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ABI reestrutura Museu de Imprensa e novo espaço será inaugurado em agosto

Em agosto deste ano, quando a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) completa 90 anos, a instituição presenteará a sociedade com a reinauguração do Museu de Imprensa, um lugar para reviver e contar todos os dias a história da imprensa da Bahia. O equipamento cultural fundado pela ABI há 43 anos passou por reestruturação completa e conquistou um Laboratório de Conservação e Restauro. Após quase uma década sem área de exposição, uma mostra está sendo montada para marcar a reabertura do Museu, agora instalado no térreo do Edifício Ranulfo Oliveira, na Praça da Sé, Centro Histórico de Salvador. A reforma será finalizada neste mês e, em cerca de dois meses, o público poderá conferir o raro acervo da instituição.

A exposição de reabertura recebe a curadoria do jornalista e pesquisador Nelson Varón Cadena. Autor do livro “Cronologia da Associação Bahiana de Imprensa. 1930-1980”, ele assume agora o papel que em 1975 foi desempenhado pela museóloga Lygia Sampaio a convite da escritora, folclorista e jornalista Hildegardes Vianna. Coube a Hildegardes mobilizar e gerir as doações de acervo que possibilitaram a montagem do Museu inaugurado em 10 de setembro de 1976, durante a gestão de Afonso Maciel, 4º presidente da ABI (ver a galeria de ex-presidentes). A primeira exposição do Museu contou a história de jornalistas e dos fundadores da ABI.

Antigo Museu de Imprensa ocupava sala na sede da ABI | Foto: Arquivo

Para a mostra que marca os 90 anos da entidade, Cadena realizou pesquisa histórica, de imagens e textos, fez o planejamento e segue agora para a etapa de seleção das imagens definitivas e elaboração dos textos informativos dos painéis. “Já fiz muitas pesquisas na biblioteca e no arquivo da ABI e ter a oportunidade de fazer essa curadoria é uma forma de retribuir o conhecimento adquirido e poder compartilhar”, afirma o colombiano, residente no Brasil desde 1973 e autor de 10 livros com temática de história da mídia e história da Bahia. “O Museu é um equipamento cultural que não apenas preserva e resgata a memória da imprensa baiana como incentiva pesquisas, e atende a demandas de informação de estudantes, além de ser mais um espaço da cidade para visitação turística”, avalia.

Do prédio da ABI, é possível notar a diversidade do casario antigo e das edificações históricas da capital baiana. Não por acaso, o local tem um considerável fluxo de visitação de estudantes dos cursos de História e Arquitetura. O Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, foi projetado entre 1945 e 1951. É uma edificação de arquitetura moderna estilo Le Corbusier, com uma fachada de janelas contínuas, estruturas em pilotis, cobogós e um terraço com um painel de Mário Cravo Júnior. Quem explica é o arquiteto Augusto Ávila, responsável pelo projeto e pelo gerenciamento da reforma do Museu. “Pela história e características da edificação, o meu desafio foi fazer a menor intervenção possível, para não descaracterizar a arquitetura existente. Valorizei as paredes internas curvas mantendo-as revestidas e projetei uma textura especial nas colunas, valorizando-as como uma escultura”, destaca.

“Trabalhei com os elementos naturais, como madeira, granito, deixando um espaço minimalista e de transparência. Visto pelo pano de vidro no mezanino dando ampliação dos espaços, que se comunicam visualmente”, ressalta Ávila. Segundo ele, a reestruturação do Museu de Imprensa contribui para o processo de revitalização e manutenção do conjunto histórico, cultural e urbanístico da região. As intervenções do novo museu estão em fase final, com previsão para término em junho. Ávila também comandou, entre 2008 e 2011, a reforma do Ranulfo, estabelecendo um padrão moderno e confortável nos espaços da instituição.

SONHO ANTIGO

Walter Pinheiro, presidente da ABI

“O Museu de Imprensa é um velho sonho, além de ser um compromisso com aqueles profissionais que integram a imprensa e, sobretudo, com a comunidade baiana”, comemora Walter Pinheiro, presidente da ABI. “É grande a consciência sobre a importância que tem o Museu para reunir acervos sobre a imprensa, sejam os equipamentos que fizeram história nesses 210 anos de imprensa na Bahia, aqueles que integraram o setor e que deram suas vidas para a defesa da liberdade de imprensa, para a implantação dos avanços na área da comunicação”, reflete Pinheiro. “Não poderia ter uma casa melhor para abrigar esses acervos do que a própria ABI. Deixamos de incluir a área térrea do prédio na receita de aluguéis para que pudéssemos implantar neste espaço nobre o Museu”, conta.

“Me sinto muito feliz que esse equipamento tão valioso possa ser reinaugurado na nossa gestão, chamando mais ainda para junto de nós os integrantes da cultura, do jornalismo, da imprensa, da comunicação na Bahia”, afirma o presidente. Ele revela estar ansioso para a conclusão da reforma, realizada com recursos da própria entidade. “Muito nos orgulha podermos fazer algo digno de toda a importância que a imprensa tem, e que faz justiça ao papel que a ABI traduz, ao defender os interesses da comunicação em geral”, diz. O dirigente destaca a preocupação da entidade com a preservação do Centro Histórico de Salvador. “Exercemos um papel de sentinelas, estamos sempre alertando e municiando os órgãos de imprensa sobre os problemas do entorno, das carências e maus tratos com o nosso valioso patrimônio cultural”, pontua.

Renata Ramos | Foto: ABI

Responsável, há pouco mais de quatro anos, pelo Museu de Imprensa e pelo Laboratório de Conservação e Restauro da instituição, a museóloga Renata Ramos fala sobre a importância de cultivar a memória. “O Museu é relevante para a preservação da história dos jornalistas baianos e da imprensa, para realçar o papel do museu em nosso universo cultural, resgatar e reconhecer o Patrimônio Material e Imaterial da sociedade baiana, valorizando suas formas de fazer e viver a cultura”, defende. Para ela, que continua o legado da museóloga Lygia Sampaio, o grande diferencial do Museu de Imprensa é seu acervo composto por periódicos antigos e raros. Alguns documentos não são encontrados em outra instituição.

Ramos destaca que mesmo operando sem espaço físico exclusivo, o Museu estava em efervescência, realizando atividades no 2º andar do Edifício Ranulfo Oliveira, sede da ABI, e no auditório da entidade. Entre as ações desenvolvidas pelo aparelho nos últimos anos estão cursos em parceria com o ateliê Memória e Arte, oficinas de conservação, defesa de tese de mestrado e participação em temporadas culturais promovidas pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), como a Primavera dos Museus e a Semana Nacional de Museus. “Com a construção da sala de exposição, reserva técnica e laboratório, os documentos serão acondicionados adequadamente e as ações vão ter um fluxo e andamento mais eficazes”, avalia a museóloga.

Cipriano Barata retratado por Henrique Passos | Foto: ABI

A ABI possui livros raros e documentos históricos, um conjunto formado por coleções de revistas especializadas, jornais, fotografias, além das bibliotecas pessoais de jornalistas como Jorge CalmonJoão Falcão e Berbert de Castro. As obras são divididas entre o Museu de Imprensa e a Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon e procedem também do acervo de outros personagens centrais para a história da imprensa e do cinema baianos, como o cineasta Walter da Silveira. “Em 2012, a ABI recebeu da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia a doação do retrato do jornalista e político baiano Cipriano Barata (1762-1838)”, lembra o jornalista Luís Guilherme Pontes Tarares, diretor de Patrimônio da ABI.

O pesquisador integra o Grupo de Trabalho encarregado da reabertura do Museu, junto com Renata Ramos, Marilene Oliveira, Augusto Ávila, Nelson Cadena, Jorge Ramos, diretor de Cultura da entidade, Márcio Müller, superintendente da ABI, e Ernesto Marques, vice-presidente da ABI. Há um ano, Luís Guilherme presenteou o Museu de Imprensa com um aparelho radiofônico que pertenceu à sua avó materna, Antônia Serra Pontes.

Luís Guilherme Pontes Tavares, Nelson Cadena e Jorge Ramos, durante doação de rádio para o Museu

PRESERVAÇÃO

Ao lado da técnica em restauro Marilene Oliveira, Renata Ramos realiza todas as intervenções referentes à conservação, restauração e tratamento arquivístico da rara documentação sob a tutela da ABI. E isso inclui o material que compõe o acervo da Biblioteca de Comunicação Jorge Calmon, gerida pela bibliotecária da ABI, Valésia Oliveira. Renata explica que, até chegar às prateleiras e expositores, os documentos passam por três etapas: o diagnóstico, para verificar o estado de preservação dos arquivos; a higienização; e o restauro dos que forem necessários. Depois, as profissionais realizam o acondicionamento do material.

Restaurações ocorriam em laboratório improvisado na sede da ABI

Toda a documentação do Museu de Imprensa está em armários e estantes na sede da ABI, aguardando a transferência para as novas instalações do Museu de Imprensa. Renata atualizou o cadastro do equipamento no IBRAM, inventariou o acervo do museu e mantém atualizado o Formulário de Visitação Anual. Agora, a equipe prepara o material para a reinauguração do Museu. “Estamos finalizando a separação dos documentos para o fotógrafo, revisão e restauração do que necessita, organizando os objetos e documentos que farão parte da exposição. Todo o acervo de Berbert foi higienizado e o que precisava de reparos foi restaurado. Quase todo o acervo de fotografia de Walter da Silveira foi higienizado, 50% dos jornais e algumas revistas”, afirma Renata Ramos.

O jornalista Ernesto Marques, vice-presidente da ABI, ressalta o esforço da gestão de Walter Pinheiro no investimento necessário para a concretização do sonho de reabrir o museu e criar o Laboratório de Conservação e Restauro. Segundo ele, durante o tempo em que o Museu ficou fechado para visitação, a ABI se preparou técnica e financeiramente para voltar a dispor de uma área ampla, com iluminação natural e artificial para conforto de visitantes e segurança das obras originais. Mas, a entidade ainda tem um desafio pela frente. “Fizemos um grande esforço para reformar o espaço. Agora, precisamos de um conjunto de estantes deslizantes, mesa de higienização e máquina obturadora”, detalha.

De acordo com o diretor, a ABI continua em busca de parceiros e apoiadores “que se associem no esforço de preservação da memória da imprensa baiana, fonte de registros históricos sobre a Bahia desde 1811, quando surgiram as primeiras publicações, fundadoras da imprensa brasileira, como a Idade D’Ouro do Brazil (primeiro jornal editado/impresso no país) e As Variedades, nossa primeira revista”, reforça Marques.

Quer conhecer o interior do Museu de Imprensa? Faça um tour virtual pelo projeto:

“É um espaço compacto, traz conforto, bom fluxo, fácil manutenção com tubulações aparentes. O piso contínuo a base de epóxi permite adesivagens com programações visuais. O projeto tem ambientes de áudio, vídeo e interatividade (via wi-fi por meio de aplicativos em smartphones), multiusos: os painéis centrais são retráteis e ao recolher teremos um vão livre para outras apresentações, como lançamentos de livros e atividades afins.” (Augusto Ávila, arquiteto)

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ABI recebe exemplares do Correio da Chapada

Na manhã desta quinta-feira (5), a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) recebeu a doação de 13 edições do Correio da Chapada, jornal que circulou em cidades como Palmeiras, Lençóis, Itaberaba, Seabra, Abaíra, Rio de Contas, Mucugê, Piatã, Jussiape e região, entre os anos de 1989 a 2009. Os exemplares foram doados pelo fundador, o jornalista e escritor Renato Luís Bandeira, e farão parte do acervo do Museu de Imprensa da ABI.

Em seu primeiro editorial, datado de setembro de 1989, o impresso afirma que o seu principal objetivo era manter acesa a memória e a tradição local, enquanto, ao mesmo tempo, lutar pelo desenvolvimento da região. “O Correio da Chapada nasce a partir desta necessidade. Certo de que qualquer iniciativa do gênero deve ser embasada no conceito de informar sem a preocupação de trilhar os caminhos estabelecidos pelas tendências ou conveniências, procurando assim destorcer as notícias para agradar grupos”.

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Segundo Renato, as pessoas ficavam ávidas pelas matérias do Correio. “Além de política, abordávamos cultura, história e artigos com assuntos relacionados à Chapada Diamantina. Era o principal jornal artesanal da época”, explica.

O jornalista ainda destacou a importância da doação feita para a ABI. “Meu objetivo é tentar contribuir na preservação da imprensa do interior. Sem falar que nos exemplares contém artigos históricos que podem interessar estudantes e pesquisadores”.

O material será catalogado e, em breve, disponibilizado ao público.

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Assaltantes furtam parte do acervo da Casa de Ruy Barbosa, em Salvador

O Museu Casa de Ruy Barbosa, no Centro de Salvador, foi assaltado no último final de semana. Os criminosos levaram peças da instituição pertencente à Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e administrada através de um convênio firmado desde 1998 com o Centro Universitário UniRuy | Wyden (antiga Faculdade Ruy Barbosa).

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Museu de Imprensa da ABI exibe filmes para estudantes da rede pública de ensino

Como parte da 12ª Primavera dos Museus, promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o Museu de Imprensa da ABI vai exibir no dia 19/09 (quarta-feira) dois curtas-metragens para estudantes das redes municipal e estadual de ensino. Foram convidadas escolas situadas no Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador. As sessões serão realizadas na Sala de Exibição Roberto Pires, na sede da ABI (Praça da Sé).

Pela manhã, a partir das 9h, o Museu exibirá “A menina que odiava livros”, seguido de uma atividade relacionada ao Dia Internacional da Paz, celebrado anualmente no dia 21 de setembro. A partir das 14h, será a vez do filme “Balú”. Depois da exibição, haverá uma dinâmica com o Dado da Paz.

“A menina que odiava livros”(2006), curta-metragem realizado por Jo Meuris com base no livro homônimo de Manjusha Pawagi e Jeanne Franson, é uma obra de incentivo à leitura. Ele conta a saga de Meena, uma garota que odiava livros, mas vivia em uma casa cheia deles. Um dia, ao subir em uma enorme pilha de livros infantis para salvar o seu gato Max, derruba os livros. Abertos pela primeira vez, as páginas dos livros libertam as personagens e Meena mergulha no oceano da literatura.

Já o curta-metragem baiano “Balú” (2014) conta a história de um menino que tem como único amigo um cachorro vira-lata. Um dia, o cachorro desaparece misteriosamente. E em busca do amigo perdido, o menino vai embarcar numa grande aventura pelas ruas do seu próprio bairro. Com direção de Paula Gomes, o filme, que foi rodado totalmente em Plataforma, contou com a participação de crianças e jovens do local, tanto no elenco como na equipe técnica.

Educação – A cada edição da Primavera dos Museus, o Ibram lança um tema para fomentar as discussões e inspirar os eventos propostos pelos museus ou instituições culturais. Este ano o tema é Celebrando a Educação em Museus, que tem como embasamento o Caderno da Política Nacional de Educação Museal (PNEM), lançado no último mês de junho. A publicação aborda o processo de criação da PNEM, bem como os princípios e diretrizes dessa política, que visa nortear gestores, educadores e demais interessados na prática da educação museal. Para a entidade, os museus devem ser reconhecidos como espaços plurais, que propiciam vivências diversas e trocas constantes de conhecimentos e experiências e, nesse sentido, a educação permeia todos os seus cantos. Para saber mais sobre o tema, clique aqui.

Sinopses

A menina que odiava livros  “A Menina que Odiava Livros” é um curta-metragem que adapta o livro homônimo de Manjusha Pawagi e Jeanne Franson. Ele conta a história de Meena, uma garota que odiava livros, mas que não conseguia ficar longe deles, porque em sua casa eles estavam por toda parte: nos armários da cozinha, nas gavetas, nas mesas, nos guarda-roupas e nas cômodas. Estavam também sobre o sofá, alguns entulhados na banheira e outros empilhados nas cadeiras. Mas um dia o gatinho de Meena derrubou uma pilha enorme de livros infantis. Abertas pela primeira vez, as páginas dos livros libertaram os personagens e animais das histórias, que invadiram a sala, fazendo uma grande bagunça. Esse acontecimento mágico fez Meena viajar pelo fantástico mundo da literatura. Duração: 6’31”

Balú – O filme de Paula Gomes narra a história de um menino e seu melhor amigo, um cachorro vira-lata. Apesar disso, sua mãe não permite que o cão fique em casa. Um dia Balú desaparece misteriosamente. Em busca do amigo perdido, o menino vai descobrir o mundo à sua volta. Duração: 13’55”

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