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Ato de desagravo à condenação de jornalista mobiliza entidades

Na manhã desta sexta-feira (16), jornalistas, professores, representantes de entidades de comunicação e estudantes se reuniram na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba), para o debate “Liberdade de Expressão”. O evento encerrou a Semana de Mobilização dos Jornalistas, promovida pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba), com um ato de desagravo ao jornalista Aguirre Talento, condenado por difamação em abril. O encontro discutiu o crescimento do número de processos contra pessoas físicas e não contra as empresas de comunicação, além da exposição dos profissionais a risco de prisão e pagamento de multas acima da capacidade financeira da categoria.

José Carlos Torves, representante da Fenaj; Susana Barbosa, diretora da Facom; Marjorie Moura, presidente do Sinjorba; e a senadora Lídice da Mata/ Foto: Bruna Castelo Branco (Labfoto)
José Carlos Torves, representante da Fenaj; Susana Barbosa, diretora da Facom; Marjorie Moura, presidente do Sinjorba; e a senadora Lídice da Mata/ Foto: Bruna Castelo Branco (Labfoto/Facom)

Desligado do jornal A Tarde em 2011, por suposta pressão de empresários do setor imobiliário, Aguirre Talento, que é atualmente repórter da Folha de S. Paulo, foi condenado pela 15ª Vara Criminal à prisão de seis meses e seis dias em regime aberto, convertida em prestação de serviços à comunidade, além do pagamento de 10 salários mínimos para reparação dos “danos causados” ao autor da ação. A decisão da Justiça baiana favoreceu ao empresário Humberto Riella Sobrinho, que alega haver informações falsas em reportagens sobre crimes ambientais publicadas no jornal A Tarde em dezembro de 2010. Recurso contra a sentença do dia de 22 de abril foi impetrado no Tribunal de Justiça da Bahia.

Diversas entidades já se manifestaram publicamente contra a condenação, em primeira instância, do jornalista. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia (Sinjorba), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Bahia (OAB-BA) divulgaram nota em defesa da liberdade de imprensa e demonstrando preocupação com processos movidos contra jornalistas no estado. A Ordem pediu, ainda, o cumprimento do Plano de Ação para Segurança de Jornalistas, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Agostinho Muniz destacou o empenho da ABI na defesa de Aguirre/ Foto: Debora Rezende
Agostinho Muniz destacou o empenho da ABI na defesa de Aguirre/ Foto: Debora Rezende

De acordo com o representante da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), Agostinho Muniz, a Assessoria Jurídica da entidade está acompanhando o caso e atuando na defesa de Aguirre Talento. O diretor orientou a sociedade e os representantes do segmento a comparecerem ao tribunal em solidariedade à Aguirre e aos demais profissionais alvos de processos judiciais.

Para o vice-presidente da ABI, Ernesto Marques, o Judiciário está sendo utilizado para praticar censura. “Há uma desproporção entre quem se enfrenta nesse processo: um jornalista contra megaempresários do setor imobiliário. A ABI está extremamente preocupada, mas não basta se pronunciar publicamente, é preciso ter opinião. Precisamos fazer essa conversa com as lideranças no Congresso Nacional e apresentar a proposta do jornalismo brasileiro para suprir a carência da lei de imprensa. Parece descabido que, tendo ao menos um jornalista em cada gabinete de deputado ou de senador, nós não consigamos ter força para fazer tramitar um projeto sob nosso ponto de vista. Prevalecerá sempre a vontade dos empresários da comunicação, que estão muito bem representados no congresso”.

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Segundo o diretor institucional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Carlos Torves, o uso de dispositivos legais para silenciar os jornalistas é um grave ataque ao direito à informação e à liberdade de imprensa. “Os profissionais estão inviabilizados. Há jornalistas respondendo a quase 30 processos. Precisamos de uma lei de imprensa para impedir que outros casos terminem como esse. A antiga foi cunhada no período da ditadura e deveria mesmo cair, mas não poderíamos ficar com esse vácuo de tantos anos”.

Foto: Lunaé Parracho
Aguirre Talento trabalhava no jornal A Tarde quando assinou reportagens sobre crimes ambientais/ Foto: Lunaé Parracho

Mediadora do debate, a diretora da Facom, Suzana Barbosa, demonstrou indignação com o tratamento dado ao processo que condenou o ex-aluno da instituição. “A Facom, enquanto entidade formadora de jornalistas, divulgou uma moção pública na qual externa sua preocupação com o caso, que envolve uma situação bem mais complexa: existem muitos outros casos que atentam contra a liberdade de imprensa e prejudicam a democracia. A Facom recebe esse evento porque acredita que o papel do jornalista é fundamental para assegurar a informação qualificada à sociedade”, afirma a professora.

“Nunca foi tão difícil ser jornalista neste país. Como se não bastassem as brigas pelo reconhecimento profissional, temos um problema ainda mais sério, que são as ações judiciais. Entramos com uma ação por denunciação caluniosa no ministérios públicos Estadual e Federal, porque essas ações atingem não apenas jornalistas, mas também servidores da área de meio ambiente que autuaram essas pessoas. O jornal A Tarde está acompanhando e o posicionamento correto é assumir que a empresa é responsável pela publicação. Quais são os caminhos? A sociedade precisa amparar os jornalistas”, conclama a presidente do Sinjorba, Marjorie Moura.

Segundo a dirigente, no vácuo da derrubada da Lei de Imprensa, em 2009, houve um crescimento preocupante no número de ações criminal e cível, com pedidos de indenizações que não correspondem à realidade econômica da categoria. “Estamos brigando para garantir, pelo menos, a opção do direito de resposta, no meio em que foi publicado, para a pessoa que se sentiu atingida moralmente. Caso não seja atendido, procure a via judicial, mas precisa haver esse preâmbulo”.

A moção ajuizada pelo sindicato aponta que foi ferido “o princípio da indivisibilidade da ação penal privada prevista no Código do Processo Penal, uma vez que o jornal A Tarde, veículo no qual foram circuladas as matérias jornalísticas objetos da queixa-crime, não foi acionado solidariamente com o autor das reportagens”. Segundo a entidade, os jornalistas Biaggio Talento, pai de Aguirre; Regina Bochichio; Patricia França; Vitor Rocha; Felipe Amorim e Valmar Fontes Hupsel Filho, também são réus de ações judiciais semelhantes, que também “não acatam o princípio da indivisibilidade da ação penal”. Na próxima semana o sindicato terá uma audiência com o Tribunal de Justiça da Bahia, onde será abordada a questão.

*Com informações do Bahia Notícias

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Equipe do Extra defende jornalista ameaçada após reportagem investigativa

Em mais um caso de ameaça contra a integridade física de jornalistas no Rio de Janeiro, a equipe de reportagem do diário carioca Extra foi intimidada enquanto cobria a operação da Polícia Federal relacionada a uma investigação de fraude que chega a R$ 15 milhões. Na edição de terça-feira (13), a primeira página do jornal estampou apenas uma manchete: “Janjão vai depor sobre ameaças”. A matéria informa sobre os desdobramentos das intimidações que o ex-assessor dos Correios, João Maurício Gomes da Silva, fez aos jornalistas do diário na última sexta-feira, 9, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A 32ª DP (Taquara) investiga o caso.

Equipe do Extra assinou a matéria da jornalista Flávia Junqueira, ameaçada por revelar esquema de corrupção nos Correios/ Foto: Reprodução-Capa Extra 13/05/14
Equipe do Extra assinou a matéria da jornalista Flávia Junqueira, ameaçada por revelar esquema de corrupção nos Correios/ Foto: Reprodução-Capa Extra 13/05/14

Após as ameaças, o jornal publicou na capa uma chamada para o prosseguimento da série de reportagens, desta vez assinada por todos os profissionais do Extra e do Expresso – repórteres, editores, fotógrafos, diagramadores e diretores dos jornais. “A reportagem de Flávia Junqueira, ameaçada por Janjão, é assinada por todos os profissionais do Extra, para lembrar que a luta contra a corrupção não é trabalho solitário de um repórter, mas dever de todo jornalista”, diz o texto da capa.

O carro do jornal – em que a jornalista Flávia Junqueira estava acompanhada pelo fotógrafo Fábio Guimarães e o motorista Bruno Guerra – foi seguido e abalroado duas vezes pelo veículo do suspeito, que chamou a repórter pelo nome, indicando a quem se destinava a ameaça. De acordo com o jornal, Janjão jogou o carro contra o veículo em que estavam a repórter Flávia Junqueira e o fotógrafo Fábio Guimarães. A colisão só foi evitada porque o motorista Bruno Guerra conseguiu desviar. Indiciado pela Polícia Federal por peculato em outubro passado, Janjão é apontado como parte do esquema de cirurgias superfaturadas para desvio de verba do plano de saúde de funcionários do Correios.

Desde agosto, a jornalista, que revelou com exclusividade as primeiras suspeitas sobre a atuação irregular do grupo, tem publicado diversas reportagens sobre as investigações. Na manhã da sexta-feira, a equipe cobria uma operação de busca e apreensão, realizada pela Polícia Federal na casa do acusado. O suspeito estacionou seu automóvel de modo a impedir a movimentação do carro de reportagem, mas o motorista do jornal conseguiu sair de lá e foi seguido.

Entidades cobram investigação

Em contato com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o diretor de redação do Extra, Octávio Guedes, enfatizou que a proposta uniu a equipe em defesa da ação jornalística. “Isso é uma resposta à violência sofrida, dizendo que nós vamos continuar fazendo jornalismo”. Ele afirma que o veículo vai adotar essa postura como procedimento padrão às suítes de matérias referentes a jornalistas agredidos. “Todo mundo que é tolerante ou justifica qualquer tipo de violência está sendo cúmplice de uma violência maior”, afirmou à Abraji. Em nota, a Abraji demonstrou preocupação com o episódio, e cobrou que seja garantida pelas autoridades a segurança da equipe. “Qualquer tipo de intimidação e violência contra profissionais da imprensa no cumprimento de sua função essencial de informar é um atentado direto à liberdade de expressão e à democracia”.

A Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) repudiou as ameaças e intimidações sofridas pela equipe. De acordo com o Portal dos Jornalistas, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) considerou o fato da maior gravidade e duplamente condenável: “Primeiro, porque é uma agressão, e segundo, porque há, claramente, uma intenção de constranger a jornalista, assustá-la para tentar influenciar na cobertura e evitar que informações cheguem aos leitores”.

O Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio também emitiu nota de repúdio e enviou ofícios ao Ministério da Justiça, secretarias da Comunicação Social e dos Direitos Humanos, Secretaria-Geral da Presidência da República, Governo do Estado do Rio, Secretaria de Segurança Pública e ministérios públicos estadual e federal, reivindicando providências imediatas para garantir uma investigação rigorosa do caso. “Esse é um ataque à sociedade. Nesse caso, o jornalista não é atingido apenas como cidadão, mas por cumprir um papel de defensor da população e seus direitos. Desde maio do ano passado, já são mais de 60 casos de jornalistas ameaçados no Rio”, ressaltou Paula Máiran, presidente da entidade.

*Informações de O Globo, Portal Comunique-se, Abraji e Portal dos Jornalistas.

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CPJ reprova condenações de jornalistas brasileiros

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), organização independente sediada em Nova York que trabalha pela liberdade de imprensa em todo o mundo, publicou uma nota nesta terça-feira (13) em que reprova a condenação dos jornalistas brasileiros Aguirre Talento e Ricardo Boechat, acusados ​​por difamação, e exorta as autoridades a reverter as decisões na apelação. A entidade também divulgou no último dia 6 um relatório especial onde ressalta a impunidade nos crimes cometidos contra profissionais da imprensa. No documento, o CPJ destaca a forma como políticos e poderosos empresários se aproveitam das leis de difamação e de privacidade para sufocar reportagens críticas.

Os jornalistas Aguirre Talento e Ricardo Boechat, acusados por difamação/ Reprodução
Os jornalistas Aguirre Talento e Ricardo Boechat, acusados por difamação/ Reprodução

“As condenações de Ricardo Boechat e Aguirre Talento enfatizam o que os juízes e legisladores regionais vêm dizendo há mais de uma década: a difamação deve ser um ilícito civil, e os jornalistas não devem ter medo de ir para a cadeia por suas reportagens”, disse Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ. “O Brasil tem, em sua maior parte, abandonado a difamação penal nos últimos anos. Os tribunais devem continuar nessa linha e derrubar essas condenações”.

Nas recomendações do relatório, o CPJ insta as autoridades brasileiras a expandir o programa de proteção nacional para defensores dos direitos humanos para incluir explicitamente os jornalistas sob a ameaça iminente; decretar reformas legais para a federalização dos crimes contra a liberdade de expressão; e desenvolver procedimentos e treinamento para as agências de aplicação da lei para garantir que os jornalistas possam cobrir as manifestações em torno da Copa do Mundo sem medo de ataques ou represálias.

Aguirre Talento, repórter da Sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, trabalhava no jornal A Tarde quando assinou reportagens sobre supostos crimes ambientais em 2010. O empresário Humberto Riella Sobrinho considerou-se difamado pelo texto do jornalista, que dizia que o Ministério Público havia pedido a prisão do empresário. A denúncia foi feita, mas não houve pedido de prisão. Em 28 de abril, o juiz, então, entendeu que Talento agiu “maldosamente” e condenou Talento a uma pena de prisão de seis meses, suspensa em favor de serviço comunitário e uma multa. A defesa recorreu sob a alegação de que o jornalista se limitou a narrar os fatos e não teve a intenção de difamar.

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Já Ricardo Boechat, apresentador do noticiário “Jornal da Band” na rede TV Bandeirantes, foi condenado sob a acusação de difamar o senador Roberto Requião (PMDB-PR) e sentenciado na última quinta-feira (8) a seis meses e 16 dias de prisão, pena que foi convertida em serviços comunitários. A Bandeirantes informou que vai recorrer da sentença.

As acusações tiveram origem em comentários de Boechat feitos em um programa de rádio em 2011 sobre uma entrevista do senador Roberto Requião a outro jornalista que perguntou ao senador sobre uma pensão vitalícia que ele teria recebido por sua antiga posição como governador. O senador ficou irritado e tentou apagar a entrevista. Mais tarde, Boechat em seu programa acusou Requião de corrupção e nepotismo, o que o senador negou. Requião, posteriormente, entrou com uma ação contra Boechat, acusando-o de difamação e danos a sua reputação.

Os dados do relatório da entidade internacional foram apresentados à presidente Dilma Rousseff antes de serem divulgados durante o 6º Fórum Liberdade de Imprensa em Brasília. Na quarta-feira (7), o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría, se reuniu com o presidente do Supremo Tribunal Federal de Justiça, Joaquim Barbosa. O ministro, que também preside o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) disse que “decisões de juízes de instâncias inferiores são, por vezes, irresponsáveis”. Ele afirmou que gostaria de exortar o órgão disciplinar do Poder Judiciário a evitar emitir decisões que enviariam uma mensagem assustadora à imprensa.

Ato de desagravo 

Diversas entidades se manifestaram publicamente contra a condenação, em primeira instância, do jornalista Aguirre Talento. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Bahia (OAB-BA) divulgaram nota em defesa da liberdade de imprensa e demonstrando preocupação com processos movidos contra jornalistas no estado. A Ordem pediu, ainda, o cumprimento do Plano de Ação para Segurança de Jornalistas, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Um ato de desagravo ao jornalista Aguirre Talento será realizado na manhã desta sexta-feira (16), na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), no campus de Ondina. O evento encerra a Semana de Mobilização dos Jornalistas, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba). A moção ajuizada pelo sindicato aponta que foi ferido “o princípio da indivisibilidade da ação penal privada prevista no Código do Processo Penal, uma vez que o jornal A Tarde, veículo no qual foram circuladas as matérias jornalísticas objetos da queixa-crime, não foi acionado solidariamente com o autor das reportagens”.

O debate “Liberdade de Expressão” começa às 9h30 e terá a participação da ex-corregedora do Conselho Nacional dos Jornalistas (CNJ) Eliana Calmon e do diretor institucional da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Carlos Torves, com mediação da diretora da Facom, a professora Suzana Barbosa. A exemplo de Aguirre, ex-aluno da instituição, processado por conta de matéria publicada no jornal A Tarde, o encontro discutirá o grande número de processos contra pessoas físicas e não contra as empresas de comunicação, além da exposição dos profissionais a risco de prisão e pagamento de multas acima da capacidade financeira da categoria.

*Informações do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), Observatório da Imprensa, Folha de S. Paulo e Bahia Notícias.

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Escassez de papel segue ameaçando imprensa venezuelana

A imprensa da Venezuela vive o seu pior momento. Como se não fossem suficientes os assassinatos, agressões a profissionais, censura, perseguição, a crise do papel coloca milhares de profissionais de mídia em risco e prejudica o papel da imprensa no país. O governo do presidente Nicolás Maduro praticamente impediu no último ano a entrega de divisas para importações avaliadas como “não prioritárias” e retardou as de produtos básicos, o que provocou desabastecimento. Com a iminente falta de papel para a veiculação de periódicos, o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) enviou um comunicado para o presidente, pedindo providências do governo para auxiliar as empresas de mídia.

Jornalistas protestam contra a falta de papel na Venezuela/Foto Juan Barreto - AFP
Jornalistas protestam contra a falta de papel na Venezuela/Foto Juan Barreto (AFP)

A escassez da matéria-prima já obrigou o fechamento de mais de dez impressos regionais, além dos que se limitaram às edições digitais ou reduziram o número de páginas. As denúncias ocorrem com maior frequência nos casos de jornais considerados críticos ao governo. No mês passado, importantes jornais como o El Nacional e El Nuevo País de Caracas, além do El Impulso de Barquisimeto receberam um empréstimo de 52 toneladas de papel enviados pela Associação Colombiana de Editores de Jornais e Meios Informativos (Andiarios).

De acordo com o Jornal de Notícias, a carta endereçada ao chefe de Estado venezuelano busca evidenciar os problemas atuais, “com a finalidade de solicitar a sua atenção sobre a enorme incerteza em que vivem os trabalhadores da imprensa escrita”. A associação entende que as autoridades devem agir para evitar uma eventual recessão na área. “Os nossos lugares de trabalho podem perder-se pelo efeito da crise em que se encontram as empresas para as quais prestamos serviço”.

Capa do El Universal informa redução de páginas/Reprodução
Capa do El Universal informa redução de páginas devido à escassez de papel/Reprodução

“É um fato notório (…) que, para continuar circulando, vários diários reduziram as suas páginas, mas a escassez de papel é cada dia mais crônica e ameaça a continuidade das operações”, afirma a nota, que ressalta que os jornais tradicionais que “empregam um número significativo de trabalhadores” podem ser os próximos a deixar de circular por conta da falta de papel. “O El Impulso, que tem 110 anos, o El Universal (105 anos) e o El Nacional (71 anos) empregam 284, 830 e 504 trabalhadores diretos, respectivamente”.

Sem a colaboração dos organismos adequados, o SNTP avalia que “esta crise tem piorado porque as empresas editoras não receberam, do órgão competente, as divisas (dólares) necessárias para importar o papel”. O sindicato acredita que a própria “constituição dispõe que o trabalho é um direito e que é dever do Estado fomentar o emprego”, e com o dever de respeitá-la, o estado deve atribuir “às empresas jornalísticas os recursos necessários para importar o papel e normalizar as atividades, preservar os postos de trabalho e os salários”.

Leia também: HRW pede interferência do Brasil para conter a repressão na Venezuela

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) também denunciou algumas das atitudes do governo venezuelano, as quais avalia como um ataque à liberdade de imprensa. “O governo continua apostando “no fechamento dos jornais, por meio da sutil medida de negar as divisas para que assim não possam importar papel e outros insumos que não são produzidos na Venezuela”, explicou Claudio Paolillo, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa.

Com a chegada de Chávez ao poder, vigora na Venezuela desde 2003 um sistema de controle cambial que impede a obtenção de moeda estrangeira na região, o que faz com que as companhias recorram ao governo para ter acesso aos dólares oficiais para as importações. Expondo a situação, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) acusou o governo venezuelano de continuar apostando em que se “fechem os jornais, mediante a sutil medida de negar-lhes as divisas para que assim não possam importar papel e outros produtos que não são produzidos no país”.

Liberdade de expressão na agenda da Unesco

Na última segunda-feira (5/4), o diário El Universal voltou a reduzir o número de suas páginas por conta da falta de papel. No dia seguinte, uma conferência de dois dias para celebrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, na sede da UNESCO, em Paris, terminou com uma declaração que destaca a contribuição da livre expressão para o desenvolvimento.

Fotógrafa cobre evento feminista no norte do Afeganistão/Foto: Fardin Waezi (UNAMA)
Fotógrafa cobre evento feminista no norte do Afeganistão/Foto: Fardin Waezi (UNAMA)

declaração aprovada pede que a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a mídia independente e o acesso à informação sejam totalmente integrados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que substituirão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) no próximo ano. O documento faz uma ligação das questões da expressão livre com a boa governança, que é uma das bases para o desenvolvimento.

O documento pede especificamente ao Grupo Aberto de Trabalho das Nações Unidas (OWG), o órgão que está preparando os ODS, para incluir a liberdade de expressão como parte de um objetivo da boa governança, como recomendado pelo Painel de Alto Nível das Nações Unidas de Pessoas Eminentes.

Mais de 300 participantes de quase 90 países estiveram presentes nas deliberações, incluindo várias delegações permanentes perante a UNESCO. Um total de 75 palestrantes tratou do tema “Liberdade de imprensa para um futuro melhor: formando a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015”.

*Informações de O Globo, Portal Imprensa e Organização das Nações Unidas (ONU)

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