fundos da sala de exibição. Após a exibição houve debate entre os cadetes que, inclusive, criticaram o filme justificando que ele mostra somente um lado da PM. “Acharam que o documentário deveria mostrar o lado bom da PM também. O filme não é contra a PM. Ele mostra o que ela fez de errado. E é uma oportunidade para uma reflexão para que isso nunca mais volte a acontecer”, comentou a diretora que, apesar das críticas, avaliou o debate como positivo entre os cadetes.

Finda a discussão entre os militares, a diretora do documentário, Theresa Jessouroun, disse ter conversado com o comandante sobre a retirada dos jornalistas. “Disse que ele deu um tiro no pé. Porque ele perdeu uma grande oportunidade de mostrar que a Polícia Militar está aberta, transparente. Foi uma atitude contrária à proposta da exibição do documentário para os cadetes, que foi incitar uma discussão sobre o comportamento de PMs”, criticou.

Em nota, a Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que o comandante da Academia da Polícia Militar Dom João VI, coronel Luiz Claudio dos Santos Silva, tinha acordado com a imprensa que os jornalistas só participariam do evento até um determinado momento. Em seguida, ele seria restrito aos cadetes, já que a exibição do filme visava à instrução acadêmica.

* Por Kika Santos, com informações do Jornal O Globo.

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Cineastas baianos exaltam legado de Eduardo Coutinho, mestre do documentário no Brasil

Eduardo Coutinho, um dos mais importantes nomes do documentário brasileiro, foi morto neste domingo (2), em sua casa, na zona sul do Rio de Janeiro. A morte do cineasta, de 80 anos, foi comentada com pesar por figuras públicas em programas de TV. Diretores e críticos de cinema utilizaram as redes sociais para lamentar a perda do mestre, cuja formação passou pelo cinema, teatro e jornalismo. O cineasta, famoso principalmente pelo trabalho como documentarista, deixa um legado de mais de 20 filmes, entre longas e curtas metragens, de caráter questionador e crítico.

Cineasta Eduardo Coutinho, durante filmagem do documentário ‘Peões’/ Foto: Marcio Bredariol

O jornalista e cineasta baiano Lula Oliveira, que é chefe da Representação do Ministério da Cultura para Bahia e Sergipe, define Coutinho como “um cineasta do mundo”, pela experimentação e pioneirismo de sua linguagem cinematográfica. “A influência dele não se restringe ao cinema. Pode também ser sentida na televisão brasileira. ‘Cabra Marcado para Morrer’ deveria estar na construção de todas as obras de qualquer cineasta, não apenas por retratar a luta política, mas por abordar o crescimento humano. Todo filme que penso passa pelo olhar do documentário. É a constante busca pela provocação que faz evoluir a humanidade”.

Embora trabalhe com gêneros ficcionais, o cineasta baiano Paulo Alcântara, que atuou como diretor de produção no longa-metragem ‘Jardim das folhas sagradas’, de Pola Ribeiro, reconhece a influência de Coutinho sobre seus filmes. O diretor baiano citou “Edifício Master”, documentário premiado em todo o mundo, que trouxe o depoimento de 37 moradores do prédio homônimo, e destacou a importante contribuição do cineasta. Na produção de Edifício Master, o diretor e sua equipe mantiveram-se durante três semanas dentro do tradicional edifício situado em Copacabana, para que ocorresse uma ambientação entre sua equipe e os moradores.

“Ele é uma referência mesmo para quem se dedica à ficção. Seu trabalho é fruto de uma entrega que impõe verdade. Quando trabalhei em “Estranhos”, procurei mostrar a diversidade, a pluralidade existente na cidade de Salvador, assim como fez Coutinho em “Edifício Master”, em que ele retrata identidade, particularidades e formas de vida de pessoas de diversos locais e origem, com diferentes histórias de vida, mas habitando todas em um mesmo local”, afirma Alcântara.

‘Cabra Marcado para Morrer’ (1984), clássico da produção de documentários do país/ Foto: Divulgação

Para a cineasta Marília Hughes, Coutinho era um mestre da arte da entrevista. “Eu devo muito ao Coutinho. Foi em Cabra Marcado para Morrer (1984) que eu encontrei ânimo para fazer o meu primeiro documentário, Pelores (2004). Depois, eu fui atrás de suas obras, todas elas me proporcionaram experiências intensas. Quando cheguei a pensar que Coutinho já tinha alcançado o máximo de onde se pode chegar em um cinema com base no depoimento, ele nos apresenta ‘Jogo de Cena’ (2007). Para mim, um dos maiores filmes brasileiros de todos os tempos. Com ele, eu aprendi e sigo aprendendo. Morre o homem, mas ficam os seus filmes, a sua história e o seu legado”.

O diretor Maurício Lídio, que conquistou em 2009 o Prêmio da Academia Brasileira de Cinema pelo curta ‘Bárbara’, se inspirou em Coutinho para fazer seu trabalho de conclusão da especialização em Linguagens e Mídias Audiovisuais. “Mergulhei no trabalho de Coutinho ainda na faculdade. Utilizei sua linguagem para fazer meu documentário ‘Devolução 24h’, sobre o fim das vídeo-locadoras. Ele tinha um jeito muito peculiar de conduzir seu trabalho, cujo maior diferencial era a refinada sensibilidade”.

O conhecido comentarista cinematográfico e professor de Cinema da Faculdade de Comunicação da UFBA, André Setaro, publicou em seu blog uma homenagem assinada por Carlos Baumgarten. No texto, o crítico literário destaca a singularidade da obra de Coutinho. “Eu me pergunto, diante de tantos documentários na filmografia mundial, quem conseguiria extrair tantas emoções a partir de histórias aparentemente banais? (…) Coutinho criou um estilo próprio e revolucionou a arte de fazer documentários no Brasil”.

Homenagem

Um dos primeiros a se manifestar sobre a morte do diretor foi o também cineasta Cacá Diegues. “Era um homem muito inteligente, muito sereno, fácil de lidar. É uma perda muito grande, ele era o maior documentarista brasileiro de todos os tempos”, declarou em entrevista concedida ao G1.

Já André Sturm, diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), se mostrou chocado com a tragédia. Para Sturm, a principal contribuição de Coutinho está na virada que ele promoveu no gênero. “Não há na história do País qualquer outro cineasta que tenha feito tantos filmes desse nível. Ele abriu uma porta importante para o documentário no Brasil. Antes só tínhamos filmes nesse perfil a cada três ou quatro anos”, afirmou Sturm ao Portal iG.

Nesta terça-feira (04), às 20h, o Observatório da Imprensa da TV Brasil faz uma homenagem a Eduardo Coutinho. O programa da emissora pública resgata uma entrevista do jornalista Alberto Dines, gravada em 21 de maio de 2013. “Um cabra marcado para viver. Esta tragédia grega não acaba com a biografia de um dos cabras mais criativos e independentes da cena cultural brasileira. Foi um jornalista puro-sangue. Trabalhamos juntos na revista Visão nos idos de 1950. Depois quando ele estava perseguido veio trabalhar no copidesque do Jornal do Brasil”, lembra Alberto Dines. >> Veja aqui a entrevista de Eduardo Coutinho ao Observatório da Imprensa.

Carreira

Em mais de 40 anos dedicados ao cinema, Coutinho registrou sem sentimentalismos as emoções e aspirações das pessoas comuns, em trabalhos marcados pela sensibilidade e notável capacidade de ouvir o outro. Entre as obras de maior destaque estão “Cabra Marcado para Morrer”, “Edifício Master”, “Jogo de Cena” e “Babilônia 2000”. Em 2007, o cineasta ganhou um Kikito de Cristal, principal premiação do cinema brasileiro, pelo conjunto da obra. Seu último documentário, “As Canções”, foi lançado em 2011 e foi o 12º longa-metragem dirigido por ele. Em 2013, quando completou 80 anos, Coutinho foi tema de uma série de homenagens, entre elas uma mesa na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), uma retrospectiva na Mostra de Cinema de São Paulo e o lançamento de um livro, organizado por Milton Ohata, com textos dele e sobre ele.

Além de roteirista e diretor de cinema, Eduardo Coutinho também atuou em parte de sua carreira como jornalista. As experiências entre ficção e jornalismo formaram o Eduardo Coutinho documentarista. Aluno de uma das mais prestigiadas escolas de cinema, o Instituto de Altos Estudos Cinematográficos (Idhec), fez parte do movimento do Cinema Novo na década de 60, mas a radicalização da censura tornou ainda mais difícil fazer cinema no Brasil. A realidade de Coutinho era outra: tinha que trabalhar para sustentar a família e voltou ao jornalismo no início da década de 1970 como copidesque e crítico no Jornal do Brasil até receber o convite para trabalhar no “Globo Repórter”.

Durante os nove anos que atuou fazendo documentários para TV pôde praticar bastante o seu “ouvir” e a sua “conversa” que, como ele mesmo diz, serviram de vestibular para concluir a sua mais importante obra: “Cabra marcado para morrer” (1984) – filme premiado e aclamado pela crítica, que que retrata a sociedade brasileira durante o período de ditadura militar a partir da história de João Pedro Teixeira, líder camponês morto em 1962. O longa começou a ser filmado em 1964, em forma de “semidocumentário”, com cenas reais e fictícias, mas parte da equipe foi presa, acusada de comunismo. Dezessete anos depois, o trabalho foi retomado e o filme se transformou em uma obra prima.

O último filme de Eduardo Coutinho foi, desde a idealização, um presente do diretor para si. “Exclusivamente para o meu prazer”, declarou o cineasta sobre o processo de filmar ‘As canções’ (2011), em agradecimento a um prêmio conquistado pelo filme. No longa, o diretor reuniu 18 pessoas — de um total de 42 entrevistados — que apresentam à câmera suas canções favoritas, interpretando-as como podem e sabem. A única orientação destes anônimos em suas performances são as ligações afetivas que possuem com as faixas. Premiado no Festival do Rio em sua categoria, o filme tornou-se derradeiro na trajetória do cineasta.

Informações do Observatório da Imprensa, G1, R7, iG, Portal Uai e Setaro’s Blog.

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