O escritor, jornalista, poeta e professor Sérgio Mattos, que também é diretor da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), vai lançar seu 49º livro no próximo dia 8 de outubro, das 17h às 21h, na Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Canela. Na posição de narrador e personagem de “Vida Privada no Contexto Público”, ele resgata a história da Bahia contemporânea, contextualizando o período de tempo compreendido entre 1948 e 2015.
Na obra de 648 páginas com ilustrações, Sérgio Mattos faz interpretações e análises de seus 50 anos de jornalismo e 40 anos de dedicação ao ensino universitário. Ao longo de sua história publicada pela Quarteto Editora, o autor lista pessoas e instituições com quem conviveu. Suas contribuições ao desenvolvimento da cultura, da educação superior e da imprensa baiana estão inseridas no contexto socioeconômico, cultural e político do país e da Bahia.
O livro conta a trajetória de seu pai, Sêo Zebinha, os avós paternos e maternos e sua mãe, Dona Helena. Em seguida, a infância em três etapas: Fortaleza, Recife e Salvador, quando descobre o mundo mágico da leitura. Ele narra a adolescência, que vai de 1963 a 1967, o início no jornalismo, os desafios e conquistas no exterior. Descobertas, sucessos e perdas também compõem essa autobiografia.
Morreu na madrugada desta quinta-feira (26) o escritor, jornalista e crítico literário Hélio Pólvora. A informação foi confirmada pelo presidente da Academia de Letras da Bahia, Aramis Ribeiro Costa. Expoente da literatura nacional, o autor, natural de Itabuna, região sul da Bahia, lutava contra um câncer de pulmão há mais de um ano e morreu em casa. “Ele morreu escrevendo. Um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Deixa um legado literário brasileiro importantíssimo. Nós perdemos uma glória da literatura nacional. Uma grande figura humana. Levou a vida toda trabalhando pela literatura e pela cultura. Um homem de inteligência e cultura fora do lugar. Foi uma perda irreparável para a cultura brasileira. Ele nunca parou de escrever”, disse Aramis Ribeiro Costa.
Para o poeta e integrante da Academia de Letras da Bahia, Luís Antônio Cajazeira Ramos, Hélio Pólvora é um dos contistas mais importantes da atualidade. “A Bahia perde a maior expressão das letras da atualidade. Sem dúvida, o maior contista, além de ser destacado como crítico, cronista, jornalista, editor e com uma longa militância na imprensa nacional. É o maior contista brasileiro da atualidade”.
Hélio Pólvora de Almeida nasceu em 1928, em Itabuna, na Bahia. Em 1953, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde morou por 30 anos. Nesse período, o escritor iniciou a carreira literária e atividade jornalística, que prosseguiram, depois de 1984, na Bahia (nas cidades de Itabuna, Ilhéus e Salvador). Eleito para a Cadeira 29 da Academia de Letras da Bahia, fez parte também da Academia de Letras do Brasil (sede em Brasília, DF), onde ocupa a cadeira 13, que tem como patrono Graciliano Ramos. Pertenceu ainda à Academia de Letras de Ilhéus. Hélio Pólvora atuava como cronista do jornal A Tarde há mais de oito anos.
Um dos principais eventos literários do país foi iniciado na noite desta quarta-feira (29), com um passeio sobre a vida de Dorival Caymmi. Pelo quarto ano, a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) une durante cinco dias – de 29 de outubro a 2 de novembro – festa e literatura, em uma mistura que movimenta o panorama cultural do recôncavo baiano. Quem vivenciou as três edições anteriores da Flica, viu, ouviu e sentiu emoções inesperadas, conviveu de perto com intelectuais ilustres de outras terras e nações, ao mesmo tempo com uma população entusiasmada, envolvida na Festa e no propósito de bem receber a todos.
E este ano não é diferente. Autores nacionais e internacionais participam de 12 mesas especiais, debates e circulam pela cidade em contato bem próximo com seus leitores. Nesta edição, uma das grandes novidades é que o evento passa a homenagear um autor e a primeira será a Yalorixá Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi. O saudoso escritor João Ubaldo Ribeiro, que participaria da festa, também será celebrado e lembrado com a mesa especial ‘Viva João Ubaldo Ribeiro’.
Na abertura realizada ontem, Stella Caymmi, neta e biógrafa do cantor e compositor baiano, e o escritor Marielson Carvalho, discutiram com bom humor momentos da história do músico, sob o tema “O tempo de Caymmi”. A homenageada, que conferiu a mesa de abertura do evento, foi convidada a falar sobre Caymmi. “Eu tenho muita saudade dele. Gosto. Você [Stella] herdou a simpatia dele, a simpatia, o jeito interessante de contar história. Torço por você sempre”, disse Mãe Stella.
Para hoje (30), segundo dia da Flica, estão previstas mesas sobre mercado e gêneros literários. Com a mesa “O país do compadrio”, a jornalista Consuelo Dieguez e o professor da Ufba Wilson Gomes vão discutir sobre os limites da camaradagem comum às famílias brasileiras. Às 15h, é a vez da segunda mesa do dia, cujo tema é “Bibliodiversos”. O debate trará a escritora baiana Kátia Borges e o autor catarinense Carlos Henrique Schroeder, que vão trocar experiências sobre a variedade dos gêneros e assuntos literários.
Já a programação musical começa às 22h, como grupo Transcendental, uma big band de jazz contemporâneo que mistura influências de filarmônicas e candomblé. Às 23h20 o ator Jackson Costa exibe sua arte na performance chamada “A coisa”, na qual interpreta poemas de várias épocas, acompanhado por uma banda de música popular contemporânea, formada por sintetizador, teclado, guitarra, violão, baixo e percussão.
Na manhã de sábado (1º), a mesa “A nobreza dos versos” terá a presença do poeta e jornalista Florisvaldo Mattos e do poeta Roberval Pereyr, com mediação do ator Jackson Costa.
Estrutura
O evento conta com três espaços distintos para abrigar sua programação: as mesas e encontros com autores acontecem no Claustro do Carmo; a Fliquinha – versão infantil da festa literária com lançamentos, oficinas e encontros com autores – está no novo cinema, o Cine-Teatro Cachoeirano. E na Praça da Aclamação, está o espaço especial para a programação musical.
A programação e os autores que estarão presentes no evento podem ser consultados através do site (www.flica.com.br), que também ganhou nova cara com a repaginação da marca do evento. As informações também são divulgadas nas redes sociais, nos perfis do Twitter (@flicaoficial) e do Facebook (FlicaOficial).
Autor de clássicos da literatura nacional, o escritor baiano João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro morreu aos 73 anos, no início da manhã desta sexta-feira (18), vítima de uma embolia pulmonar, em sua residência no Leblon (RJ). Aclamado internacionalmente como um dos maiores escritores de sua geração, João Ubaldo usava sua memória de uma lendária Itaparica (BA), terra onde nasceu, na construção de personagens tão triviais que parecem velhos conhecidos e imprimia em suas obras um humor de coisas simples, ao ponto de parecerem estranhas ao olhar urbanizado. Para os apreciadores desse talentoso contador de histórias, a partida de Ubaldo representa uma perda irreparável para o patrimônio literário da humanidade.
Com a despretensão de um observador em férias, que assiste e anota, João Ubaldo produziu livros como “Viva o Povo Brasileiro” e ‘Sargento Getúlio”, que constam da maior parte das listas dos cem melhores romances brasileiros do século. Coincidentemente, seu último romance, “O Albatroz Azul”, fala sobre vida, morte e renovação, em uma bela homenagem a Itaparica. Inclusive, João lutava ultimamente para não ver construída a ponte que pretende ligar Salvador à ilha pela qual sempre apaixonado.
Apesar de ser formado em Direito pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e possuir mestrado em Administração Pública e Ciência Política pela Universidade da Califórnia do Sul, João Ubaldo teve uma marcante passagem pelo Jornalismo e nunca chegou a advogar. Foi repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do Jornal da Bahia; colunista, editorialista e editor-chefe da Tribuna da Bahia, além de contribuir para jornais da Alemanha (“Diet Zeit”), Inglaterra (“The Times Literary Supplement”), Portugal (“Jornal de Letras”), São Paulo (“Folha de S. Paulo”) e Rio de Janeiro. Ele também era colunista do Jornal A Tarde, onde escrevia aos domingos, no Caderno 2+. A última coluna assinada por ele foi publicada no domingo, 13, com o título “Maus perdedores”.
Diversas instituições brasileiras que tiveram sua história marcada pela passagem do escritor divulgaram notas de pesar. Jornalistas, escritores, poetas e leitores de todo o país se manifestaram surpresos nas redes sociais com o falecimento de Ubaldo. A Associação Bahiana de Imprensa, da qual João Ubaldo era sócio desde 1980, lamentou a perda do escritor. Em sua página, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia também expressou pesar. “A Fundação Pedro Calmon lamenta a morte de João Ubaldo Ribeiro, uma perda imensa para literatura universal”.
Ao longo da carreira, João Ubaldo ganhou diversos prêmios literários, entre eles duas edições do Jabuti (1972 e 1984), como Melhor Autor e Melhor Romance do Ano; Prêmio Anna Seghers (Alemanha, 1996); Prêmio Die Blaue Brillenschlange (Suíça) e Prêmio Camões (1998). A convite do Instituto Alemão de Intercâmbio, ele passou um ano em Berlim, na década de 1990, e depois fixou residência no Rio de Janeiro, onde se casou com Berenice de Carvalho Ribeiro e teve dois filhos. Além deles, o escritor já possuía duas filhas do casamento anterior, com Mônica Maria Roters.
O poeta e jornalista baiano Florisvaldo Mattos, que também se formou em Direito mas optou pelo Jornalismo, tem de João as melhores recordações. “Ele era um grande amigo, homem de uma sensibilidade extraordinária. Eu acompanhei a construção de “Sargento Getúlio” e li o primeiro capítulo do romance desse que foi um escritor de alta ordem criativa. Ele teve uma bela passagem pelo jornalismo, onde foi um brilhante cronista. Com certeza, é uma grande perda para todos nós. Ele era um grande itaparicano e defendia a preservação da ilha e de seu patrimônio natural”. Mattos lembrou ainda que João tomou posse na Academia de Letras da Bahia (ALB) apenas no ano passado, depois de tantos anos como membro da Academia Brasileira de Letras, na qual ocupa a cadeira de número 34.
“Para onde vamos é sempre ontem”, diz um verso do escitor baiano Ruy Espinheira Filho, poeta da memória, que presidiu a comissão que concedeu a João Ubaldo Ribeiro o Prêmio Camões, na Portugal de 2008. “Perda imensa. João escreveu dizeres fundamentais, em meio a histórias e pessoas tão simples, com sonoridade nas palavras e equilíbrio na prosa. Tenho muito orgulho de ter trabalhado e convivido com ele”, contou Espinheira Filho, em um misto de surpresa e emoção.
O jornalista e professor de Literatura Celso Silva, que leciona para jovens com idades entre 15 a 18 anos, nas escolas de Salvador – além de atender ao público de cursinhos preparatórios para vestibulares -, destaca o caráter regional da obra de João Ubaldo, que exaltava a cultura e os costumes do Nordeste brasileiro. “Não há adjetivos, elogios e até hipérboles suficientes para definir a importância desse simples e grande João para a literatura baiana, brasileira e mundial. Ele sempre valorizou o negro, a mulher, o índio, o nordestino, o candomblé”.
Para Silva, o escritor deixou um importante legado. “Apesar de sua obra ser marcada pelo ponto de vista em relação a nossa cultura, não podemos esquecer que ele é respeitado internacionalmente. O mundo reconhece o talento de João Ubaldo. Quando ele escreveu “Sargento Getúlio”, o livro foi traduzido para o inglês. Mas, os tradutores não conseguiram traduzir as gírias nordestinas. Aí, o próprio João fez uma tradução tão perfeita que ganhou prêmio como tradutor nos Estados Unidos”, lembra. “O querido Ubaldo deixa obras como ‘Sargento Getúlio”, “O sorriso do lagarto” e a obra-prima “Viva o povo brasileiro”. Nesta última, ele narra 300 anos de história do Brasil, porém contada aos olhos do negro, do índio, de quem foi explorado. Ainda cria a heroína Maria da fé, uma mistura de negros, brancos, índios, europeus, a mistura que nos formou. Maria da fé: fé de esperança e Maria por representar todas as mulheres deste país. Se não fosse Maria, seria José ou João. Viva o povo brasileiro. Viva João Ubaldo Ribeiro”, completa o professor.