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Jornalista é espancado por bandidos no Complexo do Alemão (RJ) e entidades reagem

Doze anos após o assassinato bárbaro do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, outro profissional da imprensa foi vítima de traficantes do Complexo do Alemão enquanto fazia uma reportagem. Henrique Soares, do site G1, foi agredido nesta segunda-feira (10) por bandidos na comunidade Nova Brasília, enquanto fazia uma reportagem sobre falta de moradias e invasões. Henrique, que levou vários pontos na cabeça por conta das coronhadas, foi libertado pelos criminosos com a chegada de militares da UPP. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJRJ), a Associação Brasileira de Imprensa, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram em nota a agressão contra o repórter e exigem justiça.

Soares foi vítima de agressões praticadas por homens armados enquanto apurava dados sobre o déficit habitacional na Avenida Itaoca, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro (RJ), onde ocorria uma operação policial. Depois de ser confundido com um policial a paisana, o jornalista foi sequestrado e levado para dentro do galpão de uma antiga fábrica invadida por moradores. Durante 40 minutos, ficou refém dos traficantes, foi espancado com um pedaço de pau e levou coronhada na cabeça. Ele foi libertado após a aproximação de PMs e dos apelos de representantes da associação de moradores do local.

Foto-Bruno Itan- Coletivo Alemão
Complexo do Alemão visto a partir do teleférico – Foto: Bruno Itan/Coletivo Alemão

O jornalista recebeu pronto atendimento médico, levado inicialmente para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e depois para um hospital particular. Ele também registrou queixa na polícia, onde identificou um de seus agressores, de acordo com a 45ª Delegacia de Polícia (Complexo do Alemão). O suspeito Robson Corrêa Barreto, de 20 anos, foi preso em flagrante pelos crimes de sequestro e cárcere privado qualificado, lesão corporal grave e furto qualificado. As investigações continuavam em andamento para tentar identificar outros três homens.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) repudiou em nota as agressões “por entender que atos de violência dessa natureza afrontam o livro exercício da atividade jornalística e ofendem o Direito Constitucional de manter a população informada sobre casos de interesse público”. A entidade ressaltou ainda a gravidade do episódio, tendo em vista que ocorreu em uma área sob controle das autoridades policiais. “A ABI espera que o Governo do Estado apure a violência cometida contra o jornalista, identificando e punindo os culpados, além de restabelecer a ordem a que a população tem direito de acordo com a Lei”, assina o presidente Domingos Meirelles.

O Sindicato dos Jornalistas do Rio disse que verificará se foram observadas as 16 recomendações de segurança elaborada pelo Ministério Público do Trabalho. “O Sindicato exige apuração rigorosa das circunstâncias do crime, com a identificação e responsabilização criminal dos agressores”, acrescentou. O caso será levado hoje para audiência pública, da Escola de Magistratura, para debater a segurança dos jornalistas.

O presidente da Fenaj, Celso Schröder, expressou solidariedade ao jornalista e cobrou providências na apuração do crime e das empresas na garantia de segurança aos profissionais. “Nós temos alertado constantemente sobre a crescente violência contra jornalistas no Brasil. Felizmente, ao que soubemos, Henrique está se recuperando bem, mas o caso poderia ter uma gravidade maior. É imprescindível que os governos promovam políticas públicas que assegurem o direito ao exercício profissional do jornalismo e a adoção de um protocolo de segurança no qual as empresas garantam condições de trabalho aos profissionais em coberturas de risco”, afirmou.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também divulgou nota em que manifesta solidariedade ao repórter e cobra o esclarecimento do caso. “A Abraji considera fundamental que os responsáveis por tal brutalidade sejam rapidamente identificados e punidos de acordo com o que a lei determina. É essencial, ainda, que o governo estadual tenha total transparência na apuração do caso”, diz o documento.

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, determinou empenho na identificação e prisão dos acusados. “A Secretaria de Segurança considera inadmissível qualquer ameaça à liberdade de imprensa”, diz nota enviada pelo órgão. “Pela gravidade, é preciso que haja um movimento forte de pressão política para exigir mais segurança do governo em garantir a liberdade de expressão que está sob ameaça”, alerta o cientista político e assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Maurício Santoro.

*Informações do G1, Portal Imprensa, O Dia.

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A pacificação do Rio, agora manchada por um estupro coletivo

DEU NO EL PAÍS*

As 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) instaladas desde dezembro de 2008 em várias favelas do Rio de Janeiro estão definitivamente no olho do furacão. Depois de vários casos de corrupção e violência desenfreada que já vinham manchando a imagem de diversas unidades, o contingente pacificador destacado na favela do Jacarezinho, uma área da zona norte do Rio outrora conhecida como Faixa de Gaza, é agora alvo de uma denúncia de estupro tendo como vítimas três jovens de baixa renda, uma delas menor de idade. Segundo as vítimas, o crime foi cometido na madrugada de terça-feira por quatro agentes que já estão sob prisão preventiva e que serão julgados por tribunais da Polícia Militar. Dessa maneira, o mesmo projeto que surgiu sob a aprovação quase unânime dos principais especialistas em segurança pública enfrenta hoje uma crescente resistência por parte de um setor nada desdenhável das favelas ocupadas, e a nova denúncia solapa ainda mais a sua credibilidade.

“É um incidente muito grave, que demonstra que a relação entre a polícia e essas comunidades está muito longe do objetivo inicial do projeto das UPPs”, opina o sociólogo Ignacio Cano, especialista na questão da violência. Diante da gravidade do fato, a Polícia Militar se apressou em emitir uma nota afirmando que “as medidas adotadas serão rigorosas, incluindo a prisão e a possível expulsão da instituição [dos autores do crime, uma vez que se confirme sua culpa]. O comando da PM lamenta o episódio e repudia esse crime bárbaro, ressaltando que não coincide em nada com o comportamento que se espera de um policial”, conclui a nota.

“É uma reação positiva, já que se abre a possibilidade de uma investigação, algo que não tem sido frequente na Polícia Militar. Isso é fundamental para que se acredite no sistema e para que as pessoas continuem denunciando esses crimes”, comenta Cano.

Já a socióloga Jacqueline Pitanguy, coordenadora-executiva da ONG Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação (Cepia), afirma que “quando quem comete esse delito é um agente do Estado, a mulher passa a ser triplamente vulnerável, já que é muito mais difícil que sua denúncia chegue a bom porto e, o mais preocupante, que ela não sofra represálias”.

A agressão relatada pelas vítimas, que já identificaram os agressores entre 60 agentes apresentados para reconhecimento, aconteceu a poucos metros de umas das vias ferroviárias que cruzam a favela do Jacarezinho. Ali costumam se reunir consumidores de crack, fazendo dessa zona uma das cracolândias mais conhecidos da zona norte carioca. As operações policiais e de agentes sociais são permanentes na região, embora até agora não tenham conseguido acabar com o acampamento improvisado de consumidores.

Segundo os primeiros relatos, uma patrulha de seis agentes se aproximou das jovens e as obrigou a irem até um local próximo, onde o estupro coletivo teria ocorrido. O Instituto Médico Legal (IML) do Rio submeteu as vítimas a perícia para determinar a autoria do crime. Os soldados Gabriel Machado Mantuano, Renato Ferreira Leite, Wellington de Cássio Costa Fonseca e Anderson Farias da Silva, todos com menos de três anos de serviço na Polícia Militar, encontram-se detidos no presídio militar de Benfica, no Rio do Janeiro. Só um deles confirmou o estupro.

O episódio põe sobre a mesa o debate a respeito da violência sexual, frequentemente ofuscado pelas notícias de tiroteios, homicídios e autos de resistência no Rio de Janeiro. Pitanguy acredita que “enquanto o tráfico de drogas imperava nas favelas atualmente ocupadas pelas UPPs, as mulheres estavam mais indefesas. Uma vítima de violência doméstica ou sexual dificilmente podia sair da comunidade e denunciar [o caso] à polícia”.

Segundo dados contabilizados no Dossiê Mulher, elaborado anualmente pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, o número de estupros no Estado vem crescendo exponencialmente desde 2008. Em 2012 (6.029 casos), 82,8 % das agressões sexuais tiveram como vítimas mulheres, a maioria entre 5 anos e 19 anos de idade, brancas ou pardas, e solteiras. De acordo com Cano, “não se sabe se esse aumento se deve ao fato de que as pessoas denunciam mais ou à ocorrência de mais estupros”.

Pitanguy acrescenta que “a partir do momento em que a violência sexual tem uma maior visibilidade pública e passa a ser um fenômeno descrito nas estatísticas criminais, já estamos diante de um avanço. O mais perigoso é quando é invisível, quando não é contabilizada e quando não há espaços para denúncia. Durante muitas décadas, no Brasil, essa era a situação”.

*Francho Barón para o El País (Edição Brasil)

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Às vésperas da Copa, imprensa internacional repercute protestos no Rio

Não é notícia que no Rio do Janeiro os principais indicadores de segurança tenham piorado de forma alarmante no último ano. Mas é notícia que os moradores das favelas, cansados de pagar a conta das intervenções policiais indiscriminadas contra as quadrilhas de traficantes e das populares balas perdidas, resolveram romper o silêncio. Uma imagem que vem sendo habitual nos últimos meses é a de grupos de moradores de diferentes favelas cariocas interrompendo o tráfego de ruas e avenidas, incendiando ônibus e veículos públicos, montando barricadas ou recebendo a polícia a pedradas.

As manifestações violentas ocorridas no Rio de Janeiro, na noite desta terça-feira, ganharam destaque na imprensa internacional, após moradores da favela do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, protestarem contra a morte do dançarino do programa Esquenta! (TV Globo), Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, 25 anos. Manifestantes atearam fogo em objetos, fazendo barricadas em alguns pontos das vias, e um homem morreu depois de ser baleado na cabeça. A estação do metrô nas proximidades da favela foi fechada.

A capa da versão online do britânico The Telegraph ressaltou que o protesto ocorreu no bairro turístico da zona sul carioca, que deverá receber centenas de milhares de turistas em menos de dois meses para a Copa do Mundo FIFA. “Milhares de torcedores ingleses são esperados no Rio, onde a equipe da Inglaterra ficará baseada durante a competição. Moradores disseram que estavam amedrontados após a base da polícia na favela, que abriga 10 mil pessoas, ter sido atacada”, disse o jornal.

Já o Wall Street Journal destacou o protesto no Rio e fez uma ligação com a série de incêndios a ônibus registrados em São Paulo na madrugada do dia 22. “As duas maiores cidades do Brasil foram atingidas por protestos na terça-feira. A morte de um dançarino profissional provocou um protesto violento em uma favela do Rio, com vista para as praias populares, e homens armados incendiaram quase três dezenas de ônibus em uma garagem na Região Metropolitana de São Paulo. Os incidentes ocorrem a menos de dois meses de o Brasil sediar Copa do Mundo de futebol e ressaltam as preocupações sobre a segurança durante o evento”, ressaltou a publicação.

De acordo com o jornal, tais protestos são comuns no Brasil. Disse ainda que a motivação “varia de briga de gangues até a falta de água que atinge a capital paulista”. A reportagem foi encerrada lembrando que um incêndio a ônibus terminou com a morte de uma menina de 6 anos, em São Luís (MA). Na ocasião, o protesto foi contra mortes no sistema prisional de Pedrinhas.

Bombeiros tentam conter o fogo provocado pelos manifestantes/ Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
Bombeiros tentam conter o fogo provocado pelos manifestantes/ Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

A morte de Douglas também foi destacada por agências internacionais como BBC e AFP, que fomentam veículos de imprensa do mundo todo. A rede britânica BBC falou da violência policial, ressaltando que “a Anistia Internacional aponta que cerca de 2 mil pessoas morrem a cada ano no Brasil como resultado da violência policial”.

À outra agência, a Associated Press, o morador da favela palco dos protestos nesta terça declarou que as ocupações policiais pelas Unidades de Polícia Pacificadoras são um fracasso. “Este esforço para pacificar as favelas é um fracasso, a violência policial só está substituindo o que os traficantes de drogas realizavam antes”, disse.

Já a Al Jazeera, do Catar, ressaltou o fato de uma favela “pacificada” ter sido palco de atos violentos. Ao contrário dos demais veículos que destacaram a chegada da Copa do Mundo, a Al Jazeera lembrou que a favela fica a poucos metros do local de eventos de natação das Olimpíadas de 2016.

Violência desmedida

Douglas foi visto à 1h de terça-feira (22) e o corpo foi encontrado horas depois, por volta das 10h, dentro de uma escola municipal, na favela, por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). A assessoria de imprensa do Comando de Polícia Pacificadora informou que a polícia foi chamada por moradores para retirar um corpo encontrado dentro da escola, que não tinha sinais de bala.

Mas, segundo a ONG Justiça Global e a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, com base em denúncia de moradores, a morte do rapaz foi consequência de espancamento, por policiais da UPP. A entidade destaca que o Rio registra mais de 500 mortos por mês, além dos milhares de desaparecimentos, provocados por uma violência desmedida.

A mãe do dançarino, Maria de Fátima da Silva, disse ter a convicção de que Douglas foi torturado e comparou a morte do filho, o dançarino DG, ao desaparecimento de Amarildo e disse que “UPPs são uma farsa”. Já o advogado Rodrigo Mondego disse que a família estranhou o fato de o corpo ter sido achado molhado, apesar de não ter chovido na região e da área não ter saída de água. “O rosto dele estava muito machucado, como se tivesse apanhado muito”.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML), segundo o Jornal da Globo,  aponta que o jovem morreu por causa de uma “hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax. Ação pérfuro-contundente”. A Polícia Civil confirmou que havia uma perfuração de tiro no corpo.

O comandante das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), coronel Frederico Caldas, disse que houve um tiroteio na comunidade por volta das 22h, mas não foi registrada nenhuma vítima. Segundo Caldas, além da investigação da Polícia Civil, a Polícia Militar abriu um processo para apurar o que ocorreu no dia do tiroteio. Pelo menos oito policiais da UPP do Pavão-Pavãozinho que participaram do tiroteio serão ouvidos tanto pela Polícia Civil quanto pela Polícia Militar.

O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse nesta quarta-feira, em coletiva à imprensa, que está acompanhando as investigações. Beltrame informou que não foi encontrada cápsula de bala próxima ao corpo do rapaz. Por isso, não há como fazer um confronto balístico com as armas dos dez policiais que participaram da operação na comunidade. Quatro deles já foram ouvidos na Delegacia de Homicídios e nenhum deles terá a arma apreendida.

Enquanto isso, as operações policiais continuam ocorrendo nas favelas do Rio, a menos de dois meses do início da Copa do Mundo. Nelas, registram-se mortos e feridos, mas raramente a polícia se responsabiliza por eles. Nem os cinco anos que decorreram desde o início do projeto pacificador das favelas cariocas e nem o incentivo que supõe que seria a celebração dos dois maiores eventos esportivos do planeta (Copa do Mundo e as Olimpíadas) serviram muito para evitar que a violência caísse definitivamente sobre o Rio de Janeiro.

*Com informações do El País (Edição Brasil), Terra Notícias, Zero Hora e Vitor Abdala (Agência Brasil/Tribuna da Bahia).

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ABI-Bahia lamenta morte de cinegrafista no Rio

Santiago Andrade teve morte cerebral declarada nesta segunda-feira/ Foto: Arquivo pessoal

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI-Bahia) manifesta apoio aos amigos e familiares do cinegrafista da Rede Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, que teve morte cerebral anunciada na manhã desta segunda-feira (10). Andrade estava internado desde a última quinta-feira (6), quando foi atingido na cabeça por um rojão, enquanto registrava a manifestação contra o aumento da passagem de ônibus no Rio.

“A ABI-Bahia solidariza-se com os companheiros da TV Bandeirantes pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, ao mesmo tempo em que se une às demais entidades representativas da imprensa brasileira para exigir das autoridades a punição dos responsáveis e a adoção de providências que coíbam a repetição de fatos tão lamentáveis”, afirmou Walter Pinheiro, presidente da entidade.

Leia mais: Entidades repudiam ataque a cinegrafista durante protesto e cobram mais segurança

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