O gesto de solidariedade da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) em divulgar apoio público ao jornal A Tarde foi bem recebido pelos profissionais da imprensa baiana, que reconhecem a importância de um dos mais tradicionais veículos de comunicação do estado. Nas redes sociais, leitores replicaram o documento e se juntaram pela manutenção do centenário jornal, cuja crise ameaça postos de trabalho e fragiliza a missão da imprensa. Segundo a diretoria da ABI, o objetivo da nota é conclamar outras instituições – instâncias governamentais, culturais, organizações sociais e lideranças em geral – para que, com o seu apoio, contribuam para normalizar a situação.
Problemas de atrasos de salários e falta de receita para bancar o passivo estimado em quase R$ 150 milhões motivaram a venda do jornal para uma holding paulista, em janeiro deste ano. No entanto, a família do fundador Ernesto Simões Filho, que havia sido afastada do controle societário, retomou a direção do jornal no último dia 5 de março e mantém o funcionamento da empresa. Herdeiro de Ernesto Simões Filho, Renato Simões Filho agradeceu a nota de apoio emitida pela ABI. Em nome da família Simões, classificou de “muito equilibrada, confortadora, porque solidária, e geradora de estímulos na busca das soluções de que A TARDE necessita”.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba), Marjorie Moura, também se manifestou a respeito. “Agradeço imensamente o inestimável apoio da ABI e tenho certeza, do seu apoio pessoal, em nome dos colegas e de todos que entendem a importância de A Tarde para nosso estado e para a imprensa em geral”, ressaltou em correspondência ao presidente da ABI, Walter Pinheiro. Ela destaca que o Sinjorba tem acompanhado a situação do jornal e segue na luta para assegurar os direitos dos profissionais.
A ASSOCIAÇÃO BAHIANA DE IMPRENSA(ABI), por decisão de sua diretoria em reunião realizada nesta quarta-feira (9), vem manifestar publicamente sua solidariedade e apoio ao jornal A Tarde, diante do momento de dificuldades que a instituição enfrenta.
É com intensa preocupação que a ABI acompanha seus atuais problemas, envolvendo até uma disputa societária, o que em nada contribui para a superação dos entraves necessária à normalização de suas atividades.
Este tradicional Grupo de Comunicação, que há mais de 103 anos mantém o jornal com circulação ininterrupta, tornou-se Patrimônio da Bahia, o que merece atenção especial.
O jornal A Tarde é parte da cultura e da tradição do povo baiano. A exemplo de outros veículos da imprensa brasileira, tem a sua situação agravada pela forte crise econômica que abala o nosso País, fragilizando a missão da Imprensa, o que poderá, de algum modo, interferir no fortalecimento da democracia.
Por isso, esta manifestação da ABI, que visa também conclamar outras instituições da nossa sociedade – instâncias governamentais, culturais, organizações sociais e lideranças em geral – para que, com o seu apoio, contribuam para preservar sem solução de continuidade a missão de A Tarde em defender legítimos interesses da Bahia, também incumbindo-se de guarnecer uma memória que nos possibilita reconstituir grande parte da nossa história.
Para reforçar a equipe de assessoria de imprensa nas eleições municipais deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contratou 14 jornalistas por meio de uma empresa de limpeza, que faz locação de trabalho temporário na área de serviços gerais. De acordo com a Folha de S.Paulo, sediada em Santa Catarina, a empresa Liderança Limpeza e Conservação Ltda deve receber R$ 2 milhões para prestar “serviços especializados na área de comunicação social”. Os salários variam entre R$ 6.300 e R$ 6.700 e estão acima dos sugeridos pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal para órgãos federais que terceirizam esses serviços.
No ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) negou o pedido de impugnação do contrato da Liderança com o Ministério do Meio Ambiente, para prestar serviços de assessoria de imprensa no valor total de R$ 3,9 milhões. O órgão considerou que a principal atividade da companhia é de limpeza de prédios e domicílios, mas aceitou a mudança no contrato, no qual incluiu “serviços de jornalistas” na lista de objetivos sociais.
O TSE publicou no edital os motivos pela terceirização do serviço. Segundo o Tribunal, “justifica-se a utilização da sistemática de contratação de postos de trabalho para os serviços de comunicação social em razão da dificuldade de mensurar, detalhar e quantificar, ou mesmo adotar índices de medição dos resultados de tais atividades regulares com o objetivo de faturamento dos serviços pela contratada, bem como atender demandas emergenciais e intempestivas”.
E o Oscar vai para… “Spotlight – Segredos revelados”. Um filme sobre jornalismo investigativo foi eleito a melhor produção do Oscar 2016, ao misturar jornalismo e direito, para contar a história da série de reportagens vencedora do Pulitzer de Jornalismo 2003. A premiação surpreendeu a crítica, que apostava mais em “O Regresso” – que rendeu finalmente o prêmio de melhor ator para Leonardo Di Caprio – e até mesmo, com o decorrer da noite das estatuetas, em “Mad Max”, que levou cinco prêmios. Mas, o filme do diretor Tom McCarthy, que também venceu Oscar de roteiro original, foi exitoso ao retratar nas telonas o trabalho que desvendou o maior escândalo de pedofilia envolvendo padres da Igreja Católica e como a instituição religiosa tentou abafar e encobrir durante décadas os crimes cometidos pelos sacerdotes.
“Spotlight” é o nome de um seção do jornal Boston Globeque trabalha com reportagens especiais. Neste grupo, jornalistas atuam de forma confidencial e vasculham grandes temas de Boston e dos EUA para narrar aos leitores. Ao longo de todo o ano de 2002, cerca de quarenta reportagens investigativas foram publicadas pelo jornal. Em materiais esporádicos publicados ao longo dos anos, o Boston Globe ainda ressaltou que o número de membros da instituição envolvidos em crime de abuso sexual poderia chegar a 271, apenas em Boston.
Ao contrário do trabalho regular de um jornalista, a equipe de Spotlight (Holofote) atua meses na apuração de fatos controversos e polêmicos. Na época em que investigam a conduta dos religiosos, ocorre o atentado às torres gêmeas, pelo grupo AlQaeda. Sua equipe é deslocada, provisoriamente, para narrar o drama do terrorismo. Mas, semanas depois, o grupo está de volta e concentrada nas dezenas de relatos sobre pedofilia e violência sexual na igreja católica de Boston.
A mensagem de “Spotlight” é básica: muitas reportagens não recebem a devida apuração. E um editor que acabara de chegar do New York Times para auxiliar o Globe observa que seu grupo de excelentes jornalistas não foi escalado para investigar uma série de denúncias sobre padres e bispos. É aqui que começa o enredo do filme: como apurar, como conseguir que as pessoas falem, como obter provas nas bibliotecas e cartórios, como checar as informações. O trabalho dos jornalistas da “Spotlight” não era novo. A forma de contar, sim.
Função jornalística
Não é de hoje que o jornalismo é narrado pelo cinema — seja como forma de poder, em “Cidadão Kane”; manipulação, como em “Rede de Intrigas”; ou da forma prática, como em “Todos os Homens do Presidente“, que trata do escândalo de Watergate, ocorrido em Washington, em 1972. Com este último, aliás, “Spotlight” tem sido comparado. Procurado por Imprensa, o editor-geral do Boston Globe, Walter Robinson — interpretado por Michael Keaton no filme —, compartilhou algumas de suas reflexões em relação ao jornalismo com base no que viveu entre 2001 e 2003.
Chefe do grupo “Spotlight”, setor especializado em jornalismo investigativo do jornal e responsável pela reportagem, Robinson defende a existência de equipes específicas dentro das redações. Para ele, essa é a forma de manter os profissionais totalmente concentrados na pauta. “A equipe fica mais focada se não precisar desviar suas atenções para editorias diárias”, comentou. Além da especificidade do trabalho, o editor acredita que o jornalista investigativo, por lidar com temas sensíveis, precisa de algumas características essenciais para conseguir ir a fundo dentro de uma apuração.
Apesar de defender o jornalismo sério e comprometido com a informação, Robinson refuta a hipótese dos jornalistas serem considerados pela sociedade como uma espécie de vigilantes. Usando as fontes do caso como exemplo, ele cita a importância em demonstrar o papel cívico da profissão. “Não somo vigilantes, somos repórteres. As fontes nos foram apresentadas e começaram a ter confiança para falar a partir do momento em que compreenderam o nosso comprometimento em denunciar tudo o que estava acontecendo”.
Serviço público
Quem também levou a estatueta por uma obra que denuncia situações de violência foi a jornalista paquistanesa-canadense Sharmeen Obaid-Chinoy. Ela Ela foi reconhecida pelo curta “A Girl in the River: The Price of Forgiveness” (“A garota no Rio: o preço do Perdão”, em tradução livre). O filme narra as mortes de meninas assassinadas pelos pais ou parentes em decorrência dos chamados “crimes de honra”. Após receber o prêmio, Sharmeen comentou a importância do reconhecimento. “O impacto da sua história é enorme, porque ele vai mudar vidas, e que vai salvar vidas, e não pode haver nenhuma recompensa maior do que isso”.
Em 2012, a cineasta também ganhou um Oscar por seu documentário “Saving Face”(“Salvando Rostos”, em tradução livre). O curta falava sobre as mulheres no Paquistão em busca de justiça depois depois de sofrerem ataques com ácido nos rostos.
*Informações do Portal IMPRENSA, Boston Globe e Diário da Manhã.