ABI BAHIANA Notícias

Ameaças a jornalistas que cobriram caso Geovane preocupam a ABI

Preocupada com as intimidações sofridas por profissionais da imprensa que atuaram na cobertura do caso Geovane Mascarenhas de Santana (22), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) decidiu, em reunião de Diretoria na última quinta (21), pelo encaminhamento de um ofício ao governador do Estado da Bahia, em que a entidade pede imediatos esclarecimentos dos fatos.

Geovane foi sepultado no município de Serra Preta, microrregião de Feira de Santana (BA), no último domingo (24), após 22 dias do seu desaparecimento. De acordo com o jornal Correio*, os custos com o enterro foram pagos pela família, apesar de a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos ter oferecido ajuda. O corpo de Geovane foi encontrado esquartejado e queimado, tendo partes espalhadas por dois bairros de Salvador, em um dos mais brutais homicídios cometidos na capital nos últimos anos. Ele foi visto vivo pela última vez no dia 2 de agosto, após uma abordagem policial no bairro da Calçada, na qual foi agredido e colocado em uma viatura, conforme imagens registradas em um vídeo de segurança.

O crime é investigado em Salvador desde que o pai de Geovane, Jurandy Silva de Santana, iniciou sua peregrinação em busca do filho e procurou a polícia. No dia 3, as mãos e a cabeça foram localizadas em Campinas de Pirajá, o tronco e os membros em São Bartolomeu, no dia 5. Com a repercussão do caso, que ganhou destaque na mídia nacional desde o dia 13, as autoridades da área de segurança foram pressionadas a elucidar os fatos. A Justiça decretou a prisão temporária do subtenente Cláudio Bonfim Borges, comandante da guarnição, e dos soldados Jailson Gomes de Oliveira e Jesimiel da Silva Resende, lotados na Companhia de Rondas Especiais da Baía de Todos os Santos (Ronderp/BTS). recolhidos ao Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas. Eles também foram afastados das atividades realizadas na rua. O laudo aponta que o jovem não morreu à bala.

Ao longo das investigações, a imprensa local tem sido constantemente atacada e até o morador do imóvel onde as câmeras de segurança flagraram a abordagem realizada pelos policiais militares se disse ameaçado e preferiu mudar-se. De acordo com a nota oficial emitida pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) no dia 18 de agosto, um dos jornalistas recebeu solicitação para que se identificasse durante entrevista coletiva concedida pelas autoridades policiais, no dia 15 de agosto, e foi surpreendido com a declaração de que “é muito bom saber quem escreve sobre a gente”. O documento divulgado também pelo site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) afirma, ainda, que dois homens identificados como policiais militares ligaram para repórteres na redação do jornal Correio* e parabenizaram pela reportagem, mas alertaram que “todos deveriam ter muito cuidado porque a tropa está com sangue no olho”.

Para o Sinjorba, os jornalistas envolvidos na cobertura realizaram seu trabalho de forma ética e responsável e não existe qualquer justificativa para qualquer forma de insatisfação por parte de integrantes da PM, a menos que esses comunguem com atos que vêm sendo investigados e repudiados pela própria corporação. “O livre exercício do jornalismo é inerente à democracia brasileira e garantido pela Constituição do Brasil, cabendo às autoridades a garantia de segurança e o respeito à integridade física e moral dos profissionais de imprensa”.

A direção do Correio encaminhou ofício à Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia informando sobre os fatos ocorridos na redação e o Sinjorba denunciou através de e-mail enviado à Secretaria de Comunicação Social (Secom), que alegou que não havia denúncia formal àquela secretaria, nem por parte dos jornalistas, nem pela direção das empresas Correio* e A Tarde. O Sinjorba encaminhou alerta à Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), à Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) e à Federação de Jornalistas da América Latina e Caribe (Fepalc).

Ainda na reunião da última quinta-feira (21), a Associação Bahiana de Imprensa decidiu que o relato encaminhado ao governador também seria enviado para as demais entidades nacionais e internacionais de defesa da liberdade de imprensa, destacando-se a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Repórteres Sem Fronteiras (RSI), Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) e Comitê Internacional da Cruz Vermelha – Divisão de Imprensa.

No último dia 21, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também manifestou preocupação com ameaças sofridas pelos profissionais. A entidade considerou “inaceitáveis as tentativas de intimidação” e exortou o governo do Estado, a Secretaria de Segurança Pública e o comando da Polícia Militar da Bahia a apurarem e punirem os responsáveis. “A prática do jornalismo não pode ser alvo de qualquer cerceamento – especialmente o que vem por meio de violência. Ao tentar intimidar os jornalistas, tenta-se inibir o exercício do direito mais essencial de uma democracia: a liberdade de expressão”, diz trecho da nota divulgada.

Durante reunião ordinária do Conselho Estadual de Comunicação, a presidente do Sinjorba, Marjorie Moura, informou sobre as ameaças aos jornalistas. Está marcada para esta quinta-feira (28/8), às 15h, na sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP), uma reunião entre representantes do Sinjorba, ABI e Sinterp-Ba, o secretário de Segurança Pública Maurício Barbosa e o comandante da Polícia Militar Alfredo Castro, onde serão discutidas as intimidações aos jornalistas do Correio e outros problemas enfrentados pela categoria, como as agressões da PM durante as coberturas jornalísticas.

publicidade
publicidade
Notícias

Greve da PM e paralisações pressionam governo baiano

O Governo do Estado da Bahia está sendo pressionado por uma onda de greve e paralisações. A greve da Polícia Militar, decretada na noite de ontem (15) em Salvador, já afeta profundamente a rotina da população, que, em menos de 24h após o início do movimento, já experimenta a sensação de pânico. Tida pela ONU como uma das cidades mais violentas do mundo, Salvador segue sem policiamento. Além da tensão gerada pelo começo da inesperada greve da PM, os professores estaduais e a Polícia Civil se juntaram aos policiais militares por 24h e paralisaram as atividades nesta quarta (16). A falta de segurança também fez o efetivo da Guarda Municipal se recolher.

Categoria rejeitou proposta do governo estadual e deflagrou movimento grevista/ Foto: Ana Paulo Bispo-Metropress

O plano de reestruturação da Polícia Militar apresentado pelo Governo da Bahia na última quinta-feira (10) gerou insatisfação por parte dos policiais. Na segunda-feira (14), durante uma reunião com o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, e representantes de associações de policiais e bombeiros militares, o governo garantiu rever alguns pontos do plano lançado quase 10 meses após a instalação do grupo de trabalho formado para estudar a reestruturação da corporação. Mas, na assembleia realizada em um espaço de festas de Salvador nesta terça (15), a categoria rejeitou a proposta do governo e deflagrou o movimento de greve da Polícia Militar por tempo indeterminado.

Os participantes aguardaram o início do encontro desde as 15h. A decisão só ocorreu após as 19h30, depois de representantes de associações analisarem a proposta da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Entre os pontos divergentes do plano que montou reformas estrututurais, disciplinares, éticas e promocionais estão o plano de carreira, a isonomia salarial e o código de ética dos policiais.

O governo da Bahia, cercado pelo movimento de greve que atinge o estado, pediu envio de tropas da Força Nacional de Segurança para reforçar o policiamento durante a paralisação. Já a Prefeitura de Salvador convocou uma reunião com dirigentes de órgãos municipais para elaborar um plano de ação emergencial em função da paralisação.

O anúncio já motiva transtornos à população, que desde a noite de ontem convive com assaltos, saques e arrastões, além de boatos espalhados pelas redes sociais. Escolas e faculdades liberaram os alunos das aulas na noite desta terça e rodoviários prometem suspender a circulação de ônibus durante a noite. Assim, a capital baiana vive uma quarta-feira atípica, com menor número de carros e ônibus em circulação nas avenidas, aulas suspensas nas universidades e escolas da rede privada.

O supermercado Cesta do Povo, no Vale do Ogunjá, foi uma das lojas saqueadas na noite de ontem (15) /Foto: Reprodução BATV

A greve anunciada é a segunda paralisação da PM baiana em menos de três anos. Entre janeiro e fevereiro de 2012, a categoria paralisou as atividades por 12 dias e policiais chegaram a ocupar a Assembleia Legislativa. Na época, o Exército foi convocado a apoiar a segurança pública no Estado.

O principal líder da atual greve é o mesmo da paralisação de 2012: o presidente da Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), Marco Prisco, que, desde 2013, também é vereador em Salvador pelo PSDB e é pré-candidato a deputado estadual nas eleições deste ano.

Acordo descumprido

O secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, deu entrevista coletiva na noite desta terça-feira (15), após o início da greve da Polícia Militar, afirmando que assinou um documento em que o governo se comprometeu a cumprir várias medidas que foram discutidas com Marco Prisco em reunião antes da assembleia da categoria.

Documento assinado ontem entre o Governo e a representação dos PMs/ Foto: Reprodução Facebook

“Um documento foi assinado por mim, pelo comandante-geral e por um dos líderes das associações. Ficou decidido que estas propostas seriam assumidas pelo governo. Durante a deliberação da categoria, recebi uma ligação desta liderança, informando que estava tudo acertado para a aprovação do que havia sido acordado. Ainda assim, foi decretada a greve”, afirmou Barbosa.

O comandante-geral da Polícia Militar do Estado, coronel Alfredo Castro, afirmou que recebeu a decisão [de decretar a greve] com “surpresa”. “Todo caminho levava ao diálogo. Propostas foram apresentadas, tudo conduzindo para não acontecer”, afirmou, referindo-se à reunião que foi realizada na tarde de ontem.

O representante da Aspra, Marco Prisco, anunciou a proposta do governo da Bahia à massa de policiais e perguntou se eles aprovavam, sendo que a maioria respondeu que não. Ao iBahia, Prisco informou que os PMs ficam no Wet’n Wild até hoje (16), quando devem definir nova estratégia. Ele disse ainda que há uma orientação para que os policiais fiquem aquartelados no antigo parque aquático, numa manobra semelhante àquela realizada por ele há dois anos, na Assembleia Legislativa da Bahia. O governo terá que cumprir o que for negociado sob pena de um novo movimento paredista explodir nas proximidades da Copa do Mundo.

Reivindicações

A proposta do governo aos policiais contempla a separação do Corpo de Bombeiros do restante da corporação e aposentadoria aos 25 anos de serviço para policiais mulheres, duas reivindicações históricas da PM baiana. Os policiais rejeitaram a falta de um prazo máximo para progressão de carreira e a determinação de 120 dias sem salário em caso de suspensões administrativas.

Alguns pontos do “Plano de Modernização da PM”, que foi apresentado pelo governo na semana passada, foram alterados como contraproposta. Entre elas, ficaram acertados o aumento da CET (Condição Especial de Trabalho), que prevê reajuste de 25% no valor do soldo de policiais do administrativo; de 17% para 35% no valor de soldo para quem recebia o reajuste; e os motoristas, que tinham 35%, ficarão com 60%. O código de ética e dos processos disciplinares serão revisados. Sobre o plano de cargos e salários, além da equiparação salarial com a Polícia Civil, o governo se comprometeu a revisão destes tópicos e a abertura de progressões como quatro mil vagas de soldado para cabo, duas mil de cabo para sargento e 500 vagas de subtenente para sargento.

Segundo a Associação de Praças da Polícia Militar da Bahia (APPM-BA), tanto o soldado quanto o oficial têm que ter um tempo máximo nos postos de graduação. A categoria pede que seja definido um plano de carreira. A proposta do governo é que, após oito anos, o soldado passe a ser cabo e, depois de mais seis anos e meio, ele ascenda a 1º sargento. Hoje, um soldado passa 20 anos como soldado, sem ascenção. Depois, ele passa a ser sargento e se aposenta.

*Com informações do Bahia Notícias, Correio*, A Tarde e Folha de S. Paulo.

publicidade
publicidade