A Associação Bahiana de Imprensa (ABI-Bahia) manifesta apoio aos amigos e familiares do cinegrafista da Rede Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, que teve morte cerebral anunciada na manhã desta segunda-feira (10). Andrade estava internado desde a última quinta-feira (6), quando foi atingido na cabeça por um rojão, enquanto registrava a manifestação contra o aumento da passagem de ônibus no Rio.
“A ABI-Bahia solidariza-se com os companheiros da TV Bandeirantes pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, ao mesmo tempo em que se une às demais entidades representativas da imprensa brasileira para exigir das autoridades a punição dos responsáveis e a adoção de providências que coíbam a repetição de fatos tão lamentáveis”, afirmou Walter Pinheiro, presidente da entidade.
Santiago Ilídio Andrade, que trabalha no Grupo Bandeirantes há cerca de dez anos, continuava internado no CTI do Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, até a noite de ontem (9), em estado muito grave. Ele está em coma induzido e respirando com a ajuda de aparelhos. O cinegrafista, de 49 anos, foi atingido na cabeça por um rojão durante um protesto ocorrido no Centro da cidade na quinta-feira (6) contra o aumento de passagens de ônibus. Entidades afirmam que ataque a cinegrafista não é uma situação isolada e cobraram mais segurança. O caso foi noticiado pela imprensa estrangeira, que destacou a preocupação com a segurança no país nas vésperas da Copa do Mundo.
Em 2013, 114 profissionais da imprensa foram feridos durante a cobertura de protestos. Desde o início de 2014, três profissionais de imprensa já sofreram ataques. Associações de jornalistas, colegas de trabalho e representantes dos direitos humanos cobraram providências rigorosas contra os culpados pela agressão ao cinegrafista, além de medidas que garantam a segurança dos profissionais que cobrem as manifestações.
Em nota divulgada nesta sexta (7), o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Fichel Davit, se manifestou sobre o ocorrido. “A ABI, que teve atuação destacada contra a ditadura militar nos anos 1964-1985, e, na qualidade de instituição devotada à defesa dos direitos humanos e liberdades públicas, deplora o comportamento dos agressores e exige a imediata apuração dos responsáveis pelos inadmissíveis ataques cujos alvos são frequentemente profissionais de imprensa no exercício de sua missão de informar a sociedade”.
A Federação Nacional dos Jornalistas protestou contra “mais um ato de barbárie” a um jornalista no exercício de seu trabalho. “Precisa ser repudiado e precisa ser punido. Exemplarmente punido. Não só entidades ligadas ao trabalho de comunicação, mas a sociedade brasileira como um todo e o estado brasileiro precisa reagir a essa crescente violência contra os jornalistas”, apontou Celso Schröder, Presidente da FENAJ.
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) enviou nota à imprensa em que condena a agressão ao cinegrafista. “Diante da gravidade do fato, que constitui um atentado à liberdade de imprensa, ao direito da população de ser livremente informada e ao cidadão de exercer sua profissão, a ANJ exige que os responsáveis pelo ataque sejam identificados e punidos com todo o rigor”, diz trecho da nota assinada pelo vice-presidente da ANJ e responsável pelo Comitê de Liberdade de Expressão, Francisco Mesquita Neto.
Em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), José Roberto Toledo, exigiu mais segurança para os profissionais de imprensa que cobrem as manifestações. “A gente espera que a gente deixe de virar notícia e volte a ser apenas o repórter que vai narrar os fatos. Mas para isso é necessário que as autoridades façam o serviço delas, que procurem, descubram e punam os responsáveis por essa violência”, diz Toledo, que também divulgou nota de repúdio no site da entidade.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) lamentou a agressão sofrida pelo cinegrafista e solicitou às autoridades que apurem o caso com rigor. A entidade ainda declarou que espera a adoção de novos métodos que assegurem o direito da população à manifestação pacífica e respeitem o trabalho dos profissionais de imprensa.
Para o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Furtado Coêlho, a agressão é uma ameaça à liberdade de imprensa. “Esta bomba atingiu um jornalista, mas agrediu em verdade a sociedade brasileira. O estado democrático brasileiro é que perde com esse tipo de agressão.”
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) também classificou o fato como uma ameaça à liberdade de imprensa. “O cidadão tem que ter a consciência que o ato de protesto, que é um ato democrático, deve ser algo que emancipe a sociedade e não a coloque em momentos de retrocesso.”
O “Wall Street Journal”, jornal de maior circulação nos Estados Unidos, afirmou que a violência ocorre em um momento de desaceleração da economia brasileira. Já a rede britânica “BBC” lembrou que, no ano passado, manifestações parecidas tornaram-se um movimento nacional contra a corrupção e os gastos excessivos com a Copa do Mundo.
Preso na manhã deste domingo (9), Fábio Raposo Barbosa, de 22 anos, admitiu ter repassado um artefato para outro manifestante pouco antes de o cinegrafista ser atingido durante protesto. No sábado (8), Fábio foi indiciado pela polícia como coautor dos crimes de explosão e tentativa de homicídio qualificado. Um segundo homem, suspeito de jogar o artefato, ainda estava sendo procurado pela polícia na manhã deste domingo.
A Polícia Civil está analisando as imagens do Comando Militar do Leste, da CET- Rio, da Supervia, da BBC, da TV Brasil e as do próprio Santiago para tentar identificar o rapaz. O delegado José Pedro Costa, diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital, pedirá também auxílio da DRCI para saber se há a possibilidade de investigar trocas de mensagens de Raposo através do Facebook e então chegar ao autor da deflagração do explosivo que atingiu o cinegrafista.
Informações do G1 (SP/RJ), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Abraji