Artigos Blog das vidas

Jornalista baiano Renato Pinheiro morre aos 68 anos

Jorge Ramos *

O jornalista baiano Renato Pinheiro morreu nesta segunda-feira (12), aos 68 anos, vítima de um tumor cerebral. O humor refinado e permanente e um estilo afável de fazer e conservar amizades eram características da sua personalidade. Um dos jornalistas mais marcantes de sua geração, possuía uma memória privilegiada e era também um excelente “causeur”, sempre com uma história oportuna e engraçada, a que sua verve narrativa dava tons coloridos para encantamento de todos que o ouviam. Renato Pinheiro era um apaixonado torcedor do Esporte Clube Bahia e conhecia profundamente a história e a trajetória do “Tricolor de Aço”. Em 1988 foi de carro de Salvador a Porto Alegre assistir à final do Campeonato Brasileiro, contra o Internacional, quando o seu time do coração sagrou-se Campeão Brasileiro.

Profissionalmente Renato Pinheiro se destacou pela excelente qualidade do texto, pelo rigor e precisão das informações e também pelo tratamento respeitoso com suas fontes profissionais, que sabia cultivar de maneira responsável e mutuamente confiável.

Começou a vida profissional como repórter do jornal “Tribuna da Bahia”, ainda estudante de Jornalismo, na primeira metade da década de 70. Logo especializou-se na cobertura da área política, sendo por vários anos responsável pela cobertura das atividades da Assembleia Legislativa. Ganhou diversas vezes o prêmio “Destaque do Ano”, conferido aos repórteres que cobriam as atividades legislativas. Após um período no jornal “A Tarde” retornou à “Tribuna da Bahia” e ficou lotado na Editoria de Política onde foi um dos principais redatores da coluna “Raio Laser”, uma das mais prestigiadas do jornalismo baiano. Depois trabalhou por vários anos como repórter da sucursal baiana do jornal “O Globo”.

Trabalhou também como autônomo fazendo jornalismo empresarial. Nessa fase produzia e editorava “house organs” para muitas empresas, notadamente indústrias do Polo Petroquímico de Camaçari. Teve também uma vasta experiência em marketing político, tendo feito diversas campanhas eleitorais, na Bahia e em outros estados. Era casado com a também jornalista Luci Bruni e deixa três filhos, de dois casamentos anteriores.

*Jorge Ramos é jornalista e pesquisador. Atualmente integra a Diretoria da Associação Bahiana de Imprensa, ocupando o cargo de Diretor do Museu Casa de Ruy Barbosa.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Acervo do crítico de cinema Walter da Silveira está disponível na internet

Por Mari Leal

Já está no ar o acervo digital do crítico de cinema Walter da Silveira. Lançado na noite deste sábado (10), por meio de evento online transmitido a partir do canal da ABI no Youtube, o site pode ser acessado pelo endereço walterdasilveira.com.br. A plataforma reúne imagens de filmes e registros da vida do próprio Silveira, além de correspondências trocadas entre os anos de 1950 e 1966. Entre os interlocutores de Silveira estão os cineastas Glauber Rocha, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes.

O evento de lançamento contou com a presença de dirigentes da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), instituição que possui a salvaguarda do arquivo físico de Silveira, da equipe de produção, pesquisadores e familiares do crítico de cinema.

Jornalista e presidente da ABI, Ernesto Marques agradeceu à equipe envolvida no desenvolvimento do projeto e destacou a importância da iniciativa diante dos enfrentamentos vividos pelo País. “Agradecimentos a toda equipe e a quem nos prestigia, deixando de lado as más notícias que nos abalam, mas não destroem a fé que a gente tem. A fé e a esperança de que o Brasil dos nossos sonhos se constrói rejeitando o obscurantismo negacionista”.

Estendeu agradecimentos de forma especial aos familiares de Walter da Silveira, e também às famílias de Glauber Rocha, Alex Viany e Paulo Emílio Sales Gomes, que autorizaram a inclusão de alguns itens de seus arquivos no site.

“Esse grande baiano que foi e é sempre presente, Walter da Silveira. Nossa gratidão e o desejo de que esses acervos dialoguem tanto quanto eles dialogaram. À família de Walter, agradecimento profundo pelo desprendimento e confiança depositadas na ABI”. Marques aproveitou o espaço para convocar profissionais ligados à área cultural a contribuírem para a preservação da memória do cineasta.

“Faço um convite a todos os amantes do cinema e outras formas de expressão artística e cultural, aos produtores, realizados, pesquisadores para quem se somem a nós no esforço de salvaguardar o conjunto de preciosidades legadas por Walter da Silveira”.

Em um relato emocionado, Paulo Ivan da Silveira, neto de Walter da Silveira, contou como construiu a relação com o avô, mesmo tendo nascido 15 anos após seu falecimento, ocorrido em novembro de 1970.

“É uma noite de celebração. Uma noite de rememorar de onde nós viemos. Me conecto ao seu [de Walter da Silveira] humanismo e a sua intolerância com a mediocridade, com a mesquinharia. No fundo, é uma pessoa que puxa os nossos limites e nos convoca a sermos o melhor de nós mesmos. Essa voz dele ecoa em mim todo dia, no meu coração”. Ele afirmou ter “descoberto” o avô no teatro, ao ser escalado para interpretar Glauber Rocha. “Era como se eu tivesse fazendo uma conexão com meu avô”, descreveu Paulo Ivan.

A apresentação efetiva do site durante o evento foi feita pela produtora executiva do projeto, a cineasta Fabíola Aquino. “É um momento de imensa alegria elevar a memória de Walter da Silveira e todo seu legado”, destacou com entusiasmo.

Além das fotos e correspondências, a interface dispõe de uma linha do tempo, a qual detalha cronologicamente a vida e obra de Silveira, assim como uma área dedicada exclusivamente a depoimentos, com relatos de familiares e de personalidades importantes da história cinematográfica brasileira, a exemplo de Antonio Pitanga, Oscar Santana, Braga Neto, Roque Araújo e outros. Acessando o site o usuário dispõe também de um espaço de publicações, tanto de autoria do próprio Walter da Silveira quanto resultado de pesquisas a seu respeito, sendo possível o download de algumas destas. 

Coordenadora do projeto, a museóloga Renata Ramos, que também é responsável pelo Museu de Imprensa da ABI, foi enfática ao destacar a relação entre o lançamento do site e a preservação da memória de Walter da Silveira. Para ela, a “memória só é preservada quando a gente se apropria do documento e passa a conhecer, passa a valorizar. O trabalho desenvolvido pelo projeto, e que vai ter continuidade, é o mesmo que reconhecer e preservar a memória, não só de Walter, mas também de outros que estão inseridos no trabalho de Walter”.

A roda de conversa transmitida ao vivo também contou com a presença de Cyntia Nogueira, idealizadora do site e autora do livro Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil: críticas, artigos, cartas, documentos (Edufba); do historiador e pesquisador responsável, Adilson Mendes, e do pesquisador assistente, Mário Bezerra.

Participaram ainda o diretor de Cultura da ABI, Nelson Cadena; Daiane Silva, curadora da Diretoria de Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Dimas); Henrique Dantas, representante da Associação de Produtores e Cineastas da Bahia (APC), e o jornalista Claudio Leal.

O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), por meio do Programa Aldir Blanc Bahia, via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Debate sobre interfaces entre jornalismo e literatura encerra simpósio promovido por ALB e ABI

O que o jornalismo tem a ver com literatura, além do óbvio pertencimento de ambos ao campo das letras? O que literatura tem a ver com fatos, com realidades? Quais são os limites e as especificidades de um gênero e de outro? Com essas provocações, a premiada jornalista e escritora Suzana Varjão esquentou a mediação da mesa “Jornalismo e Literatura: Interfaces”, que encerrou o I Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura, na noite desta sexta-feira (9). O evento, realizado desde o dia 7 pela Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e pela Academia de Letras da Bahia (ALB), reuniu escritores, acadêmicos, pesquisadores, jornalistas e profissionais de diversos campos do conhecimento, dispostos a conversar sobre as confluências e aproximações entre o fazer jornalístico e a literatura.

O último debate do Simpósio foi protagonizado pelo escritor Antônio Torres, jornalista, membro da ALB e da Academia Brasileira de Letras (ABL), pela jornalista e escritora Aline D´Eça, autora do livro-reportagem Filhos do Cácere (Edufba), e pelo doutor em ciências da comunicação Edvaldo Pereira Lima.

Ernesto Marques, presidente da ABI, deu boas-vindas ao público, com uma reflexão sobre o momento atual vivido no Brasil. Ele falou da esperança de que o próximo simpósio realizado pelas entidades encontre outro ambiente. “Desejo que já não seja necessário fazer a exortação, a defesa da democracia, a nossa pregação contra o obscurantismo, feita reiteradamente pelo professor Ordep”, ressaltou. O jornalista também comentou sobre as dificuldades impostas pela pandemia, como a impossibilidade de realizar eventos presenciais. “Que possamos nos reunir no auditório, claro, sem prejuízo de ampliar essas páginas digitais e levar o conteúdo para quem, em outras partes do País ou do mundo, possa se interessar em participar. Esse evento tem nos proporcionado noites ricas de conteúdo e aprendizado”, avaliou.

Marques aproveitou para lembrar que neste sábado, 10, acontece o lançamento do Site Walter da Silveira, com transmissão ao vivo pelo Youtube da ABI. O espaço compartilha com o público uma parte consistente do acervo do militante político, professor, historiador, cineclubista, ensaísta, advogado e um dos mais importantes críticos de cinema brasileiro.

O presidente da ALB, professor Ordep Serra, agradeceu a presença do público e também reiterou a continuação da parceria com a ABI. “Estamos dispostos a fazer o segundo Simpósio e vamos ter outras iniciativas que vão consolidar nossa aliança”, garantiu. Para ele, o evento é uma oportunidade de pensar, de refletir, sobre aspectos importantes do ponto de vista social. “É uma alegria começarmos a terceira noite desse simpósio. Mais uma festa da inteligência, para interromper, nem que seja por um trecho da noite, a dor e a preocupação que acomete a todos nós, vítimas de um genocídio. Porque a pandemia já tomou, no Brasil, essa dimensão sinistra de um genocídio, realizado com absoluta crueldade por um governo federal que não se respeita”, criticou.

A mediadora Suzana Varjão, pesquisadora baiana e autora de cinco livros, disse da satisfação em assumir o papel de intermediar o intercâmbio de ideias, diante da qualidade da mesa composta por três intelectuais brasileiros. “Trata-se hoje de uma conversa sobre a palavra. O que significa dizer sobre um poderoso instrumento de construção de mundo. Sim, porque palavra é coisa muito séria. Afeta, legítima, gera realidades. Não obstante o ceticismo, ou mesmo inocência de alguns, palavras não são neutras, não são puras, não são acéticas. Carregam valores que são repassados para todo e qualquer sistema por mais operacional que seja”, situou.

“Vamos falar então sobre um lugar do jornalismo que eu poderia definir de uma maneira mais rudimentar como processo de coleta e investigação, análise e transmissão de informações. Vamos falar sobre o lugar da literatura, que se pode descrever de modo elementar como uso estético da linguagem, mas vamos falar também sobre lugares ou entrelugares, que são as interfaces”, provocou a jornalista. “Literatura é sinônimo de ficção? E jornalismo é sinônimo de relatório, de reprodução, reflexo?”, questionou.

Contando histórias

Membro da Academia de Letras da Bahia, onde ocupa a cadeira número 9, na sucessão a João Ubaldo Ribeiro, e da Academia Brasileira de Letras, o escritor Antônio Torres narrou a sua chegada ao jornalismo. O autor da trilogia formada por Essa Terra, O cachorro e o lobo e Pelo fundo da agulha, entre outras obras, iniciou a sua carreira como repórter do Jornal da Bahia, cujo fundador foi João Falcão. Como bom contador de histórias que é, Torres contou desde a sua primeira crônica publicada no Alagoinhas Jornal, que saía uma vez por mês no município baiano, até a sua transferência para o diário Última Hora, de São Paulo, tendo posteriormente atuado na área da publicidade.

“Jornalismo foi o meu caminho natural para a literatura. Estudava no ginásio em Alagoinhas e eu ousei pedir ao dono do jornal para publicar um artigo. Já era um começo via literatura, porque esse artigo era sobre o maior biógrafo de Monteiro Lobato, Edgard Cavalheiro, escrito no dia de sua morte, em 30 de junho de 1958”, relatou. A partir daquele momento, o dono do Alagoinhas Jornal lhe franqueou o espaço que lhe oportunizou conhecer e trabalhar no Jornal da Bahia, com nomes como Adroaldo Ribeiro Costa, Ariovaldo Mattos e João Carlos Teixeira Gomes, o Pena de Aço. “Ali eu começava a minha primeira faculdade de jornalismo e de literatura, já que em 1959 não existia faculdade de jornalismo”, lembrou.

Ele conta que encontrou dificuldade, devido ao seu estilo mais literário, para escrever segundo pedia o jornalismo diário. Até que um livro lhe ensinou a responder às famosas perguntas que compõem a primeira parte de uma notícia – O Quê? Quem? Quando? Onde? Por quê? e Como?. “Eu aprendi que você tem que responder isso para tudo”, brincou. Depois de um ano trabalhando no Última Hora, Torres foi convidado para trabalhar em publicidade. “Minha primeira escola foi o jornalismo, a segunda foi a publicidade. O jornalismo me ensinou a ver o mundo e a publicidade me ensinou a contar isso rapidinho. É a síntese da minha história”, conclui o escritor.

A jornalista e escritora Aline D´Eça trouxe sua experiência como autora de livro-reportagem, ao relatar o processo de construção de Filhos do Cárcere, uma obra que teve origem em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e que traz a perspectiva de filhos e filhas de mulheres encarceradas. A baiana de Nazaré das Farinhas refletiu sobre as relações entre jornalismo e literatura, suas diferenças e semelhanças, além de estabelecer paralelos com estudos da área da psicologia. A experiência com a reportagem que originou o livro despertou em Aline a vontade de deixar a carreira jornalística e estudar psicologia analítica. “O jornalismo literário tem muito a ver com a psicologia, porque se propõe a um mergulho na realidade, para retratá-la para aqueles que não conhecem”, explicou.

Ela recorreu aos ensinamentos do professor Edvaldo Pereira para dizer que o livro reportagem é, muitas vezes, fruto da inquietude do jornalista, que tem algo a dizer com profundidade, mas não encontra espaço para fazê-lo na imprensa cotidiana. “Apesar de eu não ter visto quase nada sobre jornalismo literário na faculdade, estudei por conta própria. O que a gente faz? Utiliza recursos como observação, descrição, narração, uso de símbolos e de metáforas, para tornar o texto mais atraente”. Aline ressalta que o jornalismo literário dá ao repórter a oportunidade de captar não só a realidade concreta dos fatos, mas também a realidade emocional das personagens envolvidas naquela história. “O jornalismo literário preenche o vazio de profundidade deixado pelo furo jornalístico, pela ânsia por notícias efêmeras”, analisou.

Embora não haja no jornalismo diário espaço físico para a publicação desse tipo de texto, Aline D’Eça defende que existe interesse dos leitores por algo que vai além do que chamou “fast-food jornalístico”. A autora destacou diferenças entre as atividades. “É possível ficcionar o jornalismo literário? Eu diria que é perigoso. Mas essa construção pode ter base numa apuração detalhada, entrevistas criteriosas, exaustivas, com bastante documentação. A partir daí a gente pode chegar próximo do real, recriar cenas e ambientes que estão por trás da notícia. O que não se pode em jornalismo é inventar. Colocar no texto algo que esteja distante do real. Isso não é jornalismo, é ficção”, advertiu.

Humanização de narrativas

Foi em busca da humanização dos relatos que Aline decidiu escrever o livro-reportagem. “Queria descrever os cheiros, as cores, as emoções, e não somente me ater aos números. Infelizmente estamos hoje vivendo uma realidade que os números nos assustam, mas não nos dá profundidade de todas as histórias por trás dos números”, disse, em referência à pandemia provocada pelo coronavírus. “O jornalismo literário busca preencher esse vazio de sensibilidade. E aqui está a diferença entre o jornalismo e a ficção. O jornalismo literário tem o estilo semelhante à literatura, mas traz histórias reais”, afirmou.

Autor de 17 livros, entre obras acadêmicas e livros direcionados ao grande público, o jornalista Edvaldo Pereira Lima também ressaltou a necessidade de humanizar as narrativas e estimular um mergulho mais profundo na realidade, levando a população a transformar a sua consciência, o seu nível de entendimento do real e de ação.

“Neste momento em que a ciência está trazendo comprovadamente novos modelos de compreensão da realidade e novos modelos que nos trazem os instrumentos de transformação da sociedade para melhor, é um dever da literatura e do jornalismo se reciclarem e acompanharem esse progresso”, indicou. Segundo ele, é preciso praticar a narrativa de profundidade, que traga a capacidade de alavancar e estimular a mudança de percepção do leitor. “Você faz isso usando instrumentos narrativos centrados essencialmente no ser humano, não contando as histórias só apoiadas nos números e nos relatórios abstratos sobre a realidade”, aconselhou.

“E qual é a arte narrativa que está à disposição da literatura e do jornalismo? Uma arte que tem instrumentos de percepção e de expressão comprovados ao longo de milênios em todas as culturas e que se adapta e se moderniza, na medida em que novos achados e novas descobertas vão aparecendo. É a arte de contar histórias. Todos nós aqui temos em comum o amor e a paixão por contar histórias”, afirmou o escritor.

Saiba como foi o Simpósio

Quem perdeu as discussões do I Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura, tem a oportunidade de assistir aos três dias de evento pelo Youtube da Academia de Letras da Bahia. A entidade, junto com a ABI, proporcionou uma noite memorável em defesa da democracia neste 7 de abril, Dia do Jornalista, durante a abertura do Simpósio. A primeira mesa discutiu os “Limites da liberdade de expressão e direitos hoje, no Brasil”, com as participações do jornalista, escritor, e ex-professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, Emiliano José, do professor-titular de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Muniz Sodré, e do professor-titular da Facom/UFBA, Wilson Gomes. A mediação ficou com a jornalista Jussara Maia, professora de Jornalismo do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Já a segunda noite do Simpósio, nesta quinta-feira (8), teve como destaque um debate profundo sobre os desafios e as mudanças ao longo da história do jornalismo cultural na Bahia e no Brasil. Com o tema “O espaço e conteúdos de cultura nos jornais, televisão, rádio e plataformas digitais”, os conferencistas Sérgio Mattos, Kátia Borges e Malu Fontes realizaram um apanhado no tempo, relatando experiências da época de graduação e refletindo sobre os novos rumos do setor. A mediação foi assumida pela jornalista Simone Ribeiro, diretora do departamento de Divulgação da ABI.

  • Assista aos debates do Simpósio nos links abaixo:

Mesa I – “Limites da liberdade de expressão e direitos hoje, no Brasil”

Mesa II – “O espaço e conteúdos de cultura nos jornais, televisão, rádio e plataformas digitais”

Mesa III – “Jornalista e Literatura: Interfaces”

publicidade
publicidade
ABI BAHIANA

Transformações no jornalismo cultural são destaque do I Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura

I’sis Almeida e Joseanne Guedes

A segunda noite do Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura, nesta quinta-feira (8), teve como destaque um debate profundo sobre os desafios e as mudanças ao longo da história do jornalismo cultural na Bahia e no Brasil. Com o tema “O espaço e conteúdos de cultura nos jornais, televisão, rádio e plataformas digitais”, os conferencistas Sérgio Mattos, Kátia Borges e Malu Fontes realizaram um apanhado no tempo, relatando experiências da época de graduação e refletindo sobre os novos rumos do setor. Com mediação de Simone Ribeiro, diretora do departamento de Divulgação da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), o evento online, fruto de parceria com a Academia de Letras da Bahia (ALB), atraiu profissionais experientes ligados à cultura, à comunicação e às artes literárias.

Já na abertura da mesa, o presidente da Academia de Letras da Bahia (ALB), Ordep Serra, parabenizou os 89 anos do poeta, professor e jornalista Florisvaldo Mattos, 2º vice-presidente da ABI. Ernesto Marques, presidente da Associação, acompanhou a saudação a “Flori”, como o chama carinhosamente, e adiantou que a Associação já planeja uma comemoração dos 90 anos de Florisvaldo Mattos.

Simone Ribeiro, no papel de interseção entre os convidados, iniciou sua fala recitando “Tecendo a manhã”, meta-poema lançado em 1966 por João Cabral de Melo Neto. Ela usou a obra cabralina, que reflete sobre a própria construção do trabalho, para trazer, segundo ela, “uma imagem de plenitude, de completude”. De acordo com Ribeiro, a vida de jornalista obedece a um ciclo. “A vida de redação não é para sempre. A gente passa por alguns ciclos e tem o espírito de comunhão, o espírito fraternal. Nossa atividade é feita em grupo”, refletiu. 

Em uma fala autorreferente, Ribeiro relatou sua trajetória no jornalismo cultural, onde acumulou vivências na cobertura diária e atuou também como editora do Caderno 2 do jornal A Tarde. A dirigente falou sobre as transformações nas dinâmicas da atividade, mudanças de consumo dos conteúdos e lamentou o desaparecimento dos cadernos culturais. “Eu fui testemunha dessas mudanças, algumas dolorosas e que atingiram em cheio um segmento tão glamourizado quanto discriminado que é o jornalismo cultural”, lembrou.

A jornalista acredita que o simpósio é uma oportunidade para repensar o futuro do segmento. “Meu consumo hoje é primordialmente pela internet. Temos novos hábitos. Por mais que a gente pense nesse tema de hoje e faça um recorte contemporâneo, precisamos olhar o passado e ver o que aconteceu, quais são as ferramentas de que a gente dispõe para reconstruir o jornalismo especializado”, introduziu a mediadora.

Crise?

Entrando no tema central do debate, o jornalismo cultural, o poeta, escritor e vice-presidente da assembleia geral da ABI, Sérgio Mattos, fez um panorama histórico extenso do campo, destacando a década de 50 como o período mais efervescente dos conteúdos de cultura em jornais, quando surgiu o formato de lead (abertura de textos) na imprensa, e ainda, a criação de suplementos culturais, como O Diário de SP e a Folha Ilustrada. Ele relembrou também que foi de 1950 em diante que surgiram as primeiras escolas de jornalismo do país. 

Segundo Mattos e autores aos quais o professor recorreu para explicar o histórico, o jornalismo cultural passa em tempos atuais por uma crise em função de alguns sintomas, entre os quais, citou ele: a concorrência das mídias digitais; a falta de especialização dos profissionais; a reprodução do modelo de notícias na realização de matérias relacionadas à cultura, além do fato de que o jornalismo passou a divulgar mais os eventos culturais do que cobri-los.

A proposição de Sérgio diante desse cenário, é “produzir novos estudos e debates, no sentido de se repensar o jornalismo cultural, a começar pela estrutura curricular dos cursos de jornalismo, responsáveis pela formação dos novos profissionais, que, além de dominar as técnicas jornalísticas, precisam dominar o gênero jornalístico sobre o qual vão escrever”, propôs. Outra sugestão é empreender esforços para maior preservação da memória cultural do país, “divulgando e analisando criticamente os produtos culturais”, completou. 

Malu Fontes, professora de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA, mestre e doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas, também colaboradora da Rádio Metrópole FM, registrou o quanto ainda hoje é apaixonada por jornalismo cultural. “Eu consumo muito jornalismo, falo disso com muito conforto. Sou uma consumidora que hoje, claro, admito, não sou incompetente a ponto de não reconhecer o que está acontecendo na área”, relatou. 

“Não tem como a gente dizer que isso – a cultura no jornalismo – não se esvaziou”, admitiu Fontes. A jornalista usou uma metáfora para se referir ao atual cenário do jornalismo cultural. “A coisa da cultura virou ‘pirulitinhos’ no jornalismo e no jornalismo local, tudo que se dá são pirulitos, é aquela coisinha pequenininha de ‘vai ter hoje um show, o livro tal, dicas de livro, estreou o filme’. Não tem aquele texto que você lê com prazer. O texto que me dá prazer é o que eu saio dele com curiosidade de ir para um outro lugar, porque ele me convida”. 

Potencialidades

A escritora, poeta, professora de jornalismo da Universidade Salvador e colunista do Correio* Kátia Borges, não vê de maneira negativa o universo do jornalismo cultural, apesar das mudanças de produção e de consumo. Segundo ela, o que existe é uma deficiência de formação crítica e uma cultura forte do cancelamento, “a cultura de ódio, além de uma timidez muito grande dos críticos às obras de arte”. Para explicar, ela usou o exemplo da grande polêmica em torno da recepção do livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, com mais de 100 mil exemplares vendidos no Brasil. De acordo com Borges, as críticas ocorrem com a ausência de argumentação. “Em vez de polêmicas sérias em torno do conteúdo do livro, ficaram no ‘gostei’, ‘não gostei’. Isso não é crítica. É opinião. E opinião todo mundo tem”, criticou.

“Estamos passando por uma renovação”, analisa. “Precisamos estudar os nossos veículos, para entender como essa cultura se deu lá atrás e como está hoje. Existe, claro, uma crise da crítica. Mas, essa é a nossa cultura, rápida, multifacetada, fugaz. Agora, dentro disso, temos o Suplemento Pernambuco, a Revista Quatro Cinco Um, o Jornal Rascunho, que vem trabalhando muito bem”, elogiou a professora. Segundo ela, as plataformas digitais abrem um campo “muito bom” para quem está trabalhando com cultura. “Talvez, a gente não tenha uma crítica tão contundente dentro dos jornais. Temos, por outro lado, podcasts incríveis, como citou Malu, muita cultura, muita gente fazendo um trabalho maravilhoso em jornalismo de cultura”, opinou.

Kátia Borges abordou sua experiência como jornalista de cultura e sua atuação na área acadêmica como pesquisadora e professora universitária. Assim como Simone Ribeiro, ela viveu os desafios da redação e viu as transformações da cobertura cultural na Bahia. Borges compartilhou com o público que interagia com a mesa dados originados em suas pesquisas na área. “É uma paixão na minha vida a história do jornalismo e da literatura na Bahia”, reconheceu. Para ela, há uma lacuna de pesquisa importante para se entender o jornalismo cultural na Bahia. “É uma transformação interessante, uma transição, quando o meio cultural para de ser chancelado pelos jornalistas”, indicou.

Nesta sexta-feira (9), acontece a terceira e última mesa do Simpósio, com mediação da jornalista e escritora Suzana Varjão. O tema “Jornalismo e Literatura: interfaces” será discutido pelo escritor Antônio Torres, jornalista, membro da ALB e da Academia Brasileira de Letras (ABL), pela jornalista e escritora Aline D´Eça e pelo doutor em ciências da comunicação Edvaldo Pereira Lima.

>> Relembre a mesa de abertura neste link

Serviço:

I Simpósio Baiano de Jornalismo e Literatura

Quando: 7, 8 e 9 de abril de 2021 das 18 às 20h 

Onde: Online, via YouTube da Academia de Letras da Bahia (ALB)

publicidade
publicidade