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Consuelo, Nosso Sol

Fernanda De Sena Arandas*

Para nós, descendentes diretos de Consuelo, é chegado o momento de arrumarmos novamente nossas órbitas, como planetas que giravam em torno de tão brilhante e luminoso sol. Impossível ser criado em seu colo, banhado por seu sorriso de amor, acarinhado por suas mãos macias e acalentado pelo canto de sua voz tão forte e firme e ficar imune ao sentimento infantil de que aquela mulher tivesse algo de sobrenatural, fosse um ser poderoso e capaz de nos proteger de tudo, e nos doar um pouco de sua luz, nos tornando especiais por descender de estrela tão luminosa.

Lembrar de minha avó é imediatamente recordar um beijo em minha face, imortalizado por uma foto na fazenda, em seu colo, com menos de dois anos, capaz de transmitir todo o amor de uma avó por sua netinha. É lembrar-se da mulher mais linda do mundo, a mais elegante, com porte de rainha, cabelo chanel vermelho, que me dava a mão e me guiava pelas ruas, me sentindo com ares de princesa ao lado de tão nobre rainha.

É recordar as viagens para a Fazenda Triunfo, quando ela colocava seus grandes óculos escuros e o lenço no cabelo, e voávamos no opala de meu avô, com o vento batendo em nossos rostos, felizes por antever um maravilhoso fim de semana junto à natureza. Aquela nobre dama costumava nos levar à feira da cidade, onde transitava em meio àquela gente simples, comunicando-se com eles com a grande cumplicidade dos conhecedores e admiradores dos costumes do povo. Ela se maravilhava em conversar com aquela gente, com curiosidade de investigadora, para quem tudo é matéria de vida para seu enorme acervo e bagagem de escritora.

A professora e jornalista Consuelo Pondé de Sena faleceu no dia 14 de maio, em Salvador - Foto: Reprodução
A professora e jornalista Consuelo Pondé de Sena faleceu no dia 14 de maio, em Salvador – Foto: Reprodução

Outra feliz recordação de infância: as idas ao aeroporto para levar meus avôs em suas viagens. Era delicioso vê-los subindo aquelas escadas do avião, nos acenando e partindo felizes rumo a lugares maravilhosos, nem mesmo imaginados por mim. Melhor ainda era buscá-los, pois além da saudade e da vontade de abraçá-los e ouvir suas histórias, chegava ainda uma enorme mala de presentes, a maioria dos quais endereçados a mim, sua única netinha na época.

Um sonho meu realizado por minha avó: minha primeira viagem de avião, aos onze anos de idade, rumo à casa de parentes em São Paulo, acompanhada por ela e minha tia Luíza. Além do avião em si, pude conhecer uma nova faceta de minha avó: ela era uma companheira de viagem fantástica, sempre disposta, alegre, capaz de resolver qualquer contratempo com bom humor e de uma maleabilidade tão grande, que a fazia me levar diversas vezes para almoçar um sanduíche, por economia de viagem, ou viajar de ônibus de São Paulo a Mato Grosso do Sul, rumo à casa de outros familiares, na ida e volta a São Paulo, com a alegria de uma estudante, nada preocupada com o desconforto da empreitada. Além das aventuras, tínhamos uma guia alegre, que conhecia todos os pontos históricos, e nos agraciava com suas aulas sobre tudo de cultural que pudesse haver naquelas cidades.

Meus avôs sempre foram um grande estímulo à busca intelectual para todos da família. Crescíamos rodeados por livros da sua imensa biblioteca. Víamos os dois compenetrados, cada qual lendo ou escrevendo seus artigos, por diversas horas, sentados à mesa, como quem estivesse em outro mundo. Lembro-me de haver sentado por uma vez no sofá, muito antes de conhecer as primeiras letras, segurando um livro e imitando a pose de minha avó, como se uma imensa platéia pudesse me ver e acreditar que eu estava fazendo exatamente a mesma coisa que eles. Fui por diversas vezes com meus avós a cerimônias oficiais e assisti, orgulhosa, a seus discursos, pouco entendendo o seu significado, mas antevendo sua importância pelo olhar atento e respeitoso dos espectadores.

Gostava de passear com minha avó a seu trabalho, no Arquivo Público, no Centro de Estudos Baianos, e em outros lugares, onde sempre era mimada por seus funcionários, que transferiam a mim o carinho e o cuidado que tinham com minha avó. Naqueles lugares cheios de coisas antigas, podia dar asas à imaginação e brincar do que quisesse, sem precisar de brinquedos ou mesmo de outras crianças para me divertir.

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Impossível também se lembrar de minha avó sem recordar as inúmeras festas que ela dava em sua casa, quando recebia seus convidados com a alegria e a fineza de grande anfitriã. Aqueles jantares eram esperados por mim com grande ansiedade, pois além da animação transbordante na casa, podíamos ainda nos deliciar com as deliciosas comidas que Maria, sua fiel ajudante, fazia primorosamente com a intenção de agradar à minha avó e encantar a todos. A comida da casa da minha avó sempre foi a melhor do mundo. Foi assim que aprendi o pouco que sei sobre a arte de receber convidados, mas confesso que apesar da generosidade com que minha avó ensinava tudo o que sabia, não poderia copiar sua graça e seu encanto, que sempre tornaram sua casa o lugar para os eventos mais agradáveis e esperados por todos.

Encantadores também eram nossos almoços em família aos domingos, quando meus avôs sentavam ao sofá, rodeados pelos filhos e algum convidado, e nos contavam histórias, muitas vezes hilariantes, pois aquele casal tinha um fino humor ácido, que magnetizava a todos, além de um acervo inacabável de histórias de suas vidas e de outrem, além da capacidade de transformar fatos corriqueiros do dia a dia em conversas das mais interessantes e alegres. A afinidade dos dois era tão grande, e a cumplicidade e admiração mútua tão verdadeira, que aquele foi pra mim o grande exemplo de casal e de família que até hoje tento copiar. Nos meus desejos de moça, aquele foi o casal de contos de fadas dos meus sonhos.

A doença de minha avó foi uma chamada à realidade. Um evento marcante em nossas vidas. Foi a primeira vez que precisamos cuidar de quem sempre nos protegeu; uma sensação de vulnerabilidade sem fim, pois se aquela magnífica mulher podia ser tão frágil, o que seria de nós, seus filhos e admiradores? Vimos atordoados àquela fortaleza de mulher ter suas forças minadas por doença tão atroz. Mas no fundo sempre havia uma esperança, pois nos nossos sonhos infantis, nada poderia realmente vencê-la. É por isso que a morte de minha avó teve pra mim o sabor de fim da infância, pois essa não é marcada por determinada idade, e sim pelo fim de nossas mais tenras fantasias.

Como mulher generosa que sempre foi, na lista de seus últimos pedidos, que ela solicitou que minha mãe anotasse nos seus derradeiros dias, além daqueles referentes à preocupação em deixar protegidos todos os seus entes queridos, não se esquecendo de Maria, sua fiel ajudante, que cuidou dela junto conosco com desvelo de filha, chegou para mim mais um presente: ela queria que organizássemos um álbum com suas fotos mais significativas. Com a rapidez da evolução da sua doença, não pudemos mostrar a ela o resultado maravilhoso daquela retrospectiva no tempo. Fotos esplendorosas de sua juventude até os dias atuais nos fizeram recordar aquela diva em seus diversos momentos, e sentir novamente aquele sabor da imortalidade de nossos sonhos, que podem ser abalados por fatos inerentes à vida, mas no fundo da nossa alma estarão sempre ali, nos tornando as crianças que sempre fomos e mostrando que a nossa felicidade não pode ser tirada nem mesmo pela separação involuntária, pois dentro de nós ela estará sempre presente e nos marcará por toda a nossa jornada, até o dia do nosso reencontro.

*Fernanda de Sena Arandas, médica endocrinologista, neta da professora Consuelo Pondé de Sena. Texto originalmente publicado pelo jornal Tribuna da Bahia do dia 20/05/2015.

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Mesa-redonda no IGHB homenageia Luiz Gama

O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) sediou uma mesa-redonda em homenagem ao abolicionista Luiz Gama (1830-1882), responsável pela alforria de mais de 500 pessoas escravizadas. O baiano notabilizou-se no país desde a segunda metade do século XIX por causa da sua atuação como jornalista, poeta e advogado. Na noite da última quinta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra, ele foi lembrado no evento promovido pelo Instituto dos Advogados da Bahia, Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Academia de Letras Jurídicas da Bahia, Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, Procuradoria Regional do Trabalho da 5ª. Região, Fundação Instituto Feminino da Bahia, Superintendência Regional do Trabalho, jornal Tribuna da Bahia e o próprio IGHB.

A mesa-redonda realizada no salão nobre do IGHB foi marcada pelas surpresas da entrega da Medalha Luiz Gama, do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) ao jurista Antonio Luiz Calmon Teixeira, organizador do evento e presidente do Instituto do Advogados da Bahia (IAB) e pela performance do poeta Jansen, do Coletivo Libertai, que recitou no encerramento “Navio Negreiro”, de Castro Alves (1847-1871). “Foi uma incontrolável homenagem ao abolicionista Luiz Gama e ao Dia da Consciência Negra”, ressaltou o poeta. Antes das exposições da mesa, Jansen já havia se juntado a Márcio Luiz, também integrante do Coletivo Libertai – que há cerca de quatro anos homenageia o abolicionista Luiz Gama com evento no Largo do Tanque – para recitar o famoso “Quem sou eu?” (conhecido popularmente como “Bodarrada”), de Gama, versos com o quais o poeta rebate o preconceito e defende a igualdade.

De acordo com Antônio Luiz Calmon Teixeira, o objetivo do encontro foi homenagear um dos maiores líderes libertários do século XIX. “Queremos homenagear um homem negro, que no século XIX surgiu como um meteoro em São Paulo na defesa de pessoas escravizadas, na luta pelo abolicionismo, advogado, jornalista e poeta. Um homem público, que em um ambiente hostil ao negro, conseguiu ser admirado e respeitado por Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco”.

Para o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Horácio Pires, a mesa-redonda deve ser vista como o resgate de uma memória. Ele acentuou a contribuição de Gama à interpretação da legislação brasileira do século XIX e informou que as sentenças obtidas pelo advogado contribuíram para o aperfeiçoamento das leis brasileiras de então. “Ele foi um baiano que brilhou em São Paulo, mas a Bahia não deu o devido valor sobre a obra que ele realizou na história. Estamos aqui para homenageá-lo e, sobretudo, para resgatar essa história”, afirmou.

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Já o jurista Técio Lins e Silva, destacou a contribuição dada por Luiz Gama à advocacia de sua época e fez comparou a atuação de Gama diante dos magistrados com as dificuldades enfrentadas pelos advogados perante os tribunais dos períodos ditatoriais brasileiros do século XX. “Ele foi um mestre da advocacia sem nunca ter se formado. Defendia os escravos se utilizando dos ordenamentos do Direito formal imperial da época, usando mecanismos da lei brasileira. Trabalhou contra os castigos e açoites, atuando com generosidade e talento”.

Segundo o vice-presidente do IGHB, Eduardo Moraes de Castro, cultuar grandes nomes da história é uma contribuição dada pelo Instituto. “Estamos oferecendo este registro à comunidade e tenho certeza que daqui há 50 ou 100 anos muitos irão procurar saber sobre esse encontro. Estamos falando de um grande nome da história em um período em que falamos de liberdade e igualdade”, ressaltou.

Membro da Academia de Letras da Bahia, o escritor Joaci Góes previu que a partir de agora o abolicionista Luiz Gama será cada vez mais cultuado pelos baianos. Também prestigiaram a homenagem Newton Cleyde, Antônio Luiz Calmon Teixeira, Lamartine Lima, Adélia Marilyn e diretores da ABI, Aloísio da Franca Rocha Filho, Luis Guilherme Pontes Tavares e Valter Lessa.

Com informações da Tribuna da Bahia/Luis Guilherme Pontes Tavares

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Assembleia outorga ao presidente da ABI o título de Comendador

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) concedeu a Comenda Dois de Julho ao presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Antonio Walter Pinheiro, na manhã desta quinta-feira (20). A proposição assinada pelo deputado Euclides Fernandes homenageou o dirigente “não só pelos seus serviços às comunidades menos favorecidas como integrante de várias instituições filantrópicas e de beneficência, mas, sobretudo, como uma maneira de o Poder Legislativo saudar toda a imprensa baiana”. Durante a saudação que o deputado proferiu na solenidade de entrega da Comenda, ele fez questão de ressaltar a participação do homenageado em entidades beneficentes e suas atividades na direção da Tribuna da Bahia, “sempre em defesa de uma imprensa livre e democrática”.

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Presidente da ABI, Walter Pinheiro passa a ser Comendador

“O Brasil vive novos tempos, respondendo a ânsia do seu povo em combater sem adiamentos os desmandos, as incúrias, enfim, os crimes daqueles que o desrespeitam manipulando ao bel prazer recursos públicos, para satisfazer interesses partidários e, até mesmo pessoais. Malversam valores tão necessários à melhoria de vida dos brasileiros, estimulados pela impunidade que sempre vigorou neste país, mas que agora parece estar chegando ao fim. Mentem vergonhosamente para dissimular seus mal feitos e encobrir pecados que enodoam a República”, afirmou Walter Pinheiro ao agradecer a homenagem.

“Exatamente por isso, excelentíssimos deputados, companheiros da imprensa, senhores magistrados, dignos líderes políticos, autoridades, minhas senhoras e senhores, é que não podemos tergiversar na aplicação da lei e dos preceitos constitucionais, visando o alcance do status de nação desenvolvida, tanto material como tecnologicamente, amparada por conceitos morais e éticos, que nos permitam projetar o Brasil em patamares cada vez mais elevados no cenário dos povos civilizados”, completou.

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Walter Pinheiro e deputado Euclides Fernandes

O deputado Euclides Fernandes lembrou que homenagem estava marcada para abril. “Infelizmente, não conseguimos atingir o objetivo inicial que seria realizar esta solenidade no dia sete de abril, Dia do Jornalista. Todavia, o fato de estar acontecendo no dia de hoje não a torna menos solene e nem menos importante no nosso objetivo que é o reconhecimento ao intenso e incansável trabalho do nosso homenageado como integrante de entidades filantrópicas e beneficentes, tais como a Santa Casa da Misericórdia, a Casa Pia e Colégio de Órfãos de São Joaquim, o Instituto Movimenta Salvador. Além de ser o lídimo representante da classe jornalística. O que pretendemos, também, é que o Poder Legislativo homenageie todos os integrantes da categoria profissional também denominada de Quarto Poder”.

Para Euclides Fernandes, a homenagem contraria o adágio popular de que “jornalista nunca é notícia”. “Hoje, meu caro Walter Pinheiro, estamos colaborando para que, com muita justiça, um jornalista seja notícia. A partir de hoje Vossa Senhoria, com todos os méritos passa a ser o Comendador Walter Pinheiro, mas que todos os integrantes dessa categoria profissional que tem uma extraordinária parcela de responsabilidade na formação da sociedade se sintam como parte integrante dessa homenagem, visto que a condição de presidente da Associação Bahiana de Imprensa o torna uma das principais e importantes lideranças do jornalismo baiano. Há que se reconhecer suas qualificações administrativas e diretivas, pois, graças a essas qualidades, a Tribuna da Bahia conseguiu atravessar todos esses anos sem perder o seu rumo e objetivos”, ressaltou o deputado.

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Representantes de diversos segmentos prestigiaram a solenidade

A solenidade, presidida pelo deputado Marcelo Nilo, contou com a presença de autoridades representando os mais variados segmentos governamentais e privados, com destaque para a secretária de Comunicação, Marlupe Caldas, representando o governador Jaques Wagner; o desembargador Jatahy Fonseca; o futuro vice-governador João Leão; o presidente do tribunal de Contas do Estado, conselheiro Inaldo Araújo; o presidente do Tribunal de Contas do Município, conselheiro Francisco Neto; a presidente do Sinjorba. Márjorie Moura; o representante da Academia de Letras da Bahia, acadêmico Joacy Góes; o provedor da Santa Casa da Misericórdia, Roberto Sá Menezes, dentre outras.

 

As informações são do Gab. Dep. Euclides Fernandes

Assessoria de Comunicação – tel.3115.0923

Em 20.11.2014

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ALBA homenageia presidente da ABI com Comenda Dois de Julho

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) vai conceder a Comenda Dois de Julho ao presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e do jornal Tribuna da Bahia, Antonio Walter Pinheiro, no Dia Nacional da Consciência Negra. A proposição assinada pelo deputado Euclides Fernandes homenageia o dirigente “não só pelos seus serviços às comunidades menos favorecidas como integrante de várias instituições filantrópicas e de beneficência, mas, sobretudo, como uma maneira de o Poder Legislativo homenagear toda a imprensa baiana”. Inicialmente marcada para 7 de abril, quando é comemorado o Dia do Jornalista, a  solenidade foi adiada e será realizada às 10h30 desta quinta-feira (20), no plenário do Palácio Luís Eduardo Magalhães.

Além de presidente da Tribuna da Bahia, Walter Pinheiro já integrou a diretoria da Santa Casa da Misericórdia, o Conselho Definidor da Casa Pia e colégio de Órfãos de São Joaquim, é membro do Instituto Movimenta Salvador e dos conselhos da Associação Brasil-Portugal, da FIEB e do conselho de Desenvolvimento Econômico e social do Estado da Bahia. Em reconhecimento às suas atividades já foi agraciado com a Ordem do Mérito rio Branco; Medalha Tomé de Souza; além de agraciado pelas três Forças Armadas e mais a Polícia Militar da Bahia”.

SERVIÇO

O que: Entrega da Comenda Dois de Julho

Quando: 20 de novembro, às 10h30

Onde: Plenário do Palácio Luís Eduardo Magalhães, Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) – 1a avenida, 130, CAB, Salvador.

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