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Impunidade aumenta violência contra imprensa, diz ONU

Mais de 800 jornalistas foram assassinados, durante a última década, por cumprir a sua tarefa de informar ao público. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 10% destes crimes levaram a condenações. A impunidade encoraja os criminosos e ameaça os profissionais da imprensa.

O relator especial da ONU para a liberdade de expressão, David Kaye, emitiu, no início deste mês, um comunicado aos países para que tomem medidas de proteção que garantam a segurança dos trabalhadores da comunicação. “Os ataques a jornalistas e as ameaças a sua segurança têm várias formas: atentados a sua integridade física, interferência na confidencialidade de suas fontes e acosso mediante vigilância, para citar apenas algumas”, disse.

Kaye ressaltou que a proteção contra estas ameaças é fundamental para que os jornalistas possam fazer seu trabalho, mas também para que a sociedade tenha acesso à informação e para que os governos prestem contas de suas ações. O relator considerou particularmente preocupantes as crescentes ameaças à segurança digital dos jornalistas, posta à prova com bloqueios de páginas da internet e leis que proíbem ou limitem a codificação de mensagens.

De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas, 52 profissionais dos meios de comunicação foram assassinados este ano e, na maioria dos casos, os governos não tomaram as medidas para responsabilizar os criminosos.

Brasil em nono lugar na lista de impunidade

O Brasil figura em 9º lugar na lista de impunidade do comitê, com 15 jornalistas assassinados com absoluta impunidade na última década. Entre os avanços atribuídos ao Brasil está a condenação de suspeitos em seis casos de assassinatos nos últimos 3 anos, mais do que qualquer outro país em que houve registro de mortes de jornalistas. No entanto, o Brasil perdeu duas posições no ranking da impunidade devido a novos casos de assassinatos.

De acordo com a organização Repórteres Sem Fronteiras (Reporters Sans Frontieres – RSF), com quatro jornalistas mortos este ano, o Brasil é o quarto país do mundo com mais mortes desses profissionais em 2016, ficando atrás do México, que contabiliza 12 mortes, da Síria (7 mortes), do Iêmen (5 mortes) e empatado com o Iraque (4 mortes).

Segundo dados da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), entre maio de 2013 e setembro de 2016, foram contabilizados 300 casos de agressões a jornalistas durante a cobertura de manifestações. Policiais, guardas municipais, guardas legislativos e seguranças privados foram responsáveis por 224 violações.

Em 18 de dezembro de 2013, a Assembleia Geral da ONU aprovou a primeira resolução relativa à segurança dos jornalistas e à impunidade, condenando todo tipo de ataques contra os trabalhadores dos meios de comunicação e proclamando o dia 2 de novembro como o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas.

Fonte: Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Justiça condena à prisão jornalista que denunciou crimes ambientais em Salvador

A 15ª Vara Criminal de Salvador condenou o jornalista Aguirre Talento, atual repórter da sucursal de Brasília da revista IstoÉ, a seis meses e seis dias de prisão, em regime aberto, por difamação ao empresário André Luiz Duarte Teixeira. Além disso, o profissional deverá pagar multa de R$ 293. A defesa de Talento considerou o processo como “uma clara tentativa de intimidar a atividade jornalística” e vai recorrer da decisão.

Em reportagem, publicada em 2010 pelo jornal A Tarde, Aguirre Talento relatou a acusação do Ministério Público por supostos delitos ambientais na construção do Parque Tecnológico da Bahia, em Salvador. Na ocasião, os promotores denunciaram os donos e diretores da empresa Patrimonial Saraíba e o então secretário de Ciência e Tecnologia da Bahia, Ildes Ferreira.

Leia também: Justiça da Bahia absolve jornalista acusado de difamar empresário

No texto, o repórter noticiou, erroneamente, que a denúncia era acompanhada de um pedido de prisão dos empresários André Teixeira, Humberto Riella Sobrinho e Carlos Seabra Suarez, que moveram queixas-crime contra Talento. Ao julgar a ação de André Teixeira, o juiz Antônio Silva Pereira considerou “censurável” a conduta de Aguirre Talento, e afirmou que “as consequências [da reportagem] foram danosas, visto que o querelante teve a sua honra maculada”.

“O fato do jornalista querelado tomar conhecimento de uma ação penal interposta não lhe dá o direito de publicar ‘maldosamente’ que o Ministério Público pediu a prisão do querelante”, afirmou. Com isso, ele condenou por difamação com pena aumentada em um terço pelo fato de o crime ter sido cometido por meio que facilite sua divulgação (artigo 141, III, Código Penal).

Perseguição à imprensa

O advogado de Aguirre Talento, Edil Muniz Junior, disse à ConJur que a condenação de seu cliente foi “um absurdo”. Segundo ele, o juiz não demonstrou que o jornalista agiu com intenção de empresário. Muniz Junior conta que o jornalista só publicou a informação por não ter conhecimento jurídico. “Ele achou que o pedido de condenação dos acusados à prisão, que consta da denúncia, fosse um pedido de prisão”.

O advogado também criticou a postura de Teixeira e de seus companheiros da Patrimonial Saraíba. A seu ver, eles tentam “reprimir o trabalho da imprensa baiana” ao mover queixas-crime contra repórteres em vez de entrar com ações de indenização contra os veículos que publicaram as reportagens.

Embargos de declaração

A defesa de Talento opôs embargos de declaração (clique aqui) contra a sentença. Neles, Muniz Junior diz que o réu teve seu direito de defesa cerceado, pois o juiz suprimiu a fase de diligências ao término da instrução e indeferiu depoimento de uma testemunha que não foi encontrada porque estava de férias.

Ele questiona, ainda, a nomeação de advogado dativo para Talento, mesmo sem inércia da defesa, algo que, segundo explicou, contraria o entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto. Em decorrência disso, o dativo, e não Muniz Junior, foi notificado de andamentos processuais, o que teria prejudicado o contraditório e a ampla defesa. Ao final da peça, o advogado requer que o julgamento seja refeito, levando em conta tal depoimento e as alegações finais do jornalista.

Ofensiva contra a imprensa

Jornalistas e veículos brasileiros vêm sofrendo derrotas nos tribunais que violam os princípios constitucionais de liberdade de imprensa e resguardo ao sigilo da fonte.

Em maio, ao proibir que o jornalista Marcelo Auler publicasse reportagens com “conteúdo capaz de ser interpretado como ofensivo” a um delegado federal, a juíza Vanessa Bassani, do Paraná, praticou censura prévia e contrariou entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto.

No início do ano, três repórteres, um infografista e um webdesigner da Gazeta do Povo, do Paraná, sofreram 41 processos em 19 cidades do estado por juízes e promotores que se sentiram ofendidos com a divulgação de reportagens que mostravam o pagamento de remuneração acima do teto do funcionalismo.

Em ação coordenada, todos os pedidos foram idênticos, pedindo direito de resposta e indenizações por danos morais, que somam R$ 1,3 milhão. De acordo com a Gazeta, os pedidos são sempre no teto do limite do juizado especial, de 40 salários mínimos. Como corre no juizado, a presença dos jornalistas em cada uma das audiências se torna obrigatória. As ações foram suspensas no Supremo pela ministra Rosa Weber — o mérito da ação ainda não foi julgado.

Diário da Região, de São José de Rio Preto, e seu jornalista Allan de Abreu tiveram seus sigilos telefônicos quebrados por ordem da 4ª Vara Federal da cidade. O objetivo era descobrir quem informou à imprensa detalhes de uma operação da Polícia Federal deflagrada em 2011. A decisão foi suspensa liminarmente pelo ministro Ricardo Lewandowski. A liminar foi cassada por Dias Toffoli e um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes suspendeu o julgamento da ação ajuizada pela Associação Nacional dos Jornais.

O jornalista Murilo Ramos, da revista Época, também teve seu sigilo telefônico quebrado, em decisão da juíza Pollyanna Kelly Alves, da 12ª Vara Federal de Brasília. A medida foi adotada para apurar quem passou à revista um relatório preliminar de pessoas suspeitas de manter dinheiro irregularmente no exterior.

Além disso, por ter publicado o valor do salário de um servidor público que atua como contador na Câmara Municipal de Corumbá (MS), Erik Silva, editor-chefe do site Folha MS, está sendo processado por calúnia, injúria e difamação. O jornalista nada mais fez que colher e interpretar dados que estavam disponíveis no Portal da Transparência. Assim, constatou que o profissional lotado no órgão Legislativo recebeu, em março, vencimentos de mais de R$ 45 mil — acima do teto permitido por lei, de R$ 33,7 mil, correspondente ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

*As informações são de Sérgio Rodas, para a Conjur, e da Folha de S. Paulo

Processo 0053399-43.2011.805.0001
Clique aqui para ler os embargos de declaração.

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Jornalista é processado após divulgar salário de funcionário público

O editor-chefe do site de notícias Folha MS, Érik Silva, está sendo processado após publicar uma reportagem na qual divulga o salário recebido neste ano por um funcionário público da Câmara de Corumbá, cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com a Bolívia. O contador Julio Cesar Bravo teria recebido, em março, o vencimento de R$ 45.769,87, valor correspondente a 52 salários mínimos, superando o teto do funcionalismo, de R$ 39.293,38, destinado a ministros do Supremo Tribunal Federal. Após a divulgação da reportagem, o Ministério Público Estadual abriu inquérito para averiguar possíveis irregularidades no pagamento de servidores da casa.

Além da reportagem no Folha MS, o jornalista compartilhou a notícia em sua página pessoal do Facebook, com o seguinte comentário: “52 SALÁRIOS em um único mês, um aposentado que é obrigado a sobreviver com apenas um por mês, levaria 4 anos e três meses para receber essa grana toda. Vamos lá, gente, paguem seus impostos porque a máquina não pode parar!!!”

No processo, a defesa de Bravo diz que o jornalista cometeu os crimes de injúria, calúnia e difamação, porque a reportagem teria “denegrido publicamente” a imagem do contador.

O jornalista conta que se sentiu surpreso ao ser intimado, já que a reportagem se baseou em informações públicas fornecidas pelo Portal da Transparência, site oficial do governo. “Foi uma tentativa de censura e intimidação. É nítido que, nas reportagens veiculadas, não foram usados termos pejorativos. Sequer foi mencionado o nome da pessoa que está me processando”, diz o editor.

Na opinião do advogado do jornalista, Artur Abelardo dos Santos Saldanha, as informações divulgadas no texto estão de acordo com os dados oficiais do governo e, portanto, “não há cabimento de processo”. “Esse processo, no meu entender, não vinga. Se [o dado divulgado] fosse uma invenção da cabeça dele [Érik], seria absurdo. Mas não, a informação está no Portal da Transparência. Quer dizer, um jornalista não pode divulgar uma informação dada por um órgão oficial? Isso é crime?”, diz. Após o término da ação, o advogado diz que pretende entrar com pedido de indenização por danos morais contra o contador.

No processo, Bravo afirma que, ao longo dos 14 anos em que atua como servidor público na Câmara, exerceu seu trabalho com “dedicação e esmero, sequer tirando férias, senão algumas indenizadas”.

Essa seria uma das possíveis explicações de o valor do salário ter chegado a R$ 45.769,87: destrinchando o montante, de acordo com o Portal da Transparência, o salário base do servidor é de R$ 8.244,59 e, em março, ele recebeu R$ 17.525,28 em gratificações e R$ 20.000,00 em férias, apesar de constar como “ativo” no mesmo período. Com os descontos, o servidor recebeu R$ 31.549,65 de salário líquido naquele mês. No entanto, em janeiro do mesmo ano, Bravo já havia recebido outro valor referente a férias – foram R$ 21.023,71.

OUTRO LADO

Procurado pela Folha e questionado a respeito do duplo pagamento referente a férias, o advogado de Bravo, José Carlos dos Santos, afirmou que não irá se manifestar até que a apuração do processo seja feita pela Justiça. A Câmara, via assessoria de imprensa, também não quis se pronunciar com relação aos pagamentos relativos ao período de férias.

O presidente da Câmara, Tadeu Vieira (PDT), afirmou em nota que os salários pagos aos servidores “correspondem às qualificações e trabalhos desempenhados, além de estarem de acordo com o duodécimo repassado pela prefeitura”.

*Texto de FERNANDA ATHAS para a Folha de S.Paulo

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Redes sociais e redações se unem contra notícias falsas na internet

Boatos espalhados em sites e aplicativos de mensagens colocam vidas em risco

Uma série de tweets ou um vídeo ao vivo no Facebook pode levar pessoas para a cena de um tiroteio, a explosão de uma bomba, um terremoto. Hoje, as primeiras imagens a emergir de um evento foram capturadas por uma testemunha; as injustiças que talvez nunca fossem relatadas tornam-se notícias globais porque um espectador pegou seu smartphone. A instantaneidade da informação na rede impõe novos desafios para profissionais da comunicação e da área da segurança, que alertam sobre os perigos da divulgação sem checagem. As redes sociais e redações de grandes veículos já começam a pensar formas de combater os chamados hoaxes (boatos de internet) maliciosos e as notícias falsas, publicados em formas cada vez mais convincentes e sofisticadas.

Vítima de um desses boatos, o motorista Valfredo Pereira de Souza, 39 anos, foi à 1ª Delegacia de Polícia (Barris) nesta terça (18), para dizer que não é o “maníaco da seringa”. No início do mês, o suspeito já havia atacado dois homens em Salvador. Na tarde de ontem, fez a terceira vítima. Ele atinge as vítimas com seringas supostamente contaminadas com doenças sexualmente transmissíveis.

De acordo com o Correio*, Valfredo contou que teve o seu perfil do Facebook invadido há meses e agora sua foto está sendo espalhada por meio do aplicativo Whatsapp junto com o alerta sobre o maníaco. “Tenho muito medo da reação das pessoas. Daqui que tente convencer de que não sou eu, já terei apanhando muito ou até ser morto”, declarou ao jornal. As autoridades policiais pedem que a população aguarde a divulgação do retrato-falado e não repasse imagens de suspeitos.

Da descoberta à verificação

Por que as pessoas compartilham notícias falsas? Para alguns, espalhar essas informações é uma brincadeira ou um trote para a era digital, por vezes até praticado pelos sites de sátiras de notícias. Para outros, é um esforço narcisista para acumular “likes” e seguidores. Outros veem oportunidade política ou comercial.

O jornalista Josh Stearns acredita que, entender esta questão pode ajudar a promover uma cobertura mais confiável. Ele é diretor associado do projeto First Draft Coalition, um projeto dedicado à melhoria dos padrões da comunicação e partilha de informação que emerge on-line, uma espécie de guia da descoberta à verificação.

fake-collageStearns explica que uma das hipóteses é que os boatos surgem para ajudar a preencher as lacunas de conhecimento e informação. Outra teoria aponta para o fato de que as pessoas querem para compartilhar não é a informação, mas o gatilho emocional. Então, a rede social seria o local de encontro entre esses dois elementos.

“Em face de uma tragédia, as pessoas querem dizer a seus seguidores o que está acontecendo, repassar informações importantes, compartilhar fotos que ajudam a adicionar contexto para o caos”, afirma. As mensagens são ainda acompanhadas de avisos, conselhos de segurança e chamadas específicas aos amigos e seguidores que possam ser afetados.

Golpistas virtuais (scammers) sabem disso e tiram vantagem do desejo das pessoas de ajudar em mídia social através de curtidas e ações. Por isso, ele alerta que uma corrida para compartilhar, sem verificar a legitimidade das informações, pode atrapalhar muito mais do que ajudar.

Combate

A boa notícia é que as redes sociais e redações globais começam a se articular para combater a desinformação online, através de coligações e recursos que checam a veracidade das notícias. Facebook e o Twitter, por exemplo, decidiram integrar a rede First Draft Coalition, que conta com a participação de mais de 30 empresas de tecnologia e mídia para tentar combater notícias falsas, entre elas o New York Times e Washington Post, além do BuzzFeed News, Agence France-Presse e CNN. A rede possui um código voluntário de práticas que promove a instrução sobre notícias dentro das redes sociais e prepara uma plataforma em que os usuários podem verificar histórias questionáveis.google-ferramenta1

O Google também lançou um recurso que verifica os dados das notícias classificando-as como verdadeiras ou não por meio do “Fact Check”. De acordo com o TechTudo, a ideia é que quem navegue pelo Google Notícias possa separar com mais facilidade informação de qualidade de boatos e notícias falsas. O mecanismo funcionará por meio de uma tag que criadores de conteúdo poderão aplicar às informações que liberam na Internet. Segundo o Google, haverá o monitoramento do uso do recurso para garantir que fontes falsas de informação não utilizem o “fact check” para enganar o leitor. Mas, o recurso de checagem do Google por enquanto só está disponível nos domínios news.google.com dos EUA e Reino Unido, mas poderá chegar ao Brasil em breve.

*Com informações do First Draft, Correio* e Portal IMPRENSA.

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