Apesar de o número de assassinatos de jornalistas no Brasil ter caído de oito em 2015 para dois em 2016, o total de casos de violência não-letal contra os profissionais da imprensa aumentou 62,26% em 2016, se comparado com o ano anterior. Os registros de agressões físicas, atentados, ataques, ameaças e intimidações passaram de 106 em 2015 para 172 em 2016. Pelo menos 261 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de violência não-letal. Os dados estão no relatório anual da ABERT(Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) sobre Violações à Liberdade de Expressão, lançado nesta terça-feira (21), em Brasília (DF).
O levantamento chama atenção para o perfil dos agressores. Os agentes públicos, que deveriam zelar pela segurança do cidadão, são os que mais ameaçam, intimidam e agridem profissionais da comunicação, mesmo quando identificados com o crachá de imprensa. Os manifestantes aparecem em seguida na lista de agressores. Os profissionais de TV, jornal e rádios são as maiores vítimas.
“Essa incompreensão dos agentes de segurança pública em relação ao real papel dos profissionais da imprensa talvez seja um dos mais graves problemas que devem ser enfrentados. A inclusão, nos treinamentos, sobre como tratar os profissionais e veículos de comunicação na cobertura de eventos públicos seria extremamente relevante e atenuaria os casos que estamos lamentavelmente relatando”, afirmou o presidente da ABERT, Paulo Tonet Camargo, em coletiva à imprensa.
Os números confirmam os estudos divulgados por entidades internacionais que atuam em defesa dos jornalistas. De acordo com análise dos últimos cinco anos, feita pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o Brasil ocupa um triste lugar de destaque no ranking dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo: é o 2º mais violento da América Latina, atrás apenas do México.
Apesar da redução no número de mortes de jornalistas em 2016, a Press Emblaim Campaign coloca o Brasil entre os 10 países mais perigosos do mundo para os jornalistas. O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) e a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) alertam para o aumento de outros tipos de violência contra profissionais da imprensa.
A frequência e a escalada das agressões preocupam a ABERT, que considera inaceitável a tentativa de impedir a atuação dos profissionais da comunicação na cobertura de fatos de interesse da sociedade. “Há uma dificuldade de compreensão do real papel da imprensa no estado democrático de direito. As empresas e os profissionais da comunicação não são os únicos prejudicados. A sociedade brasileira, como um todo, perde, pois deixa de ser informada. Além de infringir o direito constitucional de acesso à informação, qualquer ato de intimidação ou ataque ao trabalho jornalístico é uma ameaça à liberdade de imprensa e de expressão, um dos pilares da democracia”, afirmou Tonet.
A edição deste ano do Relatório ABERT compila os casos que aconteceram durante todo o ano de 2016, de janeiro a dezembro, e apresenta, ainda, dois capítulos tratados separadamente: os casos de violência contra a imprensa no período das Olimpíadas e a tragédia do voo da Chapecoense, considerada a pior do jornalismo brasileiro.
De acordo com o diretor-geral da ABERT, Luis Roberto Antonik, o relatório segue um padrão internacional de averiguação dos dados. “Seguimos um padrão rígido para fazer da ABERT uma referência no combate às violações à liberdade de expressão”, ressaltou Antonik.
Para acessar a versão online do Relatório Violações à Liberdade de Expressão 2016, clique aqui.
Fonte: ABERT